Logo O POVO+
Brisanet desembolsa R$ 1,466 bi no 5G e amplia expectativas sobre a conexão no Nordeste
Reportagem

Brisanet desembolsa R$ 1,466 bi no 5G e amplia expectativas sobre a conexão no Nordeste

Empresa cearense passa a atuar também no Centro-Oeste e com o 4G. Conhecimento do mercado local sustenta estimativas de sucesso na instalação da nova geração de telefonia móvel
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Frequências leiloadas ontem permitiram atuação das operadoras no Brasil e em regiões específicas (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Frequências leiloadas ontem permitiram atuação das operadoras no Brasil e em regiões específicas

O leilão da mais nova geração de telefonia móvel, o 5G, consagrou-se ontem como o de maior volume movimentado desde o Pré-Sal, ao arrecadar R$ 7,1 bilhões - com ágio (valor adicional ao mínimo que era exigido no edital) de quase 250%. Em meio às grandes empresas de telecomunicações, a cearense Brisanet desembolsou R$ 1,466 bilhão e arrematou 3 blocos, com destaque para o do Nordeste, ao custo de R$ 1,25 bilhão (ágio de 13.741,71%), lançando a expectativa de tornar a Região mais conectada nos próximos anos.

Com a investida, que reúne o bloco Centro-Oeste por R$ 105 milhões (ágio de 4.054,27%) e a faixa de 2,3 GHZ para 4G por R$ 111 milhões (sem ágio), a Brisanet entra de vez no mercado de telefonia móvel e amplia a atuação já estabelecida nos serviços de internet e telefonia fixa e TV por assinatura.

Foco da empresa desde que as pequenas provedoras de internet foram autorizadas a participar do leilão, o bloco Nordeste - assim como o Centro-Oeste - exige da companhia a entrega de 5G no interior das regiões, em 1.148 cidades com menos de 30 mil habitantes.

Por vezes, o CEO da companhia, José Roberto Nogueira, destacou a presença da Brisanet no interior nordestino com fibra ótica como um diferencial, que destacou em nota na noite de ontem: "A capilaridade do Grupo Brisanet é fundamental para a implantação do 5G. Juntos, todos esses recursos possibilitarão o verdadeiro processo de inclusão digital das classes A-Z, uma vez que farão a logística de distribuição de centenas de serviços tecnológicos nas próximas décadas."

A fala encontra repercussão entre os especialistas da área, que apontam o conhecimento, pela empresa, do consumidor nordestino como um diferencial para a implantação do 5G na Região. "Acredito que um player local, ganhando uma licitação dessa, vai trazer benefícios e vai tentar desenvolver a economia local. Ele já faz isso com fibra ótica. Então, vão expandir ainda mais a gama de serviço deles e acredito que isso só vai beneficiar nós do Nordeste porque já tem esse cunho de desenvolver as localidades", analisa Moacyr Regys, professor do Instituto Federal do Ceará (IFCE).

Experiência do consumidor

Na ponta, o consumidor deve esperar uma entrega de serviços mais veloz - até 20 vezes mais do que o 4G, segundo prometem os testes já feitos no 5G - e melhores experiências em entretenimento (vídeos e jogos, especialmente) e oportunidades de emprego.

Afinal, o desenvolvimento da indústria 4.0, as agrotechs e as aplicações em internet das coisas devem tomar proporções nunca vistas antes com o 5G, como vem sendo observado em países como Coreia do Sul. No Nordeste, a Brisanet é enxergada como capaz dessa missão, tanto para o consumidor comum quanto para o setor produtivo.

"A Brisanet não é uma novata no mercado. Há uns cinco anos, ela tem expandido muito a área de abrangência dela e chegado forte no setor. Realmente foi uma empresa que cresceu e conhece o mercado local. Acho que tem condições de fazer um bom trabalho. Agora, precisa ter cuidado com o caixa, para o endividamento não prejudicar o fluxo", observa o professor Emanuel Bezerra Rodrigues, do departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Oscilação no mercado

O alerta não foi dado à toa. Logo após os desembolsos no leilão, as ações da Brisanet na B3 começaram a cair numa velocidade que chegou a uma baixa de 12% no pregão de ontem. No entanto, do meio da tarde em diante, a empresa recuperou a confiança dos investidores e ainda fechou o dia com alta de 1,71%, com as ações cotadas a R$ 7,73.

"É sempre interesse a gente observar que as pessoas que estão orientando a empresa, que fazem parte do conselho de administração, possuem muito conhecimento do mercado. Esses passos que estão sendo dados estão sendo bem pensados para um amadurecimento e fortalecimento da Brisanet num curto espaço de tempo", pondera Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).

Sobre a oscilação na bolsa, ele aponta a desconfiança do próprio setor de telecom sobre o salto que a Brisanet alçou no leilão como motivo, mas que foi rapidamente contornado. Ele ressalta que a companhia fez operações de debêntures recentemente. Em outubro, o Verde Asset Management, antigo Credit Suisse Hedging Griffo, comprou 5,42% do capital social da operadora nordestina Brisanet.

"Isso deve ter acontecido para fortalecer o caixa já visando essa movimentação do leilão, no trabalho para se transformar no maior player de telecomunicações de forma efetiva da nossa Região", arremata.

