Tércia Montenegro é uma mulher que move o mundo ao seu redor. Seu movimento de escrita, entretanto, acontece de forma solitária. "Quando estou criando, me sinto sozinha numa ilha rodeada de palavras. Tem de ser assim, para que a história aconteça e se expanda livremente, sem interferências de fora", diz. Foi na vivência desse claustro criativo que Tércia conseguiu produzir seus aclamados livros. O Vendedor de Judas, O tempo em estado sólido, Os Espantos, Turismo Para Cegos. Agora, ela rompe essa ilha mais uma vez para lançar Em Plena Luz, segundo e aguardado romance que sairá pela Companhia das Letras.

"Afinal, o propósito primordial de fazer arte é habitar esses espaços vazios, ver como eles podem ser tomados por uma estética. Somente depois - quando a narrativa já está pronta - eu começo a pensar no livro enquanto objeto que vai acabar nas mãos do(a) leitor(a). É um momento completamente diferente; talvez seja como gestar e parir. A gestação é mais lenta e invariavelmente íntima", conta, em entrevista ao O POVO. O lançamento de Em Plena Luz acontece hoje, no Museu da Fotografia. A autora estará presente para falar sobre a obra.

Para Tércia, a escrita é um processo "absolutamente sensorial, sinestésico mesmo". Esse caractere se reforça, ela explica, na construção de Em Plena Luz. O livro se passa entre Fortaleza e Paris. A protagonista, chamada Lu, viaja para a França na esperança de fugir de um relacionamento abusivo. Em terras estrangeiras, entretanto, a jovem encontra outras relações e outras amarras. "O visual sempre teve uma força muito grande como impulso para as minhas narrativas, mas neste livro - pelo fato de a protagonista praticar também a escultura - houve uma presença maior do táctil, do olfativo: a textura e o cheiro da argila invadem algumas cenas. É como se a modelagem do romance se fizesse dessa maneira, híbrida por vários sentidos", aponta Tércia, que também é professora da Universidade Federal do Ceará.

Lu é afetada pelos atentados que atingiram a boate Bataclan e o restaurante Petit Cambodje. Ocorridas em 2015, essas são consideradas as piores investidas terroristas pelas quais o território francês já passou - deixando quase duzentos mortos e ferindo dezenas de pessoas. "Em plena luz questiona de maneira implícita diversos tipos de violência, e o que me interessava era justamente saber se era possível comparar uma coisa discreta - digamos, a violência de um jogo de mentiras num relacionamento amoroso - com uma violência escancarada, de um atentado terrorista ou de um discurso de ódio contra imigrantes", elucida.

Apesar da obra tratar de terrorismo, de relacionamentos abusivos e de fugas - explica Tércia - há guinadas de humor - "seja pela absurda atitude de algumas pessoas, seja pelos lances bizarros do destino". Em Plena Luz, de certa maneira, é um livro sobre otimismo. "Tudo isso mostra a vida como uma aventura que não pode ser encarada de modo estritamente planejado ou rigoroso, sob pena de se perder as melhores experiências, que passam pelo improviso e pela celebração das amizades. "Tudo isso mostra a vida como uma aventura que não pode ser encarada de modo estritamente planejado ou rigoroso, sob pena de se perder as melhores experiências, que passam pelo improviso e pela celebração das amizades", diz. 

Lançamento Em Plena Luz

Novo romance de Tércia Montenegro

Editora Companhia das Letras

Quando: sábado, 28

Horário: 15 horas

Onde: Museu da Fotografia (Rua Frederico Borges, 545)

Preço do livro: R$ 69,90

Entrada gratuita