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"A única política que quero defender é a da indústria", diz presidente eleito da Fiec
Economia

"A única política que quero defender é a da indústria", diz presidente eleito da Fiec

Ricardo Cavalcante, presidente eleito da Fiec, falou sobre os projetos à frente da entidade, economia brasileira e política, em entrevista exclusiva ao O POVO
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Em entrevista ao O POVO, ele falou sobre os projetos à frente da entidade, economia brasileira e política (Foto: Tatiana Fortes)
Foto: Tatiana Fortes Em entrevista ao O POVO, ele falou sobre os projetos à frente da entidade, economia brasileira e política

O empresário do segmento de mineração, Ricardo Cavalcante, 57 anos, assume a presidência da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) nesta quinta-feira, 19. Em entrevista ao O POVO, ele falou sobre os projetos à frente da entidade, economia e política nacionais. Assinalou a necessidade de um diálogo constante com os governos federal, estadual e municipal, dizendo ser preciso extrair o melhor de cada governante, independentemente dos aspectos ideológicos. Dentre as prioridades do industrial, estão a "defesa incansável do Sistema S e aumento das exportações dos produtos cearenses". Ricardo é sucessor de Beto Studart e assumirá o cargo até 2024. A solenidade de posse ocorrerá às 20 horas, no espaço La Maison Coliseum, em Fortaleza. 

O POVO - Ao assumir a presidência da Fiec nesta quinta-feira, 19, quais pautas o senhor tratará como prioritárias?

Ricardo Cavalcante - Primeiro, estou recebendo uma casa muito bem estruturada. Então, vou virar minha gestão para a parte externa. Estamos em um processo de acompanhamento das reformas tributária e previdenciária. A gente precisa ter muito cuidado com o empresário porque essa conta, no fim, quem vai pagar é o empresário. Temos que acompanhar passo a passo esse processo. Dentro dos projetos iniciais que nós vamos ter na Fiec está a interiorização de alguma macrorregiões, como Marco, Iguatu, que a gente atende de uma forma, digamos, mais precária. Vamos trabalhar mais forte nessa área. Outra é a prioridade em cima da informação. O empresário do futuro, hoje, vai precisar de informação e, para isso, temos o Observatório da Indústria. Esse Observatório está dando condições não somente ao empresário, mas ao próprio governo do Estado, às outras federações, ao Banco Mundial, que está fazendo o trabalho com a gente, para que a gente possa passar essa informação que o empresário precisa. Precisamos, também, aproveitar o trabalho de uma forma mais forte na internacionalização dos nossos produtos. Tanto na importação como na exportação. Na importação porque nós precisamos entender que a indústria precisa saber qual o preço do mercado local que ela está comprando e a que preço o mundo vende isso. Há várias empresas no Ceará que mudaram a sua condição em função da importação. Compravam de um preço bem mais caro dentro do País e, quando começaram a importar, deram um grande salto de crescimento. Isso é importante. Ao mesmo tempo, também, a exportação. Nós temos nossas pautas de exportações, eu diria que tem 20, 30 anos que são as mesmas: lagosta, carnaúba, calçados, castanha de caju e, agora, entrou a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) que mudou a pauta de exportação.

OP - Como o senhor pretende expandir esse leque de exportações?

RC - Pretendo ampliar não só de uma forma macro de grandes setores, mas de pequenos setores. Por exemplo, olhar o interior do Ceará, o que tem de produção, seja ela da área de uma indústria pequena como confecção. Nós temos várias indústrias de confecções no Brasil, aqui no Ceará é muito forte e podemos internacionalizar. Elas estão trabalhando só no viés de vender para o Brasil. Quando você exporta, tem uma grande vantagem, exatamente exonerar todos os impostos. Então, é uma grande vantagem. Dentro do centro internacional de negócios, nós iremos fazer um trabalho disruptivo para tentar atrair o empresário tanto na área de importação como exportação. Porque eu acho que esses hubs que temos aqui, aéreo, portuário e os cabos de fibras ópticas, vão mudar a vida do empresário. E a gente precisa estar conectado, informado. E a Federação vai propor isso para o industriário.

OP - Na prática, como o senhor irá trabalhar a questão da interiorização industrial no Ceará?

