Jornalista da Rede Globo, Simone Duarte chefiava a redação da empresa em Nova York em 2001. Às 9h15min da manhã de 11/9 daquele ano, logo depois de o segundo avião colidir contra a torre sul do World Trade Center, Simone entrou ao vivo. Permaneceria no ar por cerca de três horas ininterruptas.
"Olha, a situação ainda é muito confusa, Nascimento", narrou ao âncora do telejornal, Carlos Nascimento, ainda sem saber o que de fato se passava. "Todas as televisões americanas estão ao vivo, todas as equipes de televisão, bombeiros, polícia estão tentando chegar ao local. Está muito difícil o acesso."
Depois de explicar o simbolismo do WTC e alertar que a edificação já tinha sido alvo de um atentado em 1993, Simone disse: "Nós conseguimos falar com algumas testemunhas, com pessoas que trabalhavam em restaurantes próximos ao World Trade Center, e o que eles dizem é que houve uma explosão horrível, um barulho que foi ouvido por toda a região de Wall Street, mas ninguém está entendendo muito bem o que pode ter acontecido".
Por quase 20 anos, a brasileira evitou voltar ao assunto, ao qual finalmente se dedica em livro recém-lançado pela editora Fósforo, que inclui o trecho de seu relato na cobertura televisiva.
Em "O vento mudou de direção: o onze de setembro que o mundo não viu", a jornalista amplia o olhar sobre a tragédia que deixou quase 3 mil mortos nos Estados Unidos naquele dia.
Na obra, Simone traça um fio que sucedeu ao sequestro de quatro aviões, dois dos quais lançados contra as Torres Gêmeas (um terceiro contra o Pentágono e um quarto, atirado ao chão na Pensilvânia), mapeando, a partir da vida de personagens, os efeitos dos acontecimentos.
"Ao longo de dois anos e meio", escreve a autora, "entrevistei, acompanhei e reconstituí a vida de Ahmer, um rapaz treinado para ser um menino-bomba; do jornalista Baker Atyani, escolhido por Osama bin Laden para anunciar um grande atentado; do general Ehsan Ul-Haq, ex-espião-chefe do equivalente à cia paquistanesa; da poeta iraquiana Faleeha Hassan, obrigada a viver no país invasor".
A essa galeria se juntam "Gawhar, uma afegã que fugiu da ocupação militar americana rumo à Europa; da jovem iraquiana Gena, que fugiu para a Síria, onde cairia em outro conflito sangrento; e de Rafi, um afegão que atravessou oito países para escapar do Talibã".
De acordo com a jornalista, "com exceção de Ahmer, o menino treinado pelo Talibã paquistanês, todos são pessoas de classe média ou média alta, com vidas semelhantes às das vítimas dos ataques de 2001".
O resultado é um livro que revê o 11/9 sob a lente da guerra ao terror, deflagrada na esteira da queda das torres, que lançaria os EUA num conflito armado com o Afeganistão, e depois o Iraque, apenas interrompido duas décadas depois.