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Pesquisador pernambucano conecta música e história do Brasil no Instagram
Vida & Arte

Pesquisador pernambucano conecta música e história do Brasil no Instagram

Projeto "O que cresci ouvindo", do historiador e pesquisador musical pernambucano Ivan Lima, traz resgate histórico da música e da história brasileiras a partir de vídeos, lives e postagens no Instagram
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São João na Roça, de Luiz Gonzaga, é um dos discos "explorados" por Ivan Lima em seu trabalho (Foto: reprodução)
Foto: reprodução São João na Roça, de Luiz Gonzaga, é um dos discos "explorados" por Ivan Lima em seu trabalho

O verso que dá título a esta matéria é emprestado da canção “Canta Brasil”, composta em 1941 por Alcir Pires Vermelho e David Nasser. A escuta proposta na letra é a do “cantar” do Brasil, ideia que estabelece certo diálogo com o projeto “O que cresci ouvindo” (@oquecresciouvindo), do historiador e pesquisador musical pernambucano Ivan Lima. A partir de conteúdos diversos no Instagram, ele divide afetos e fatos ao relacionar a música brasileira a percursos, movimentos e contextos históricos do País.

“A gente pode levar a História até o disco, mas também pode levar o disco à História”, estabelece Ivan, que mora há quase dois anos na cidade do Porto, onde integra o Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura Espaço e Memória (CITCEM) da Universidade do Porto. A relação do historiador com a música vem desde os “10 ou 12 anos”, quando teve um contato especial com a linguagem. “Fui à casa de um primo do meu pai e, quando entrei no quarto, ele estava tocando violão e havia uma infinidade de vinis e CDs. Lembro muito bem que ele tocava uma música do Cláudio Nucci, "Acontecência", então foi ali que o horizonte da música brasileira se abriu para mim”, recupera.

Daí, transformou a curiosidade e o interesse iniciais em profissão, procurando interligar música e História ao tratar cada obra enquanto um “documento histórico”, pensando “tanto na recepção como no processo de fabricação, o que cercou o antes, o durante e o depois dela”. “O que cresci ouvindo”, então, surgiu em março de 2020 no Instagram como forma de dividir essas reflexões e informações a partir de vídeos nos quais destrincha elementos e contextos de alguns discos. Entre alguns deles, estão “São João Na Roça” (1958), de Luiz Gonzaga; “Alucinação” (1976), de Belchior; “Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira” (1979), de Moraes Moreira; “Saudade do Brasil” (1980), de Elis Regina; “Lado B Lado A (1999), da banda O Rappa; e “Do cóccix até o pescoço” (2002), de Elza Soares.

“A escolha dos discos tem a ver com o sentimento afetivo e a importância daqueles cantores para mim, mas também para a música, a partir do que pesquisei. É ‘o que cresci ouvindo’ e, também, o que cresci pesquisando dentro de arquivos”, estabelece. Além dos vídeos voltados a discos específicos, outros tipos de conteúdos também soma ao projeto: postagens com documentos, dados e curiosidades históricas, muitas vezes frutos de pesquisa no Arquivo Nacional, e, mais recentemente, lives com artistas da música e outras linguagens que contam as referências musicais que trazem consigo. Já passaram pelas entrevistas ao vivo nomes como China, Fernando Catatau, Márcia Castro e Marcelino Freire. Hoje, às 19 horas, ocorre live com a cantora Karina Buhr. Ao longo de julho, estão previstas as participações, entre outros, de Odair José e Dani Black.

“A gente precisa trazer - numa perspectiva de disco como fonte e documentação histórica - uma ligação do passado com o presente, afinal eles estão sempre dialogando, se conjugando, se ajudando, se atrapalhando. Nada melhor do que a arte para trazer à luz essas coisas tão importantes”, defende Ivan. “A gente produz arte a partir daquilo que vê, vive e sente. Acho fundamental para a compreensão histórica de um álbum que a gente entenda o antes, o durante e o depois dele. Isso ajuda muito não só na fruição artística, mas também na dimensão de compreender a história”, afirma.

Neste sentido, Ivan é um defensor que o entendimento de um álbum passe por todos os elementos que o constituem, “da capa ao título, a ordem das faixas, o tema, as consequências do disco, as consequências sociais que protagonizaram o surgimento daquele disco”, elenca. “A digressão histórica que faço aponta, para quem assiste, à curiosidade de entrar naquele momento histórico, da leitura de conjuntura, de detalhes, do aprofundamento em outras áreas - êxodo rural, fome, planos econômicos, cinema… Podemos fazer a flexão do passado paro presente, mas também do presente paro passado no sentido de entendimento”, avalia o historiador.

O que cresci ouvindo

Siga: @oquecresciouvindo

Lives todas as quartas-feiras, às 19 horas. A convidada desta quarta-feira, 1º de julho, é a cantora Karina Buhr

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