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Evento virtual põe a arte produzida por mulheres em destaque
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Evento virtual põe a arte produzida por mulheres em destaque

Circuito Cultural Tamarineiras, promovido pelo coletivo Cultura no Largo, acontece entre quinta-feira, 25, e sábado, 27
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No ano passado, o evento aconteceu em frente ao antigo casarão de Glória Dias
 (Foto: Kelys Almeida)
Foto: Kelys Almeida No ano passado, o evento aconteceu em frente ao antigo casarão de Glória Dias

As tamarineiras que ocupam a rua Desembargador José Bastos, em Icó, foram o motivo para uma briga que até hoje permanece vívida na memória dos moradores da cidade. Em meados do século XIX, Glória Dias era a dona do casarão localizado em frente a essas árvores, que serviam de abrigo para seus animais. Certo dia, o Barão do Crato se irritou por causa da sujeira que as plantas e os bichos causavam. Por isso, afirmou que iria derrubar aqueles troncos. Indignada, a mulher comprou quilos de pólvora e ameaçou explodir a casa do vizinho caso ele derrubasse seus tamarindos. O homem, então, desistiu. De acordo com as histórias locais, os explosivos foram doados para a festa do Senhor do Bonfim e deram origem à tradição de soltar fogos na data do padroeiro.

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Recentemente, um dos troncos caiu. Até que as raízes cresçam de novo, os próximos anos deixarão um vazio na paisagem costumeira dos icoenses. Talvez por isso seja ainda mais importante, neste momento, a promoção do "Circuito Cultural Tamarineiras", produzido pelo coletivo Cultura no Largo. O evento, que realizou sua primeira edição embaixo das árvores da antiga moradora da região, acontece em formato virtual entre quinta-feira, 25, e sábado, 27.

A iniciativa tem como objetivo promover a produção artística feminina. Com exposições, rodas de conversa, oficinas e apresentação de teatro, os conteúdos serão transmitidos no perfil do Instagram @culturanolargo. Além disso, todas as temáticas abordadas terão a mulher como foco. Debates sobre a importância da militância, os diferentes papéis das figuras femininas durante a História, terapia capilar e saúde mental serão alguns dos assuntos tratados. "Esta edição aconteceria em duas comunidades periféricas da nossa cidade. Só que, devido à pandemia, tivemos que adaptar para o virtual", explica a produtora e idealizadora, Alexia Duarte. "Por um lado, estamos muito satisfeitas, porque ainda é possível realizar o evento, e ele pode alcançar as pessoas nas suas casas. Por outro, ficamos tristes, porque não são todos que têm acesso à internet", identifica.

O formato virtual, entretanto, trouxe outras possibilidades. Com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), por meio da Lei Aldir Blanc, as mulheres, que no ano passado foram voluntárias, poderão receber cachê dessa vez. "O processo de curadoria aconteceu pensando em quem se mobilizou para vir no ano passado. Então a gente resolveu trazê-las de novo. Todas as que estão nessa edição, estavam no ano passado. As que não estiveram na primeira vez eram as que queriam ter vindo, mas, por falta de recurso, não puderam se locomover até Icó", afirma.

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"Nosso evento busca trazer essas meninas que estão começando ou que não são tão conhecidas no mundo artístico, mas que querem entrar de vez no mercado. A gente precisa promover situações que sejam viáveis para essas pessoas trabalharem e exporem suas artes. Todas que participam do festival não são famosas, nem ricas, nesse sentido de conseguir atingir um certo patamar com sua própria arte", explicita Alexia. Entre as atrações, estão Milena Fernandes, com oficina de produção de mamulengo; pintura de quadro ao vivo com Lara Íris; exibição de video-arte com Lorenna Alves; e aula de hip hop com Vic Servente.

Um dos destaques é também a exposição de colagem "Temporada de Bruxa', que acontece na quinta-feira, 25. Patrícia Gomes, dona do Instagram @mulecolagista, exibe várias obras realizadas durante o isolamento social. Inspirada na canção "Season Of The Witch" (1967), de Donovan, ela traz suas experiências com as mudanças impostas por estar dentro de casa. "Tive muitas inspirações na música, nesse período que estou presa em casa sem muito acesso ao exterior, mas que as coisas continuam acontecendo mesmo assim. A exposição fala um pouco das minhas experiências que estão acontecendo também no meio artístico", revela a artista.

 
 
 
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Seu vínculo com a elaboração de colagens começou quando ainda era uma criança. Ela costumava colecionar tirinhas, mapas de livros e outros papéis. "De repente, eu tinha uma grande quantidade de coisas. Então comecei a recortar para diminuir o espaço e montar os recortes para produzir algo. Mas a arte de colagem, dentro do meio artístico, como expressão visual, aconteceu recentemente", diz. De acordo com a colagista, o período em que está confinada mudou sua relação com a arte. "Estar em casa fez expandir minhas habilidades para o uso de ferramentas mais modernas, como o Photoshop e o celular. Também aprofundei meus estudos em desenho e ilustração, o que eu não fazia antes", comenta.

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Para a artista, o Circuito Cultural Tamarineiras é uma maneira de evidenciar o espaço das mulheres nas artes. "É uma janela, uma ponte, um monumento de afirmação. Mostra que as mulheres têm a capacidade de estar em diversas atividades de expressão", defende. O legado do evento, que iniciou no ano passado, pode ser visto entre várias conversas. "Ainda hoje a gente escuta meninas conversando sobre como começaram a pintar, a fotografar, depois que estiveram no festival".

Programação completa

Quinta-feira, 25
9 horas - Exposição de colagem "Temporada da Bruxa", de Mulé Colagista
14 horas - Oficina de Mamulengo, com Milena Fernandes
18 horas - Roda de debate "A importância da militância feminina e LGBT", com Jani Landim

Sexta-feira, 26
9 horas - Pintura de quadro "Semente", com Lara Íris
14 horas - Oficina de hip hop, com Vic Servente
18 horas - Roda de debate "A Mulher na História", com Patrícia Gomes e Mayana Tomaz

Sábado, 27
16 horas - Exposição de fotos "Sertão Delas", por Alexia Duarte
16h30min - Oficina de terapia capilar, com Eluana Zingara
18 horas - Roda de debate "Saúde psicológica da mulher", com Samara Sousa
19 horas - Sarau de encerramento, com apresentações musicais de Zarelly e Débora, Andreza Alves e Las Lobas; apresentação de Mamulengo, com Milena Fernandes; teatro com Lidiana Chaves e Luciene Nascimento; exibição de video-arte de Lorenna Alves, a Soyubá; e poesia com Letícia Oliveira

Circuito Cultural Tamarineiras

Quando: de quinta-feira, 25, a sábado, 27
Onde: Facebook e Youtube do coletivo Cultura no Largo
Mais informações: Instagram @culturanolargo ou e-mail culturanolargo@gmail.com

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