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Projeto "Ponto Cruz" une a dança do coco com os bordados em evento virtual
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Projeto "Ponto Cruz" une a dança do coco com os bordados em evento virtual

Com dança inspirada no Coco de Praia do Iguape, espetáculo "Ponto Cruz" valoriza tradições populares e também resgata relação entre memória e bordados
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Foto: Divulgação Em "Ponto Cruz", as pesquisadoras Izaura Lila e Nayana Castro realizam referência ao Coco de Praia do Iguape

Tradições populares, memória, resistência e afeto por meio da dança: a partir desta sexta-feira, 28, será possível encontrar todos esses elementos reunidos - e "costurados" - no projeto "Ponto Cruz", desenvolvido pelas bailarinas e pesquisadoras Izaura Lila e Nayana Castro e co-dirigido por Ciel Carvalho. Unindo a dança do coco e resgatando raízes culturais com a força dos bordados, a performance será exibida gratuitamente no YouTube e também será acompanhada de roda de conversa com integrantes do Coco de Praia do Iguape.

A obra busca valorizar manifestações culturais e artísticas regionais e seu surgimento está atrelado ao desejo de resgatar lembranças das mulheres das famílias das duas dançarinas. Izaura comenta que as gerações anteriores de suas famílias "têm relação muito forte com a costura" e, a partir dessa "ancestralidade", veio a vontade de "juntar as memórias e as matrizes estéticas tradicionais" para uma "dança cotidiana" nas casas de cada uma.

Assim, o espetáculo recebe inspiração das linhas dos bordados para costurar diferentes homenagens a "antepassados" e ao patrimônio imaterial cearense. A abordagem também se relaciona com a atividade das duas bailarinas, pois ambas integram o Grupo Miraira, coletivo que trabalha com matrizes estéticas tradicionais a partir da dança, do teatro e da música. Além disso, destaca as "raízes afetivas" das próprias dançarinas ao longo de suas vidas.

Durante o processo de criação da dança, as pesquisadoras buscaram introduzir como a cultura popular é contemporânea e está no cotidiano das pessoas, seja ao fazer uma comida típica ou ao reproduzir algo aprendido com avós e pais. Em sutilezas e traços mais marcantes, o vídeo-dança da dupla também experimenta linguagens a partir de aspectos como a iluminação e a direção coreográfica.

O projeto também ressalta a dança do coco - uma escolha que, aliás, não foi uma surpresa. Afinal, Izaura e Nayana têm grande apreço pela dança: "Nós gostamos muito do coco, ele é um ritmo frenético. Você escuta o som do caixão tocando e já dá vontade de dançar. Acho que isso é uma das primeiras coisas que já pulsam o nosso coração. Além disso, o coco também tem o improviso do sapateio, das rimas e da música, então passa também pelo improviso do nosso cotidiano".

As realizadoras do projeto decidiram conversar, então, com o Coco de Praia do Iguape para saber se poderiam utilizar suas músicas durante o espetáculo. Além disso, convidaram seus integrantes - incluindo Mestre Chico Casueira e Klévia Cardoso - para uma roda de conversa, que ocorrerá logo após a exibição de estreia do espetáculo. Dessa forma, poderão difundir o trabalho do grupo e ressaltar a importância dessa manifestação.

O desenvolvimento de "Ponto Cruz" foi afetado pela pandemia. Com as restrições de saída para evitar contaminação pelo coronavírus, foi preciso improvisar e pensar em outras formas de se usar espaços cênicos. As casas das dançarinas, por exemplo, foram palcos dos pensamentos e das criações para o espetáculo, assim como a praia - essa de forma mais recente, em um momento mais propício para encontros. Izaura lembra que as dificuldades da pandemia não atingiram apenas as bailarinas:

"Está sendo um momento difícil para todos os artistas, que estão sendo obrigados a se reinventar. Na verdade, todos que trabalham na cultura estão passando por isso. Esse é um momento também de refletir sobre a necessidade de políticas públicas, de pensar não só nesses artistas brincantes, mas também nos mestres da Cultura. Será que estão conseguindo sobreviver?"

As idealizadoras do espetáculo veem a produção como uma forma de valorização de saberes populares, ao mesmo tempo em que combinam a "tradição" com a "contemporaneidade". "É uma semente para nós, que somos de uma geração mais jovem de artistas, valorizarmos essas pessoas que vieram antes de nós. É uma forma de ressaltar os saberes e os fazeres desses mestres e brincantes que geralmente estão à margem da sociedade, sem tanto acesso a políticas públicas", afirma.

Nesse sentido, a roda de conversa com integrantes do Coco do Iguape possibilitará aos espectadores maior conhecimento sobre o trabalho do grupo e as características da dança - tudo isso a partir dos relatos dos próprios brincantes. Será também a oportunidade de Izaura e Nayana apresentarem as inspirações e os bastidores do espetáculo. A expectativa é de um espaço de compartilhamento de memórias:

"Esperamos que seja uma conversa bem afetiva, que possamos trazer memórias e que o público possa compartilhá-las conosco. É um momento de muita alegria ver o projeto acontecendo, estamos muito animadas para trazer as pessoas para participarem, compartilharem suas memórias e estudarem conosco".

Ponto Cruz

Quando: a partir de amanhã, 28, até domingo, 30, às 19 horas; roda de conversa no dia 28, após exibição do espetáculo

Onde: Ponto Cruz no YouTube

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