Faixas e obrigações

Frequências, preços e arremates:

Faixa de 3,5 GHz (nacional)

Claro: R$ 338 milhões (ágio de 5,18%)

Vivo: R$ 420 milhões (ágio de 30,69%)

TIM: R$ 351 milhões (ágio de 9,22%)

Faixa de 3,5 GHz (Bloco regional Nordeste)

Brisanet: R$ 1,25 bilhão (ágio de 13.741,71%)

Faixa de 3,5 GHz (Bloco regional Centro-Oeste)

Brisanet: R$ 105 milhões (ágio de 4.054,27%)

Faixa de 3,5 GHz (Bloco regional Sul)

Consórcio Copel Telecom e Unifique: R$ 73,6 milhões (1.454% de ágio)

Faixa de 3,5 GHz (Bloco Região Norte e SP)

Sercomtel: R$ 82 milhões (ágio de 719%)

Faixa de 3,5 GHz (RJ, ES e MG)

Cloud2U: R$ 405,10 milhões (ágio de 6.226%)

Faixa de 3,5 GHz (setores específicos)

Algar Telecom: R$ 2,35 milhões (ágio de 358,5%)

Faixa de 2,3 GHz (4G)

Brisanet: R$ 111 milhões (ágio de 0%)

Faixa de 700MHZ (4G)

Winity II: R$ 1,4 bilhões (ágio de 805%)

Compromissos:

Levar cobertura 5G para todas as capitais até 2022;

Instalar rede de fibra óptica a municípios (indicados no edital) com pouca ou nenhuma infraestrutura;

Implantar o Programa Amazônia Integrada e Sustentável (PAIS);

Estruturar a rede privativa de comunicação da Administração Pública Federal;

Assegurar à população os equipamentos necessários para a migração do sinal da TV parabólica para a TV via satélite;

Levar internet a 31 mil km de rodovias federais;

Assegurar cobertura 4G em de 9.696 localidades fora de sede de municípios, como aglomerados urbanos, vilarejos e povoados.

Fonte: Ministério das Comunicações

 

Competitividade deve aumentar com entrada de mais operadoras

Além da Brisanet, outras cinco operadoras entraram ou ampliaram a participação no negócio de telefonia móvel após o início do leilão do 5G. Algar Telecom, Sercomtel, o consórcio 5G Sul, e a Cloud2U não terão atuação nacional, mas deverão disputar a preferência dos usuários com as gigantes Claro, TIM e Vivo. Já a novidade, a operadora Winity, arrematou uma frequência 4G e deve passar a disputar mercado com todas.

A disputa animou o ministro Fábio Faria (Comunicações), que, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), deu início ao leilão na manhã de ontem. Ele ressaltou que o Brasil será o primeiro país da América Latina a ter o 5G em operação e falou em "mostrar que o Brasil está na economia digital".

Em seguida, deu-se início à abertura dos 15 envelopes com as propostas das empresas. A expectativa, a ser confirmada com a conclusão do leilão da frequência de 26GHz hoje, é de que o certame do 5G movimente R$ 169 bilhões nos próximos 20 anos, de acordo com projeções da Agência Nacional de Telecomunicações. Pelos números vistos hoje e a quantidade de empresas novas no setor, há perspectiva de a estimativa ser correspondida pelo mercado.

"Isso acirra a competição, principalmente, com os grandes players porque essas empresas mostraram que vieram para jogar o jogo e não para serem mais uma", aponta Moacyr Regys, professor do IFCE.

Com lances agressivos ao longo da disputa e a intenção de liderar o mercado de telefonia celular, a Claro comprou o principal lote da faixa de 3,5 GHz por R$ 338 milhões, ágio de 5%. Vivo e TIM arremataram os demais lotes de alcance nacional. A Vivo pagou R$ 420 milhões, ágio de 31% sobre o preço mínimo, e a TIM, de 9%. Havia expectativa de que a Highline, que comprou parte da Oi, ficaria com o quarto lote nacional, mas nem ela nem outra empresa apresentou propostas - foi o único lote que ficou vazio.

A atuação das gigantes, como destaca Moacyr Regys, professor do IFCE, deve-se para manter e ampliar o mercado que já possuem, uma vez que não participar do leilão traria complicações como fuga de usuários para outras operadoras. "Uma operadora desse grande não quer ficar para trás. Com essa aquisição sinaliza que quer estar na crista da onda. Arrematando, ela não quer perder mercado. O 5G é uma tecnologia que veio para ficar e expandir", reforça.

Já Emanuel Bezerra Rodrigues, professor do departamento de Computação da UFC, aponta um novo momento de pesquisas pelas universidades e empresas de tecnologia do setor com a conclusão do leilão de 5G hoje, 5. "Agora, a gente já pensa no 6G. Sempre que uma geração entra numa fase comercial, as empresas e a universidade já pensam na próxima geração", adianta.

Assim como no IFCE, a UFC desenvolve trabalhos com a fabricante de equipamentos para telecom Huawei e, há cerca de 20 anos, com a Ericson.

O leilão continua hoje, com a faixa de 26 GHz, por meio da qual funcionalidades para redes empresariais em setores como indústria, mineração e logística. (Com Agência Estado)

 

O que você achou desse conteúdo?