O segundo ano da pandemia da Covid-19 não poderia ter começado de outra forma. Esperança era o sentimento que enchia o peito de bilhões de pessoas pelo mundo ansiosas para que a imunização caminhasse e pusesse um fim à pandemia que confinou o planeta em 2020.
No entanto, as desigualdades globais de sempre se fizeram presentes, a imunização não chegou a todos que a queriam e segue sendo dificultada por aqueles que negam a ciência e sua eficácia. E 2021 chega ao fim com as incertezas relacionadas à variante Ômicron do coronavírus.
Se o ano que agora termina era para ter sido de tranquilidade e de volta à normalidade em relação a 2020, ele começou escancarando as portas do Capitólio, em cenas que, de tão surreais, pareciam um filme B americano.
A invasão à sede do Legislativo em Washington serviu de amostra do quanto a institucionalidade política mundial seria colocada à prova. O ano de 2021 registrou sete tentativas de golpes de Estado, o maior número em duas décadas. Cinco foram bem-sucedidas: Mianmar, Chade, Mali, Guiné e Sudão.
No Afeganistão, os Estados Unidos saíram pela porta dos fundos, assinando o recibo do fracasso após duas décadas de empreitada militar, e abandonaram os afegãos à própria desgraça que atende pelo nome de Talibã.
O refresco democrático ficou por conta – ora vejam só – da América Latina. A esquerda saiu vitoriosa no Peru e no Chile, enquanto a direita venceu no Equador. Disputas acirradas, mas com processos eleitorais respeitados e relativamente tranquilos (com exceção do peruano).
2021 foi também o ano em que Angela Merkel pediu o boné na Alemanha e deu lugar a Olaf Scholz. Com forte discurso voltado para a sustentabilidade ambiental, caberá a ele e ao vencedor das eleições francesas de abril de 2022 mostrarem os caminhos do futuro de uma União Europeia pós-Brexit e novamente assombrada pela pandemia. (com AFP)
Apesar da esperança gerada pelas vacinas contra a Covid-19, a pandemia provocou mais mortes em todo o mundo em 2021 (3,3 milhões até o meio de dezembro) do que no ano anterior, elevando o número oficial, bastante subestimado – segundo a OMS – a 5,36 milhões, em grande parte devido à variante delta, mais contagiosa.
Embora a OMS tenha enviado especialistas para a China, a origem da pandemia ainda não foi elucidada. As vinte vacinas reconhecidas em todo o mundo permitiram administrar mais de 8,5 bilhões de doses, com flagrantes desigualdades de acesso entre países ricos e pobres e com relutância do movimento antivacinas.
O mundo voltou a experimentar quarentenas e confinamentos, especialmente prolongados nas grandes cidades australianas. As fronteiras foram parcialmente reabertas. Em julho, as Olimpíadas de Tóquio foram realizadas, com um ano de atraso e quase a portas fechadas.
Desde o fim do ano, a Europa enfrenta o ressurgimento da pandemia, o que traz novas restrições e desafios. O sucesso dos testes clínicos com os medicamentos contra a Covid-19 está trazendo novas esperanças, mas isso é ofuscado pelo surgimento da variante Ômicron, detectada pela primeira vez na África do Sul, com múltiplas mutações e potencial para ser altamente contagiosa.
Em 6 de janeiro de 2021, várias centenas de apoiadores do então presidente em exercício Donald Trump invadiram o Congresso dos Estados Unidos, tentando impedir que os congressistas certificassem a vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial de novembro. As cenas de caos provocaram consternação em todo o mundo.
Cinco pessoas morreram durante o ataque e Donald Trump foi banido do Twitter, Facebook e YouTube. Em 20 de janeiro, Joe Biden prestou juramento em uma cerimônia de posse que não contou com a presença de seu antecessor, que se recusou a aceitar a derrota.
Acusado pela Câmara dos Representantes de "incitar a insurreição" no ataque ao Capitólio, Donald Trump foi absolvido pelo Senado em fevereiro, após um segundo julgamento de impeachment.
Em 17 de janeiro, o opositor e ativista anticorrupção Alexei Navalny foi preso em seu retorno à Rússia após uma convalescença de cinco meses na Alemanha, devido a um incidente de envenenamento pelo qual acusou o presidente Vladimir Putin e os serviços secretos russos.
Em fevereiro, Navalny, objeto de vários processos judiciais, foi condenado a dois anos e meio de prisão por um caso de fraude que data de 2014, denunciado por ele como política. Suas organizações, qualificadas como "extremistas" pelos tribunais, foram incluídas na lista de organizações proibidas na Rússia em agosto.
Em 1º de fevereiro em Mianmar, o Exército deteve a líder do governo civil, Aung San Suu Kyi, encerrando um período democrático de dez anos após quase meio século de regime militar. O golpe desencadeou manifestações reprimidas com violência e deixaram mais de 1,1 mil civis mortos e milhares de opositores presos. Prêmio Nobel da Paz em 1991, ela foi condenada a dois anos de prisão.
Do outro lado do mundo, no Chade, o general Mahamat Idriss Déby foi proclamado chefe de Estado pela junta militar em 20 de abril, após a morte de seu pai, o marechal Idriss Deby Itno, após 30 anos no poder. Também houve golpes no Mali, Guiné e Sudão.