RC - A Federação tem uma unidade grande em Juazeiro, que atende toda aquela macrorregião. Em Sobral, temos outra unidade que atende toda a macrorregião, inclusive a Grendene - que tem lá cerca de 17 mil funcionários, e outras macrorregiões, como Marco, onde tem um polo moveleiro espetacular. Temos uma indústria com 1 mil funcionários, é um negócio impressionante. Nós temos muitos cases no interior que a gente precisa ir lá e cuidar, não que já não estivéssemos cuidando, mas dar um tratamento mais especial para que a gente possa fazer esse processo de internacionalização.

OP - E qual seria esse tratamento especial? Quais são projetos que o senhor deseja implantar? Eles incluem capacitação profissional?

RC - A capacitação já estamos fazendo. Eu diria o seguinte: o Observatório da Indústria é um Big Data que a gente tem aqui e podemos pegar toda a informação. Agora, nós estamos querendo fazer isso via Centro Internacional de Negócios (CIN), no qual a gente quer pegar o produto do industrial, olhar que preço tem esse produto no mundo, onde está sendo comprado e fazer um link. O mundo é digital e a gente precisa fazer isso. A função da Fiec nessa interiorização é justamente isso. Nós temos lá a parte da Serra Grande, que também é um polo enorme, são vários setores. A gente vai parar nesse primeiro momento, ver o que é necessário e levar informação. Nós estamos passando por um processo de mudança de paradigma da indústria, temos indústria 4.0, mas ainda temos muito indústria 3.0. A gente precisa fazer esse equilíbrio para que todos possam absorver essas informações e crescer e gerar mais empregos, que é a nossa função principal.

OP - O senhor disse que chegou em uma casa muito bem estruturada. Como pretende dar continuidade ao trabalho do Beto, mas, também, fazer sua marca?

RC - Eu diria que a minha marca será feita nos próximos cinco anos. Eu seria muito irresponsável em já dizer qual seria minha marca. A marca a gente faz com o nosso trabalho. Agora, estou na Federação já há nove anos como diretor administrativo. Participei da administração do Roberto Macêdo e do Beto Studart. Então, participei de muita coisa que aconteceu e está acontecendo. E, olha, hoje, estamos fazendo o planejamento estratégico da Federação para os próximos dois anos, porque, antigamente, era para 10. Hoje, dois é muito (risos). Se você me perguntar qual será minha marca, eu não seria justo em falar algo. Acho que a sociedade é que tem que reconhecer isso com o decorrer do tempo.

OP - Na avaliação do senhor, quais são os principais gargalos da indústria cearense e como busca enfrentá-los?

RC - Um dos gargalos que a gente está discutindo, mas o Governo do Estado já tomou providências, é a parte de logística. Temos várias estradas com problemas, como o acesso a Porto do Pecém - que tem gerado um problema seríssimo. Mas o Governo do Estado já deu ordem de serviço e esperamos que, o mais rápido possível, isso aconteça. A outra é a parte tributária. A gente vai e volta e sempre a conversa está na parte tributária. Precisamos entender como essa reforma ficará para o empresário. Essa é uma discussão que eu acho importante. Hoje, seriam esses dois grandes gargalos: logístico e tributário.

OP - Sobre a reforma tributária, há vários textos, mas o caminho ainda é incerto. Como o senhor acompanha essa discussão?

RC - Primeiro, nós temos quatro propostas e acho que ainda vem mais uma. Não temos uma reforma, temos propostas que estão sendo discutidas e essas discussões estão sendo feitas muito via estados, entes federais, estaduais e municipais, para saber como fica, e não temos ainda uma proposta formalizada. Temos aqui nosso Núcleo de Tributação, que já está discutindo isso. Estamos sentados para tentar apresentar, mas não adianta apresentar mais uma quando já existem quatro. Estamos esperando que o Congresso se reúna, unifique uma proposta, mesmo que seja um pouco de uma e de outra, para que a gente possa se debruçar sobre ela e emitir opinião. Isso é uma das coisas que irei fazer assim que iniciar já um núcleo para tratar e ficar acompanhando isso com reuniões junto ao nosso associado. É importante ouvir o associado, e que ele entenda quanto paga hoje e quanto irá pagar. Se será menos ou mais, e isso é o que nos preocupa.

