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Entre a exaltação e a monetária, Barbie ganha versão de Dia dos Mortos
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Entre a exaltação e a monetária, Barbie ganha versão de Dia dos Mortos

Inspirada em tradição mexicana, nova edição especial da Barbie Dia dos Mortos é alvo de críticas por apropriação cultural
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Edições de 2019 e 2020 da boneca Barbie inspirada na
Foto: ALFREDO ESTRELLA / AFP Edições de 2019 e 2020 da boneca Barbie inspirada na "Catrina", personagem do Dia dos Mortos no México. Criação tem sido alvo de críticas por apropriação cultural

Zoila Muntané, artista plástica, tem cerca de 2 mil Barbies. Sua coleção inclui edições exclusivas e, agora, uma nova versão cadavérica dedicada ao Dia dos Mortos, que alguns criticam por monetizar a maior tradição cultural do México. Com vestido rosa e enfeites típicos das comemorações de 1º e 2 de novembro, a segunda edição do famoso brinquedo "comemora o México, sua festa, seus símbolos e sua gente", afirma a fabricante Mattel. É uma adaptação da "Catrina", ou "Calavera Garbancera", criada pelo cartunista José Guadalupe Posada em 1912.

Sociólogos afirmam, contudo, que essa Barbie transformada em um esqueleto elegante, com características da famosa pintora mexicana Frida Kahlo, é apenas mais um caso de "apropriação cultural" para fins comerciais. A Barbie Catrina "está relacionada a fluxos migratórios que agora são muito mais marcantes", disse à AFP Librada Moreno, socióloga e acadêmica da Universidade Nacional Autônoma do México. Essa boneca é "fruto de uma hibridização cultural, entre o que existe do outro lado da fronteira (nos Estados Unidos) e o que está aqui", completa.

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Os críticos da "apropriação cultural" alertam para o risco de distorção de tradições, símbolos e outros elementos transformados. Um ponto de vista que pode se chocar com a liberdade criativa. Moreno lembra que, nos Estados Unidos, onde vivem 36 milhões de mexicanos, ou seus descendentes, cada vez mais se incorporam as tradições do vizinho latino-americano. A Barbie do Dia dos Mortos, que custa em torno de 72 dólares, usa neste ano um vestido de renda rosa, e seu rosto pálido é detalhado em cores brilhantes. Em 2019, ela se vestiu de preto.

Seu criador, o mexicano-americano Javier Meabe, diz que buscou "criar mais consciência sobre a festa" que, segundo as lendas indígenas, marca o retorno do morto ao mundo dos vivos para ser homenageado com oferendas em casas e túmulos. Considerado o festival mais representativo do México, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou o Dia dos Mortos Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, em 2003.

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Para o sociólogo Roberto Álvarez, essa celebração "deveria ser um tema solene", mas se tornou um evento comercial nos Estados Unidos desde o grande sucesso do filme da Disney Pixar "Viva: a vida é uma festa" (2017) e, anteriormente, com "007 contra Spectre" (2015), da saga James Bond.

A Barbie Dia dos Mortos é a quarta edição desta boneca inspirada no México, depois da Catrina, de 2019, e das dedicadas à jogadora de golfe Lorena Ochoa e a Frida Kahlo. A boneca da pintora não pôde ser vendida no México, porque a família de Kahlo considerou que a imagem da boneca não correspondia à da artista. Desde seu lançamento em 1959, Barbie vendeu mais de 1 bilhão de cópias de seus muitos estilos e profissões. (AFP) 

 

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