No Haiti, um país em crise perpétua, o presidente Jovenel Moise foi assassinado em 7 de julho em sua casa por um comando armado supostamente formado por mercenários colombianos. O magnicídio agravou ainda mais a instabilidade do Haiti e as eleições originalmente programadas para novembro foram adiadas para uma data indefinida.
Da Nicarágua ao Peru, a América Latina viveu um ano repleto de eleições. Em abril, o Equador escolheu como presidente o empresário conservador Guillermo Lasso, que venceu por cinco pontos o candidato do correismo Andrés Arauz.
Muito mais estreita foi a margem no Peru, onde o professor de esquerda Pedro Castillo e a direitista Keiko Fujimori se enfrentaram em uma votação acirrada em 6 de junho que só foi resolvida um mês e meio depois, com a proclamação da vitória de Castillo em meio a acusações de fraude da oposição.
Na Nicarágua, as eleições de novembro reforçaram Daniel Ortega, embora tenham sido consideradas ilegítimas pela comunidade internacional devido à prisão e repressão de opositores. A reta final do ano também contou com eleições presidenciais em Honduras, com a esquerdista Xiomara Castro se tornando a primeira mulher presidente.
No Chile, o esquerdista Gabriel Boric derrotou José Antonio Kast, candidato de extrema-direita e admirador do ditador Augusto Pinochet. Com apenas 35 anos, o ex-líder estudantil tomará posse em março de 2022 para se tornar o presidente mais jovem da história chilena.
2021 também foi um ano de protestos na região, da Colômbia ou Equador a Cuba, onde o regime comunista foi surpreendido por grandes manifestações em julho.
Em 3 de maio eclodiram confrontos em Jerusalém Leste, zona palestina da cidade ocupada por Israel, à margem de uma manifestação em apoio às famílias palestinas ameaçadas de despejo em favor de colonos judeus. Os confrontos entre palestinos e forças israelenses ocorreram na Esplanada das Mesquitas e na Cisjordânia ocupada.
Em 10 de maio, o movimento islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza, respondeu disparando foguetes contra Israel. De acordo com as autoridades locais, 260 palestinos morreram na Faixa de Gaza. Em Israel, os foguetes mataram 13 pessoas, de acordo com o Exército.
Em 13 de junho, Israel encerrou 12 anos de governo de Benjamin Netanyahu com um Executivo liderado pelo líder da direita nacionalista Naftali Bennett e seu aliado de Yair Lapid.
O Reino Unido, que deixou o mercado único europeu em 1º de janeiro, enfrenta uma perda de mão de obra desde junho, especialmente no transporte rodoviário, levando à escassez em supermercados, restaurantes e posto de gasolina. O Brexit também criou tensões na Irlanda do Norte e entre o Reino Unido e seus vizinhos.
Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel deixou o poder após 16 anos. O líder dos social-democratas, Olaf Scholz, aliado do partido Verde e dos Liberais, assumiu em dezembro como chanceler
Um aquecimento global constante e acima do limite desejável de 1,5ºC estabelecido pelo Acordo de Paris teria "impactos irreversíveis nos sistemas humanos e ecológicos", alertou relatório de especialistas em clima da ONU. Os eventos climáticos extremos estão se multiplicando: no fim de junho, uma onda de calor causou dezenas de mortes no Canadá e no oeste dos EUA.
Inundações catastróficas atingiram Alemanha e a Bélgica no mês seguinte, com mais de 200 mortes. De acordo com uma agência científica americana, julho foi o mês mais quente já registrado na Terra.
Em novembro, a COP-26 adotou um acordo para acelerar o combate ao aquecimento global. Mas o "Pacto de Glasgow" não garante o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris e não atende às demandas de ajuda dos países pobres.
Em 15 de agosto, os talibãs entraram em Cabul sem enfrentar qualquer resistência, após uma ofensiva relâmpago que começou em maio, quando as forças dos EUA e da Otan começaram a se retirar. O retorno do Talibã ocorre 20 anos depois de sua expulsão do poder por uma coalizão internacional liderada pelos americanos.
Milhares de afegãos que colaboraram com os países estrangeiros presentes no país nos últimos anos, principalmente os EUA, foram retirados. Agora, o país enfrenta uma crise de segurança devido à atividade de grupos terroristas, principalmente do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K). Diante da tragédia humanitária, a comunidade internacional se pergunta que posição tomar em relação ao regime talibã.
O ano de 2021 marcou um antes e um depois no turismo espacial. Em julho, Richard Branson vai ao espaço com um foguete de sua empresa, Virgin Galactic e, posteriormente, Jeff Bezos participa do primeiro voo com passageiros de sua empresa Blue Origin, que transporta William Shatner, capitão Kirk de "Star Trek" em outubro.
Em setembro, os primeiros quatro turistas espaciais da SpaceX, empresa de Elon Musk, passaram três dias no espaço, durante a primeira missão orbital da história sem astronautas profissionais. Além disso, a Nasa fez com que seu robô Perseverance pousasse em Marte em fevereiro.
Em maio, a China também consegue levar um pequeno robô a Marte e, desde junho, os chineses constroem sua própria estação espacial.