OP - Do que a Fiec não abre mão na reforma tributária?

RC - A reforma que a gente não pode abrir mão é se tiver aumento de carga tributária. Se tiver aumento, a Fiec não abre mão de jeito nenhum. Essa é uma preocupação que nós temos. É uma verdade que está acontecendo, os entes estão discutindo se vai sobrar dinheiro para um ou paro outro, mas quem está pagando do outro lado não sabe se vai aumentar ou não. A Fiec não abre mão de lutar contra aumento de carga tributária.

OP - Tem possibilidade de retorno da cobrança sobre as transações bancárias aos moldes da antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). No entanto, esse é um debate polêmico, gerou a demissão do secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, mas o Paulo Guedes (ministro da Economia) voltou a defendê-la ontem. O senhor é a favor?

RC - Sou contra. A indústria trabalha em várias cadeias. Se a cada operação houver taxação, por exemplo, a indústria automobilística que compra o pneu, o banco, a roda, compra tudo. Para cada operação que ela fizer tem que pagar? A cadeia no, fim das contas, vai pagar bem mais. Acho que a gente teria ideias melhores para apresentar, desde que não tivesse essa cobrança pela nova CPMF.

OP - Qual seria o impacto na indústria?

RC - A indústria seria impactada como um todo. Se ela fosse um único imposto, a gente poderia pensar. O que está acontecendo? Você está me fazendo várias indagações e o Governo também está jogando várias indagações. Não tem uma coisa fechada. São opiniões que você está me pedindo, estou falando de uma cadeira, depois da outra, depois de outra, não tem uma unificação. Fica difícil responder em partes. Eu diria que a nova CPMF não é um imposto interessante para a indústria.

OP - Na gestão anterior da Fiec, houve uma enxugada no quadro de funcionários. O senhor fará novo corte de pessoal e de gastos como um todo?

RC - Não. Hoje, não temos nesse momento essa pretensão. Mas há uma perspectiva do corte do Sistema em 20% nos próximos três anos. Precisamos entender o que a gente pode fazer, o que trabalho vou propor dentro da diretoria é para aumentar nossas vendas para que a gente dependa menos do compulsório e fazer com que a gente sinta menos possível esse corte, sem ter de precisar demitir funcionários.

OP - O Sistema S. está sob ameaça no atual Governo. Qual a avaliação do senhor sobre isso?

RC - Não diria que vive em ameaça. Acho que o Governo não conhece o Sistema S. Ele é muito importante no País, ele precisa ser vendido no todo para as pessoas entenderem o que são a Fiec, Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as cooperativas, a federação dos transportes... Juntos, representamos 1 milhão e 47 mil de empregos da indústria do Ceará. Tirando isso, ficam órgãos e funcionários públicos. A grande massa de emprego no Estado está nas mãos dessas entidades que fazem o Sistema S. A União tem recursos oriundos do empresário, não é do funcionário. O Governo está falando em corte porque ele quer desonerar a folha de pagamento, só que a folha de pagamento nossa tem 103% de encargos sociais, representando 2,5%, e os 101% quem vai cortar? Estão botando no foco uma coisa, e resta saber se o Governo vai cortar os outros 60%, 70% dele. Acredito que o Sistema S. é importantíssimo não só para economia local, como nacional e, ao mesmo tempo, é quem faz a capacitação do trabalhador. Ano passado, todo o Sistema S. do Ceará atendeu 135 mil empresas. Sejam micros, pequenas ou grandes. Todas. Temos mais de 1,5 milhão de atendimentos de todo o Sistema S. Temos feito nosso trabalho... O Governo devia se aliar mais a gente para tentarmos tirar essas 12,8 milhões de pessoas do desemprego.

OP - Como o senhor vai atuar na defesa do Sistema S?

RC - Vou defender incansavelmente, com números, mostrando que estamos fazendo, divulgando. A nossa divulgação precisa melhorar. Hoje, quem toma o nosso serviço, que é o colaborador da empresa e os familiares dele, que são os próprios empresários... Nesses a gente precisa chegar com mais comunicação, e isso vou fazer com certeza de uma forma bem mais forte para a gente mostre o que o setor está fazendo.

