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Os Estados Unidos de Joe Biden e a incógnita da participação chinesa
Reportagem

Os Estados Unidos de Joe Biden e a incógnita da participação chinesa

| Potências | Evento é cercado de expectativa quanto ao papel das duas maiores potências econômicas e emissoras de gases em relação à pauta ambiental
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Em meio aos debates que devem ocorrer durante a COP-26, no Reino Unido, uma relação pode definir o rumo das conversações mundiais. O modo como Estados Unidos e China - rivais econômicos que somados respondem por mais da metade das emissões mundiais - conduzirão suas posturas durante o evento será determinante.

Entre os mais otimistas, especula-se que uma cooperação mútua geraria um acordo climático sem precedentes. Outro cenário considera que a competição entre as superpotências pode impulsionar o combate ao aquecimento global, a partir da perspectiva de ambos tentarem passar a imagem de países prósperos e preocupados com o meio ambiente.

Na prática, os EUA vão à COP pela primeira vez sob o comando de Joe Biden, o que marca uma mudança de postura em relação à gestão anterior de Donald Trump. Desde a campanha presidencial, em 2020, Biden pregou a centralidade da pauta ambiental e deixou claro seu desejo de fazer dos EUA um protagonista nessa agenda.

Elze Rodrigues, professora de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi, considera que um termômetro da "prioridade que cada governo dá ao tema" é o representante enviado às cúpulas climáticas. No caso dos EUA, Biden já confirmou que irá pessoalmente, numa tentativa de recolocar o país em zonas de influência abandonadas pela gestão Trump.

Para Elze, os americanos devem adotar uma postura mais propositiva na COP-26. "O objetivo de Biden é recuperar espaços, entendendo que são zonas de influência para os EUA. A questão do meio ambiente é transversal. No caso americano, tem relações com a agenda econômica e comercial", explica.

Quanto aos chineses, apesar de terem atribuído publicamente importância à temática, eles fazem suspense sobre a participação do presidente Xi Jinping, que não tem ido a encontros internacionais por conta da pandemia e sua ausência pode afetar a dinâmica das relações.

Carolina Pavese, professora de Relações Internacionais da ESPM, avalia que a esquiva de Pequim não é ao acaso e aponta a China como peça central do jogo climático. Segundo ela, o país tem se "escondido há muito tempo" dentro de um grupo de países em desenvolvimento para "usufruir de tratamento mais brando".

"Historicamente, a China pertence ao grupo de países com menos responsabilidades pelas mudanças climáticas, mas o crescimento acelerado tem projetado as emissões ao ponto em que, hoje, ela é a maior emissora, com quase um terço das emissões globais. Portanto, critica-se muito a manutenção da China neste grupo".

Pavese avalia que isso talvez responda à resistência da China em participar da COP. "Embora ela tenha assumido compromissos verdes, ainda não apresentou um plano nacional para conter as emissões. Sua postura dirá muito sobre o comprometimento com o arranjo coletivo".

Já Elze diz que desde o Acordo de Paris, quando todos passaram a ter metas obrigatórias de redução, houve "mudança de postura" da China, pois o tema passou a afetar aspectos domésticos da economia local. (Vítor Magalhães)

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