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O efeito Lula nas eleições 2022
Reportagem

O efeito Lula nas eleições 2022

Reingresso de Lula no cenário político promoveu corrida eleitoral antecipada. Para analistas e parlamentares, quadro se alterou, mas chances de nome alternativo à polarização não são descartadas
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LULA concedeu entrevista à revista francesa Paris Match (Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP)
Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP LULA concedeu entrevista à revista francesa Paris Match

Assinada na última segunda, 8, a decisão do ministro Edson Fachin que restituiu ao ex-presidente Lula seus direitos políticos teve um efeito imediato: bagunçar o cenário eleitoral de 2022. O retorno do petista ao tabuleiro reorganizou as peças da partida, segundo analistas, parlamentares e dirigentes ouvidos pelo O POVO nos últimos três dias.

As projeções para a disputa eleitoral do ano que vem são conflitantes. Vão de total descrença na possibilidade de uma candidatura de centro, a chamada terceira via, até a aposta em que, a partir de agora, a balança tende a pesar para o meio, de modo a favorecer um postulante que não se alinhe aos polos.

"Acho que se abriu, nos últimos dias, uma enorme avenida para o centro, porque nós vamos ter realmente uma polarização simbolizada pelo Bolsonaro, de um lado, e pelo Lula, de outro lado", afirma o senador Tasso Jereissati (PSDB) em conversa com O POVO.

Para o tucano, Lula e Jair Bolsonaro (sem partido), que deve tentar a reeleição, "representam esses polos, Bolsonaro pela direita e Lula, pela esquerda", cenário que, de acordo com ele, cria oportunidade "para que aqueles que não querem a extrema-esquerda e aqueles que não querem a extrema-direita possam encontrar um espaço".

Mas que espaço é esse e quem são seus representantes? "Eu, particularmente, colocaria os nomes do Ciro, o Mandetta, o Huck, o Dória e o Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul, filiado ao PSDB). São nomes de centro, cada um com seu estilo", defende o experiente político.

Tasso não é o único a enxergar caminho aberto para a coluna do meio. Ex-candidato à Presidência pelo Novo em 2018, o empresário João Amoêdo (Novo) assegura: "Não tenho dúvidas de que há espaço, sim, para uma candidatura longe do bolsopetismo, e é isso que mostram as pesquisas".

Ao O POVO, Amoêdo analisou o quadro após a entrada de Lula entre os potenciais concorrentes ao Planalto. "Uma recente pesquisa que vi, da Ideia Big Data, mostra que 48% das pessoas disseram não querer a reeleição de Bolsonaro e 46% não querem a volta de Lula para a Presidência. Está claro que existe uma avenida para uma terceira via", calcula.

Sem tocar em nomes que de quem imagina dirigindo nessa "larga avenida" que margeia Lula e Bolsonaro, Amoêdo entende que o "desafio será construir uma candidatura que signifique de fato a possibilidade de mudança, reformas e que tenha viabilidade eleitoral e capacidade de entrega, algo muito diferente do que temos hoje na gestão Bolsonaro".

Outro político que reforça a tese é Carlos Lupi, dirigente nacional do PDT do ex-presidenciável Ciro Gomes, também trabalhista. "A volta de Lula cria naturalmente uma polarização entre o atual desgoverno do profeta da ignorância e o governo anterior do Lula", concorda.

Lupi ressalva, porém: "As trocas de acusações e a política do ódio, que, na minha opinião, é rejeitada pela maioria do nosso povo, abrem um gigantesco espaço que troca este ódio por um projeto futuro baseado em uma aliança de centro-esquerda em torno do Ciro".

Há, no entanto, quem divirja da tese de que a polarização entre Lula e Bolsonaro pode beneficiar uma terceira candidatura. Ex-presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB) avalia: "Vai polarizar entre Lula e Bolsonaro, não tenho dúvida disso", continua Eunício, adversário do grupo dos Ferreira Gomes, do qual Ciro é liderança maior. "O Ciro virou pó, não adianta estrebuchar, xingar, falar mal do governo do PT".

O emedebista não fecha totalmente a porta para um nome de centro, contudo, e assume estar de acordo com Tasso: "Eu concordo com o ex-governador e senador Tasso Jereissati quando diz que pode até surgir, nessa radicalização, um nome".

Qual nome? Cientista político e professor da Faculdade Mackenzie (SP), Rodrigo Prando é reticente quanto às chances de uma terceira postulação de furar o cabo de guerra entre Lula e Bolsonaro.

"A entrada do Lula no jogo muda tudo. Para o bolsonarismo, seria ótimo ter os petistas, por causa da rejeição. Mas, para o Bolsonaro, o melhor seria ter Haddad, já derrotado por ele, e não o Lula", argumenta. "Para o Lula", prossegue o especialista, "certamente o melhor candidato é Bolsonaro".

Ao centro, Prando não tem boas notícias: "É um baque enorme. Considerando que o bolsonarismo tem 30% de apoio, como as pesquisas indicam até o momento, e o Lula também tem uma base de 30%, esses 40%, descontados os que não votam nem em um nem em outro, vão ter que se dividir num centro muito pulverizado".

A principal vítima dessa fragmentação, postula o estudioso, é Ciro: "Lula tem capacidade de atrair muito mais apoio da esquerda do que Ciro Gomes. O primeiro que sofre impacto negativo é o Ciro".

Para se viabilizar, portanto, o centro tem de se entender e começar a falar a mesma língua ainda no primeiro turno. Do contrário, prognostica o cientista político, o destino das siglas que tentam furar a polarização é se perderem no labirinto de uma torre de Babel.

Acompanhe análise sobre o efeito Lula no cenário eleitoral:

 

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