OP - Como a Fiec vai intensificar esse diálogo com o Governo Federal?

RC - Nós representamos na Federação 39 setores diferentes, cada um tem suas demandas. A Fiec, nesses últimos cinco anos da gestão do Beto... posso dizer porque participei muito disto, todas as demandas geralmente de diversos setores a gente tem levado. Seja ela municipal, federal ou estadual, temos que abrir a porta para tentar um diálogo. Conseguimos muita coisa e iremos fazer isso cada vez mais.

OP - Os governadores do Nordeste estão preocupados com a redução de incentivos fiscais para a região. O senhor acredita que há esse risco? Há uma preocupação com essa questão?

RC - Os incentivos fiscais existem e estão aí por mais 10 anos. O que tenho notado é que o Governo tem dito: esses incentivos que eu tenho dado, numa reforma, eu não posso deixar de dar por lei, como eu iria compensar isso? São acordos... Tem muita coisa para ser desenvolvida e discutida a nível de Congresso, para que a gente tenha uma proposta, ter um todo. A gente fica emitindo operações de coisas que, às vezes, não funcionam. Às vezes, vou emitir opiniões de um projeto e, com uma emenda, tiraram ele. A gente fica discutindo uma coisa que não existe mais. A gente perde tempo com coisa que não existe e não funciona. A gente tem que focar, espero que tenha uma velocidade maior com uma proposta, pegar a sociedade e emitir nossa opinião de uma forma mais balizada.

OP - Atualmente, há um olhar do mercado voltado para as pautas ambientais. O senhor não acha que as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em relação a isso atrapalham a atração de investimentos para o Brasil e, consequentemente, a nossa economia?

RC - Eu acho que deveríamos ter mais equilíbrio agora. Nós, industriais, estamos passando por quatro anos de uma crise sem tamanho. Estamos com tanto problema, tanta coisa para ser discutida, temos 12,8 milhões de pessoas desempregadas, e essas pautas - que eu diria importantíssima, a pauta do meio ambiente é vital para o ser humano e futuro do mundo -, mas tem muita coisa que é jogada, muita coisa que é verdade e muitas outras fake news. A gente precisa sair dessa celeuma política. Sempre trabalhei na Fiec tentando o diálogo e acho que, pela política, não me interesso. Estou como líder empresarial, tenho que discutir problema empresarial, mas acho que tem muita coisa misturada. Tem verdades, mentiras e acho que as pessoas devem julgar isso. Cada vez que você dá uma declaração, você só faz jogar ou água ou gasolina. Vejo que estamos num momento em que precisamos pensar e resolver a vida desses 12,8 milhões de desempregados. Acho que isso deveria ser uma pauta de todos que estão no Brasil, principalmente, dos que estão em Brasília. Essa colocação sobre o meio ambiente eu sou totalmente a favor, mas me preocupo muito com jogos. E jogos existem em função da política, e a política que está aí tem coisas que existem há mais tempo e vão continuar existindo. A política, por si só, precisa viver todo dia ou com notícias, matérias, seja o que for. Mas, na parte ambiental, acredito que a gente sempre tem que defender. A Fiec tem há mais de 15 anos um prêmio ambiental, a gente faz uma premiação das melhores empresas ambientais do Estado, estamos fazendo um trabalho com as Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente e Superintendência Estadual do Meio (Semace). Essa parte interna a gente tem feito um trabalho muito bom e de apoio, não só a Federação, mas todos os sindicatos.

OP - O ano começou com a indústria em lua de mel com o novo Governo Federal. Mas as expectativas foram declinando e a economia não está como esperava-se. O senhor acredita numa retomada?

