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Ciro Gomes lança a obra "Projeto Nacional: o dever da esperança" neste sábado, 30
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Ciro Gomes lança a obra "Projeto Nacional: o dever da esperança" neste sábado, 30

Livro percorre as décadas de desenvolvimento econômico e social brasileiro à procura de respostas para a retomada do crescimento nacional
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Em novo livro, Ciro Gomes fala sobre sua experiência na vida pública e analisa o Brasil a partir da política e da economia (foto: Thais Mesquita/O POVO) (Foto: Thaís Mesquita)
Foto: Thaís Mesquita Em novo livro, Ciro Gomes fala sobre sua experiência na vida pública e analisa o Brasil a partir da política e da economia (foto: Thais Mesquita/O POVO)

No fim do primeiro terço do livro "Projeto nacional: o dever da esperança" (Leya), Ciro Gomes, 62, define o caráter da obra que entrega ao leitor, cujo resultado "é antes um projeto de todo um campo político do que meu próprio".

Esse princípio estrutura as 272 páginas do livro, que o ex-ministro, ex-governador e ex-presidenciável por três vezes lança neste sábado, 30, numa conversa com a jornalista Mara Luquet, a partir das 17 horas, transmitidas pelos canais do autor nas redes sociais.

"Projeto nacional" é a tentativa de plasmar a trajetória individual de um político de vasta experiência no Executivo e Legislativo com reflexões que abarcam um século de história do Brasil, notadamente nos campos da política e da economia. Ciro parte de um diagnóstico socioeconômico para concluir com a proposta de uma agenda de desenvolvimento lastreada nas bandeiras do trabalhismo, com forte ênfase na industrialização como elemento catalisador do dinamismo interno.

Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC), o pedetista revisita marcos da formação do estado brasileiro. Entre os pontos cardeais, ele cita o período que vai da Era Vargas até os dias que antecedem ao golpe militar como de florescimento de um parque industrial nacional.

Em seguida, elenca as razões pelas quais esse processo de expansão das atividades se interrompeu na esteira da redemocratização, principalmente nos anos de governo Fernando Henrique Cardoso, mas que tiveram sequência nas gestões posteriores, sob outro molde.

O ex-ministro contrasta duas correntes nos últimos 30 anos, que ele chama de "fiscalismo financista", com marcado liberalismo e ortodoxia econômica, e um "nacional-consumismo", vigente nos anos petistas (Lula e Dilma Rousseff).

"Para minha grande decepção", escreve Ciro, "o partido que eu tinha ajudado a fundar para implantar uma social-democracia no Brasil, o PSDB, e o plano econômico que tinha ajudado a consolidar, o Real, se desvirtuaram completamente durante o Governo FHC, se deixando corromper pelos interesses do novo rentismo e pela embriaguez eleitoreira de uma emenda de reeleição obtida por suborno".

Segundo ele, esse quadro o obrigou "ao rompimento com o partido e o governo assim que consumada a traição ao plano de estabilização", referindo-se aos anos iniciais sob FHC. No embalo dessa crítica, candidata-se a presidente pela primeira vez, em 1998. Não chega ao segundo turno, investida que repetiria em 2002 e novamente em 2018 - o livro é, por assim dizer, uma plataforma reflexiva das ideias que pretende apresentar em 2022.

De FHC a Lula e Dilma, Ciro identifica o mesmo impasse: "A falta de visão e de projeto nacional". Num, pela subserviência ao capital internacional e esvaziamento das potencialidades do setor público, amalgamadas às privatizações. Noutro, por acomodar interesses conflitantes do capital e do trabalho, levando a cabo uma política de redução de danos na área social (leia-se Bolsa Família), mas sem real reestruturação econômica e reformas de base que pudessem fazer avançar a agenda do desenvolvimento do País. E assim chega aos anos agônicos, compreendidos nesse intervalo que vai de 2013 até agora, no qual o receituário neoliberal ganha legenda no plano de Paulo Guedes, ministro de Jair Bolsonaro (sem partido).

Feito o diagnóstico, e nisso se encaixa a ideia de retomada de um "projeto nacional", entra a segunda parte do título do livro: "o dever da esperança". Aí o homem público Ciro Gomes apresenta-se como personagem na arena das disputas políticas atuais. Não à toa, o capítulo que encerra o ensaio de interpretação dedica amplo espaço a uma genealogia e um mapeamento dos impasses da esquerda no mundo e no Brasil.

"Sem querer me esquivar da definição de como me vejo no espectro político", anuncia o ex-ministro, "diria que, sob o ponto de vista da classificação da esquerda, sou uma pessoa de centro-esquerda, que aceita a liberdade econômica com seus riscos potenciais de produção de injustiça, para fazer uso do poder criador da riqueza na estimulação fragmentada da livre-iniciativa".

Mas ressalva: "Do ponto de vista da direita, sou uma pessoa de centro, que não defende nem o Estado máximo nem o Estado mínimo, mas o Estado necessário".

Ciro conclui: "Assim sendo, me considero de centro-esquerda. Eu diria que sou um social-democrata que tem grande admiração pelo modelo socioeconômico vigente nos países escandinavos ou na Alemanha".

Sobre o PT, o autor desenvolve críticas em tom mais ameno, mas no teor semelhantes às que vem proferindo publicamente. Fica mais claro, por exemplo, a diferença que traça entre o que considera uma esquerda cuja pauta é restrita às políticas identitárias e uma com temática mais ampla e focada no que é o centro nervoso da obra: a construção de um projeto continuado de desenvolvimento fruto de uma concertação de interesses no campo progressista, do centro à esquerda.

A obra é parte do esforço do ex-governador de ocupar esse espaço, hoje vago nessa faixa do espectro político. Como tal, é iniciativa que enriquece o debate nacional, aportando repertório e ideias que o trabalhista já vinha defendendo em série de palestras, debates e encontros. Reunidas em livro, com ganho de profundidade e desdobramentos, são também um valioso chamado à conversa num momento de erosão progressiva do ambiente institucional.

Capa do livro Projeto Nacional: O Dever Da Esperança, de Ciro Gomes
Capa do livro Projeto Nacional: O Dever Da Esperança, de Ciro Gomes

Projeto Nacional: O Dever Da Esperança

De Ciro Gomes

Ed. Leya

274 páginas

Quanto: R$49,90

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