“Marcante”, “meigos”, “profundos”, "oblíquos e dissimulados”, os olhos fazem parte do enredo de poemas românticos já consagrados na história e além de ser fonte de inspiração para os amantes, passaram a representar um dos principais centros de investimento do mercado de beleza e estética no Brasil com a pandemia de Covid-19.

O uso de máscara como principal medida de proteção individual e coletiva contra o coronavírus fez com que as preocupações com os cílios, sobrancelhas, olheiras, pele e rosto de modo geral fossem o principal atrativo deste mercado durante o período pandêmico. 

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No Ceará, a empresária Érika Aragão, dona da rede de clínicas Cílios Design, especializada em alongamento e extensão dos fios, viu a demanda pelo serviço aumentar em mais de 20% e somado com a procura dos produtos vendidos para cuidados estéticos com o olhar, conduzir o faturamento a um saldo de mais de R$ 4 milhões no ano passado. O salto acompanha a projeção do instituto de pesquisas norte-americano 1010data, que identificou um crescimento mensal de 9% na busca por maquiagem e procedimentos estéticos para os olhos em 2020 no Brasil.

"E não somente pelos procedimentos, tivemos um aumento de cerca de 30% na procura pelos cursos que ofertamos. Muitas mulheres que ficaram desempregadas com a pandemia procuraram no ramo da estética, do trabalho com cílios, uma forma de se empoderar e conquistar sua independência financeira", relata Érika. Ela detalha ainda que durante o lançamento da Universidade dos Cílios, já em 2021, houve o faturamento de mais de R$ 100 mil em apenas um único dia. 

A tendência de alta acelerada para o setor deve se manter ao longo de 2021, porém de forma menos intensa, conforme avalia a empresária cearense que atua no mercado há seis anos. No contexto nacional, o cenário ainda é de positividade.

Conforme dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o aumento de franquias relacionadas ao segmento de saúde, beleza e bem-estar foi de 12,1% no primeiro trimestre deste ano, enquanto demais áreas registraram queda de até 11%. Em 2020, o lucro de franquias relacionadas à estética facial chegou a cerca de R$ 9,1 milhões.

Movimento está associado, para além de questões estéticas, a uma maior preocupação com autoestima, independentemente de gênero, com foco no autocuidado como forma de melhorar a qualidade de vida.

Com serviços voltados também para sobrancelhas e região dos lábios, Érika afirma que durante pandemia de Covid-19 muitos clientes apostaram na manutenção da autoestima como forma de bem-estar. "Com o isolamento, muita gente ficou abalada e com a necessidade de se sentir bem, a estética foi o caminho. Nós crescemos muito ano passado, e ao contrário do que muitos pensam, a beleza não é futilidade, é uma forma de cuidar de si mesmo". 

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Para além dos empreendimentos, o consumo de produtos relacionados à estética facial também apresentou elevação, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). Os maiores destaques foram as máscaras de tratamento facial, que registraram 91% de crescimento no consumo e para os esfoliantes de modo geral, cujas compras apresentaram alta de 153,2%.

Outro movimento impulsionado pela busca de uma maior valorização do olhar foi a troca dos óculos de grau por lentes de contato. Tanto pela valorização do olhar quanto para evitar o embaçamento das lentes dos óculos devido à respiração, fato comum com uso de máscaras. O empresário do ramo, Márcio Canamary, gestor da Neolentes, afirma ter registrado aumento de 100% nas vendas das lentes oculares durante a pandemia.

Como forma de abarcar a maior demanda e impulsionar o crescimento, ele frisa que o fortalecimento das vendas virtuais é uma das principais formas de se firmar no mercado. “A internet é um caminho sem volta. Pensamos na praticidade da compra, tendo em vista o dia a dia corrido das pessoas e essa nova tendência de comportamento”, afirma.