RC - Acho que a economia vai melhorar. Já tem algumas melhoras, não aqui no Ceará e Nordeste, mas, no Sul, já tem. O setor de construção civil no Sul já deu uma melhorada grande, aqui estão aparecendo alguns ensaios, mas eu vejo que teremos, sim. O Brasil nunca teve uma taxa de juros (Selic) tão barata. Quem vive de renda vai começar a procurar negócio, os juros estão lá embaixo. Estamos com uma capacidade ociosa, a indústria está trabalhando com quase 50% da sua capacidade ociosa, então, tem negócio. O que a gente realmente percebe é que o Governo está tentando, e os números do nosso Observatório citam...  é que a gente precisa que essas reformas saiam. Não dá para conviver com um País em que 96% do que ele arrecada está travado e só pode gastar 4%. Imagine você receber o seu salário e saber que 96% você não pode mudar em nada porque está todo travado. Esse é o País onde a gente vive hoje. A gente precisa mudar. Acho que já estamos mudando. As privatizações que foram feitas, como aqui no próprio Estado, o Governador Camilo Santana (PT) fez de uma forma espetacular pelo Porto do Pecém (parceiro do Porto de Roterdã), o aeroporto é outro. Você imagina o que isso não vai ocasionar nos próximos cinco anos em que estarei à frente da Fiec? Com certeza, uma coisa espetacular. Os cabos de fibra óptica teremos 18 em dois anos. Somos a segunda Cidade do mundo com mais cabos de fibra óptica e ninguém está vendo isso, quem está vendo é quem está lá fora. Há uma realidade muito grande para a gente ter esse crescimento e o Ceará está na ponta. Temos um Estado equilibrado, um município equilibrado e estamos com essas joias da coroa que todo mundo está vendo. Aqui, na Federação, temos recebido vários embaixadores, as pessoas estão olhando para isso. Vejo com muita perspectiva. 2020 será um ano que vamos crescer, é minha expectativa.

OP - O senhor falou de um setor que está numa situação crítica, que é o da construção civil. Atividade fundamental para geração de empregos e que, no Ceará, tem sido bastante impactado com a falta de repasses dos recursos para o programa Minha Casa, Minha vida. Qual a leitura do senhor para esse cenário?

RC - O setor da construção civil, dentro da Federação, temos 39 sindicatos. Ele impacta em 20 outros setores. Para você ter ideia da capacidade de gerar emprego e impactar toda uma cadeia que existe. É um setor importante, o Governo está com um problema de caixa. É aquele negócio, na minha empresa, se eu não tenho dinheiro, não consigo pagar, só paga com dinheiro. Chegou a hora da realidade do Governo e ele está dizendo que não tem mais. Ou pede ao Congresso para aumentar ou não tem como fazer. Então, o que vejo é que essa parte precisa ser repensada. É um setor primordial para o País, precisa ser trabalhado. Aqui, o Sindicato das Construtoras (Sinduscon-CE) tem acompanhado páreo a passo, feito vário eventos. O que eu vejo é que o Governo Federal precisa tratar esse setor de uma forma diferenciada. Ele tem uma capacidade de geração de emprego absurda. Não só dentro da obra, mas para quem fornece para eles. Penso que o Governo vai olhar novamente esse setor de uma forma que precisa ser tratada bem mais com carinho. A retomada do emprego pode vir da construção civil.

OP - O que você acha da possibilidade do fim do Minha Casa, Minha Vida?

RC - Acho um absurdo. A gente, cada vez mais, tem que estimular, o próprio Sindicato das Construtoras do Ceará e a associação nacional dele (Cbic) têm feito propostas. O grande problema que se fala é o recurso. Você não pode trabalhar num setor que demanda quantidade enorme de mão de obra, de compras de materiais e não tem os recursos. As empresas vivem do seu ganho. Acho importantíssimo o Minha Casa. O Governo precisa encontrar uma solução para que a gente possa sair dessa crise.

OP - Qual o posicionamento político do senhor?

RC - Não sou ligado a partido político nenhum, a minha visão política… É o que eu digo para os meus filhos: deveríamos ter um pouco de cada um desses (partidos), mas pegando só o que é bom. Isso seria o que estamos precisando. Se eu morasse num País como a Suíça, não estaria discutindo tanta coisa como discutimos hoje. Fui fazer um curso esse ano em Nova York, passei uma semana, as pessoas não falaram em nenhum momento de Governo e Congresso. Falam de disrupção, geração de emprego, que quem está dentro da universidade vai desenvolver um projeto, vai ficar bem e e melhor. A gente volta para o Brasil, quando chega aqui, é um escândalo, discussão de A contra B. A gente fica triste... Não sou do lado de ninguém, sou do lado do bem.

