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A vida invisível entra em cartaz nos cinemas do Dragão, do Iguatemi e do RioMar Papicu
Vida & Arte

A vida invisível entra em cartaz nos cinemas do Dragão, do Iguatemi e do RioMar Papicu

O filme A vida invisível estreia nesta quinta-feira no Brasil, após meses de espera. O longa, assinado por Karim Ainouz, é baseado em livro de Martha Batalha. As vivências das duas obras são contundentes
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A vida invisível  (Foto: fotos Divulgação)
Foto: fotos Divulgação A vida invisível

Antes de começar a discorrer sobre filme e livro, é interessante grifar: as vidas de Eurídice e Guida se entrelaçam com as de tantas mulheres deste Brasil. Dos anos 1940 e 1950 (época em que se passam as obras, livro e filme, respectivamente) até os dias de hoje, é possível encontrar um sem-número de moças e senhoras com características, vivências, silenciamentos e invisibilidades semelhantes. O filme do cearense Karim Ainouz, A vida invisível, estreia nesta quinta-feira, 21, nos cinemas, depois de uma espera ansiosa do público. A narrativa-base está no livro "A vida invisível de Eurídice Gusmão", de 2016, escrito magistralmente por Martha Batalha. Contrariando a polêmica pergunta "é melhor o livro ou filme?", ambos narradores, Karim e Martha, dão vida a milhares de mulheres que não têm, tiveram ou terão voz. Falta fôlego ao assistir e ler.

O filme venceu o Prêmio Um Certo Olhar (Un Certain Regard) por Melhor Filme, neste 2019. Foi no Festival de Cannes, um dos mais importantes para o cinema mundial. Na corrida por uma vaga na disputa do Oscar 2020, o longa é o indicado do Brasil para concorrer. Torcida não falta e também pudera. Em Fortaleza, a abertura do Cine Ceará, em agosto, teve a exibição do longa, bastante aclamado. Faltou cadeira para tanta gente, que chegou a ficar esperando do lado de fora do Cineteatro São Luiz. Na tela grande, o público vai se deparar com duas mulheres que são resistência, em uma sociedade patriarcal, opressora e predadora.

O longa é permeado por uma certa angústia e um tanto de tristeza e um punhado de esperança. As irmãs Guida (Julia Stockler) e Eurídice (vivida pela atriz Carol Duarte e por Fernanda Montenegro) são umbilicalmente ligadas, quando a primeira foge de casa, apaixonada que estava. Tudo muda. A irmã que fica é sugada pelo peso das obrigações sociais de dar alegria aos pais, casar, ter filhos e anular seus desejos. Por meio de cartas e desencontros, elas tentam se aproximar a distância. Daí onde reside parte de nossa angústia.

"A história das mulheres no Brasil e no mundo é muito mal contada. São histórias realmente invisíveis. É necessário torná-las visíveis, pulsantes, vivas", proferiu Fernandona durante a abertura do Cine Ceará, ao contar que recebeu uma carta de Karim para convidá-la a encarnar Eurídice no filme. "Foi no meio destas tantas histórias e lembranças, e sonhando com os personagens, que eu passei a ver a personagem de Eurídice, no tempo presente, como você. No caso, era eu", emocionou.

Guida e Eurídice ganham, contudo, histórias e desfechos diferentes em livro e filme, mas descaminhos convergentes. No livro de Martha Batalha, o humor elegantemente ácido e a aura de angústia permeiam a obra, que é curta, com apenas 192 páginas. Este é o romance de estreia da escritora, que já começa com uma bofetada: "Quando Eurídice Gusmão se casou com Antenor Campelo as saudades que sentia da irmã já tinham se dissipado. Ela já era capaz de manter o sorriso quando ouvia algo engraçado, e podia ler duas páginas de um livro sem levantar a cabeça para pensar onde Guida estaria naquele momento". Assim como preveem as primeiras linhas da obra, a história também fala sobre saudade. E viver saudade é sempre difícil.

Conhecer Guida e Eurídice por meio de Martha e Karim, é como se eu, enquanto leitora, estivesse vivendo tudo aquilo junto a elas, lembrando de minhas ancestrais e de tudo o que viveram para que eu estivesse aqui, exaltando a memória delas, os sofrimentos, os silenciamentos. As personagens ficam cravadas na cabeça do público, vivemos com elas, torcemos por elas, nos zangamos por elas. Sonhamos com elas.

Confira o trailer:

A Vida Invisível

O que: estreia do filme de Karim Aïnouz

Quando: a partir de hoje, 21

Onde: salas do Cinema do Dragão e do Cinépolis RioMar Fortaleza (Papicu)

 

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