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Relatório suaviza para militares
Reportagem

Relatório suaviza para militares

| CPI DA COVID | Mesmo citados entre pedidos de indiciamento, militares foram poupados do relatório final. Braga Netto (Defesa) sequer depôs
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Embora tenha pedido indiciamento de 66 pessoas físicas e duas jurídicas, entre elas empresários, ministros e ex-ministros, secretários e ex-secretários, além do líder do governo na Câmara dos Deputados, o relatório da CPI da Covid deixa uma brecha evidente: os militares.

Para o cientista político Lucas Rezende, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a comissão até ensaiou uma apuração mais rigorosa do papel dos militares na pandemia, mas recuou.

"Mais uma vez, a classe política tem medo dos militares e opta por não mexer nesse vespeiro, deixando impunes ou com acusações brandas militares envolvidos no caos da saúde que foi a gestão Pazuello", avalia o estudioso.

General da ativa e ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello esteve duas vezes na CPI. Foi questionado sobre demora na compra de vacinas e na criação de um aplicativo, o TrateCov, usado experimentalmente em Manaus durante a crise de falta de oxigênio.

Para o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), a pasta utilizou a população de seu estado como cobaia.

Durante as oitivas, Pazuello negou responsabilidade pelo aplicativo, atribuindo decisão de implantar a plataforma à secretária Mayra Pinheiro, que permanece no cargo até hoje. Ex-presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, ela foi um dos alvos de pedido de indiciamento do senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Mas Pazuello não foi o único militar a passar pelos bancos da CPI. Estiveram lá também o coronel Élcio Franco, ex-secretário da pasta; o tenente-coronel Marcelo Blanco; o PM de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti; e o capitão e ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner do Rosário - todos com pedido de indiciamento por diversos tipos penais.

Mesmo não convocado para depor, o ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Netto, foi apontado no relatório final sob acusação de crime de epidemia com resultado morte.

Salvo Braga Netto, todos os demais militares estiveram sob crivo da investigação por suspeita de atuação direta ou indireta no caso do contrato de compra da vacina Covaxin e de lotes da AstraZeneca negociados com sobrepreço.

Segundo denúncias, grupos interessados em vender imunizante ao Ministério da Saúde recorreram à ajuda desse "núcleo militar", que teria facilitado os contatos de supostos fornecedores, como a Davati Medical Supply e uma ONG comandada por Amilton Gomes de Paula.

Durante os interrogatórios, o relator da CPI chegou a se surpreender com a quantidade de coronéis citados nos depoimentos dos representantes da Davati.

Houve momento de tensão quando, em 7 de julho, o presidente da comissão se referiu aos citados nas oitivas como "banda podre das Forças Armadas", que envergonharia "os bons" entre os fardados.

No mesmo dia, Exército, Marinha e Aeronáutica reagiram com uma nota conjunta, articulada por Braga Netto, na qual escreviam que "essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável".

A lista de militares alvo de solicitação de indiciamento pode, contudo, aumentar ainda mais. Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) vai propor a inclusão do coronel Marcelo Bento Pires e do tenente-coronel Hélcio Bruno de Almeida entre os citados por Calheiros. (Henrique Araújo)

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