Acho que quem está apresentado as melhores coisas tem que aproveitar. Tem o governo Bolsonaro que está fazendo coisas corretas? Está. Tem um Ministério que não tem nenhum político? Tem o governo como o do Estado do Ceará, organizado como o do Camilo, governador que tem trabalhado, procurado.. Uma hora dessas está viajando procurando novos negócios. Tem a Prefeitura de Fortaleza que está fazendo as coisas. Agora, eles não são do mesmo partido. Isso são problemas políticos. Essa interferência é que faz com que a gente coloque como problemas partidários e a única política que eu quero defender é a da indústria, defender e discutir. Entender que o diálogo é a melhor forma que temos para ultrapassar as coisas... A parte política pertence a eles, eu preciso tirar o melhor de cada um deles para que a gente possa sobreviver de forma harmônica.

OP - O senhor não quis definir sua marca, mas gostaria que fizesse uma auto-análise e detalhasse qual seu perfil de gestor.

RC - Sou pragmático e, ao mesmo tempo, confio em equipes. A vida toda fui empresário, sempre montei as equipes e sempre tentei pegar os melhores. E são os melhores que a gente tem que ter. Quando você me pergunta qual seria a minha visão como presidente, eu diria: hoje, na Federação, temos uma diretoria, composta de excelentes companheiros que a gente tem que dividir as coisas. A Federação não é uma empresa, é uma entidade em que ouço 39 setores. Então, tenho que estar sempre alinhado com essas pessoas. Já recebi empresários para sentar na minha mesa que estavam com 2 mil funcionários chorando, com dificuldade e precisando de uma ajuda. E a ajuda é ir alguém do governo, tentar resolver o problema para que ele saia daquele problema. O trabalho que o Beto fez é um espetáculo. Estou ganhando um presente, mas tem que ser construído dessas pequenas ações. Espero conseguir fazer isso com essas pequenas ações. Uma empresa só cresce se todo dia ela conseguir produzir, e bem. É o que vou tentar fazer na Fiec. Vou tentar ter as melhores assessores, colaboradores, e, ao mesmo tempo, com uma diretoria em que a gente possa sentir o que a indústria precisa. Gosto de ouvir muito, pois quando a gente ouve entende as pessoas. Mas também sou de agir. Ação é algo que temos que fazer com muita velocidade, e isso eu faço. É um início, eu sempre fui, eu diria, diretor, a casa é presidencialista e, a partir de agora, você vai me ouvir mais.

Conheça mais sobre o novo gestor da Fiec 

Natural de Fortaleza, o industrial José Ricardo Montenegro Cavalcante é formado em Gestão Financeira. Foi presidente do Sindicato das Indústrias de Britagem do Estado do Ceará, em três mandatos: de 1993 a 1996; de 1999 a 2003; e de 2009 a 2012. Foi diretor e vice-presidente da Associação Nacional dos Produtores de Areia e Brita do Brasil (Anepac) entre os anos de 1999 e 2003. Exerceu a presidência da Câmara Setorial da Mineração do Estado do Ceará nos anos de 2011 e 2012. Assumiu a diretoria do Centro Industrial do Ceará (CIC) por quatro mandatos, entre os anos de 2001 e 2004 e de 2012 e 2014.

No Sistema Indústria cearense, integrou a diretoria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) entre os anos de 1999 e 2002. Foi diretor administrativo adjunto da Federação entre os anos de 2010 e 2014 e foi diretor administrativo da gestão Beto Studart de 2014 a 2019. É, atualmente, presidente do Sindicato das Indústrias da Extração de Minerais Não Metálicos e de Diamantes e Pedras Preciosas, de Areias, Barreiras e Calcários no Estado do Ceará (Sindminerais-CE), com mandato até 2022. Também é membro da Associação Nordeste Forte, entidade que congrega todas as Federações de Indústrias da Região Nordeste. É ainda presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/CE, com mandato até 2022.

Confira imagens da entrevista de Ricardo Cavalcante ao O POVO

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