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A pandemia e os entraves para quem quer estudar ou trabalhar fora
Reportagem

A pandemia e os entraves para quem quer estudar ou trabalhar fora

Com ritmo lento na vacinação e na redução dos indicadores da Covid-19, de 'au pairs' a bolsistas de doutorados-sanduíche brasileiros têm sido barrados no Exterior
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Nesta terça-feira, 792.339 franceses receberam uma dose do imunizante (Foto: AFP)
Foto: AFP Nesta terça-feira, 792.339 franceses receberam uma dose do imunizante

Imagine que você passou anos sonhando em ser aprovado em um programa de graduação, mestrado ou doutorado no Exterior, estudou bastante, juntou toda a documentação e dinheiro para viajar e permanecer em outro país pelo período do curso e quase às vésperas de embarcar uma pandemia fecha fronteiras mundo afora!

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Ou que você é contratado para trabalhar em uma nação estrangeira e já com passaporte retido em um consulado se depara com a mesma realidade!?

Pois bem, essa é a realidade de mais de 1.600 pessoas que formaram a Frente Ampla dos Estudantes, Pesquisadores e Trabalhadores Brasileiros, que tem se articulado com autoridades do Brasil e de outros seis países - Dinamarca, Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália e França - para que trabalho e estudo sejam considerados "motivos essenciais" e assim sejam aceitos como justificativa para a liberação de entrada nos países europeus.

Uma dessas histórias é a de Reginaldo Rodrigues Dias, aprovado no Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação (MEC). O psicólogo e acadêmico quer aprofundar seus estudos sobre depressão na Universidade de Sorbonne - Paris XII - Nord e aguarda a concessão de um visto de estudo pelo governo da França, o que está suspenso por tempo indeterminado.



Lá como em outras nações europeias, o Brasil integra uma "lista vermelha" que reúne países com cepas mais agressivas do novo coronavírus, alta taxa de transmissão e de óbitos. "A gente espera que com a ampliação do processo de vacinação, isso possa culminar com a abertura da entrada de brasileiros na França também. Temos vários grupos trabalhando nesse sentido e eu continuo avançando na minha pesquisa com o objetivo de viajar dentro do prazo", afirma o doutorando.

Ele diz ter escolhido aquele país pela tradição na área teórica em que trabalha, "bastante desenvolvida na França". Reginaldo afirma que há muitas incertezas sobre se poderá mesmo viajar a tempo de não perder o curso. "Agora é buscar agilizar o mais rapidamente possível essa concessão de vistos nos consulados e embaixadas."

"A partir das primeiras dificuldades que foram surgindo, os grupos foram formados, inicialmente divididos por países ou universidades. Depois, o movimento foi se ampliando para tentar encaminhar o problema às instâncias responsáveis, desde a questão da viabilização da vacina, que é um dos principais pré-requisitos para estudar fora, até questões relacionadas à documentação e às relações internacionais, que vão além do aspecto da educação", relata.

Quem também aguarda para o mais brevemente possível a autorização para ir ao Exterior se aperfeiçoar é a jornalista Yohanna Pinheiro que foi aprovada em um programa de mestrado com especialização em Businness e Inovação, chamado "Mundus Journalism que congrega várias universidades entre elas a de Aarhus, na Dinamarca. "Sempre foi um grande sonho meu estudar fora, desde a época do colégio, mas só a partir de 2019 comecei a me aplicar", conta.

Diferentemente da França que já adotava restrições rígidas a pessoas vindas do Brasil há bastante tempo, a Dinamarca alterou recentemente sua legislação. Mesmo os brasileiros que já obtiveram permissão de residência, como ela, não podem entrar no país escandinavo. "É mais que um balde de água fria, é como se todos os meus planos tivessem sido levados", lamenta Yohanna.

A jornalista encerrou um contrato de trabalho de sete anos nessa semana e se preparava para passar uma boa temporada longe da família, de quem nunca havia se afastado por tanto tempo. "É uma virada de 180 graus. Então, desde que eu recebi o 'aceite' em março, todas as minhas decisões têm se pautado na ideia de que não estarei mais no Brasil a partir de setembro, da compra de roupas até a entrega do apartamento", resume.

Para não ficar presa à frustração ou a ansiedade por flexibilizações do governo dinamarquês, Yohanna começou a se engajar no mês passado em grupos de brasileiros que também foram barrados, inclusive em outros países, a maioria deles acadêmicos, mas também profissionais em busca de experiência no mercado europeu.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a pasta "vem fazendo o possível para alcançar solução satisfatória que atenda ao pleito dos estudantes" por meio das Embaixadas do Brasil em quatro dos seis países citados, dizendo não ter recebido demandas sobre Bélgica e Dinamarca.

Confira a nota na íntegra:

O Ministério das Relações Exteriores tem conhecimento da dificuldade de estudantes brasileiros em ingressar em outros países, para começar ou continuar seus cursos, em razão de restrições sanitárias de interesse coletivo decorrentes da pandemia de Covid-19 e da suspensão de processamento de vistos por representações consulares estrangeiras no Brasil.

Por meio de gestões realizadas pelas Embaixadas do Brasil na Alemanha, na Espanha, na França e na Itália, o Itamaraty vem fazendo o possível para alcançar solução satisfatória que atenda ao pleito dos estudantes e seguirá realizando contatos com autoridades competentes para que considerem a adoção de medidas alternativas que permitam a retomada da emissão de vistos a estudantes e acadêmicos brasileiros. Não há registro, até o momento, de pleito semelhante de estudantes que buscam iniciar cursos na Bélgica ou na Dinamarca.



 

Uniformização de exigências

Todas as vacinas da lista de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) devem ser consideradas para que um viajante possa ser reconhecido como imunizado, defendeu a instituição.

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