Uma das verdades incontestáveis é que todo gamer está sempre atrás de novidade e do próximo grande lançamento, seja nos consoles ou no PC. E esse comportamento se acentua ainda mais em meio a um período de lançamentos fracos ou sem muita expressão. É nesse contexto que State of Decay 2 surge como candidato a game do ano para a Microsoft.
Após Sea of Thieves ter, de certo modo, “morrido na praia”, adeptos da plataforma do Xbox One estavam ansiosos pela continuação de uma das maiores surpresas da geração passada, do Xbox 360. O primeiro State of Decay não agradou a todo mundo, mas trouxe ao gênero de sobrevivência pós-apocalíptica – já meio clichê desde aquela época – uma proposta interessante, misturando ação, combate, exploração e gerenciamento de recursos, aspectos antes encontrados apenas separadamente. Deste modo, em meio a um calendário de lançamentos exclusivos bem limitado, a esperança de uma versão mais moderna, com todos os erros da passada corrigidos e ainda apoiada pela capacidade gráfica do Xbox One X – o console mais potente da geração atual – deixaram State of Decay 2 em uma situação ao mesmo tempo confortável e preocupante.
[QUOTE1]A verdade é que o maior trunfo de State of Decay 2 é não ser bem um “game de zumbis”. Apesar de envolver mortos-vivos em seu universo e tê-los como o único tipo real de ameaça iminente aos jogadores, o foco principal aqui repousa sobre o enredo e sobre os relacionamentos desenvolvidos pelas interações entre personagens com características físicas e emocionais diferentes. Essa abordagem fica clara desde a tela inicial de seleção de personagens, a qual apresenta ao jogador duplas de personagens para escolher antes de começar o game. Cada dupla traz cenários bastante interessantes, como o de um casal de lésbicas que acabou de romper o seu relacionamento, mas que, por conta do cataclisma morto-vivo ocorrido, precisa se manter unido para sobreviver. Ou o de dois bons amigos que terão seu laço de longa data testado em contato com os perigos e decisões imprevisíveis de um mundo dominado por zumbis.
Além da possibilidade de jogar online com outros players e tentar a sobrevivência cooperativamente, a maior novidade do jogo, em comparação ao título anterior de sua franquia, é a profundidade que cada personagem do game possui. Não dá para não compará-lo a um longo episódio interativo da série The Walking Dead, mesmo porque, apesar de trazer um enredo, o jogo também dispõe de um mundo aberto e consideravelmente repleto de atividades a realizar, recursos a coletar e comunidades a gerir. A organização de recursos, inclusive, é a atividade mais recorrente durante grande parte da jogatina. O objetivo principal e o que move a estória para frente é a necessidade de erguer e gerenciar uma comunidade de sobreviventes, controlados pelo game, e que, juntos ao jogador devem sobreviver o máximo de tempo possível contra a ameaça zumbi. E é daí que se dá o maior problema de State of Decay 2: o tempo.
De modo bastante simples: o jogo administra muito mal a relação entre afazeres e diversão. A grande maioria das ações realizadas pelo seu personagem leva muito tempo para ser feita. De investigar um contêiner atrás de suprimentos a escapar ou mesmo lutar contra um inimigo morto-vivo, tudo demora demais e leva embora a tensão e a diversão prevista, substituindo-as pelo tédio e um sentimento de engessamento.
Ademais, são raras as situações de conflito em que de fato o player é encurralado ou se encontra em desespero, momentos esperados em um título dessa natureza. Entretanto, é válido ressaltar que tais problemas podem ser remediados com um patch de atualização, caso os desenvolvedores assim desejem.
State of Decay 2 pode não trazer os bons ventos da mudança aos games de sobrevivência pós-apocalípticos, nem tampouco servir de bálsamo para o atual sofrível catálogo de exclusivos da Microsoft. Mas se você curte a temática zumbi e está ansioso para dar nova vida ao seu Xbox One, esse game é uma boa pedida.
Davi Rocha é professor, publicitário e produtor de conteúdo do canal Bacontástico