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Entenda por que Covid, hoje, é ameaça menor às eleições de 2022 em Fortaleza
Reportagem Especial

Entenda por que Covid, hoje, é ameaça menor às eleições de 2022 em Fortaleza

Eleições na Capital em 2020 coincidiram com chegada da 2ª onda da pandemia. Mas vacinação não havia nem começado no território brasileiro. Datas do 1º e 2º turnos precisaram ser alteradas para garantir segurança sanitária

Entenda por que Covid, hoje, é ameaça menor às eleições de 2022 em Fortaleza

Eleições na Capital em 2020 coincidiram com chegada da 2ª onda da pandemia. Mas vacinação não havia nem começado no território brasileiro. Datas do 1º e 2º turnos precisaram ser alteradas para garantir segurança sanitária
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Com o "enxame de gente" do Carnaval cearense contido por medidas de distanciamento social, para ajudar a frear a Covid-19, a próxima grande aglomeração prevista para este ano estará fervendo daqui a seis meses. O 1º turno das eleições de 2022 está agendado para 2 de outubro, mas os movimentos de rua começarão bem antes. Ainda não se sabe o que estará liberado para candidatos e eleitores até lá e qual será o quadro da pandemia, mas o passado referencia o presente.

Nas últimas eleições, em 2020, quando foram escolhidos prefeitos e vereadores, o período coincidiu com a chegada da segunda onda da pandemia em Fortaleza. A nova cepa faria mais estragos, seria mais duradoura. O fator vacina era determinante - até então nenhuma havia sido aplicada no País, o que só aconteceria em meados de janeiro seguinte.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), amparado por informações científicas de especialistas e respaldado pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 107/2020, aprovada no Congresso Nacional, já havia adiado para novembro o calendário das urnas. O eleitor votou dias 15 e 29 de novembro - as datas anteriores eram 4 e 25 de outubro. Esperava-se que a doença abrandasse, mas não foi o que aconteceu.

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A Central DataDoc, de Jornalismo de Dados do O POVO, esmiuça os números da pandemia em Fortaleza no recorte eleitoral de 2020 e os efeitos da doença na população naquele momento. Para comparar o que poderá ser semelhante ou diferente em 2022 na relação covid-eleições. O período analisado foi entre 16 de outubro, um mês antes do primeiro turno, e 4 de dezembro, data do primeiro boletim epidemiológico emitido na Capital após o resultado das urnas.

As três bases de dados consideradas no levantamento são: a plataforma Integrasus, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa); os boletins epidemiológicos da Secretaria Municipal da Saúde (SMS); e os registros nacionais do Ministério da Saúde (MS).

No período analisado, houve um crescimento de 33% de casos e 3% de óbitos de Covid-19 em Fortaleza. Os casos à época saltaram de 52.499 para 69.605 registros; as mortes foram de 3.952 para 4.076 causadas pela doença.

Todos os bairros da Capital tiveram incremento de casos, mas oito deles chegaram a ter aumento acima de 50%: Cidade 2000 (+78%), Guararapes (+74%), Parque Araxá (+70%), Cambeba (+61%), Dendê (+58%), Bom Futuro (+56%), Boa Vista (+53%) e Itaperi(+51%). A ressaltar, são oito bairros de porte pequeno ou médio. Julho havia sido o pior mês de 2020, até então.

 

 


Alta de casos durante as eleições foi acima de 200%

A segunda onda foi abastecida pela variante Gamma, descoberta alguns meses antes na região amazônica, que começava a se espalhar na Capital e se mostrou mais agressiva do que a cepa original do Sars-CoV2 - notificada no Ceará a partir de março de 2020.

O gerente da Vigilância Epidemiológica de Fortaleza, Antônio Silva Lima Neto (Tanta), relembra que "o primeiro turno coincidiu com uma discreta elevação de casos e que ainda não se expressava em mortalidade". Ele destaca que a segunda onda viria a ser exatamente a mais longa da pandemia até agora, incluindo a fase atual, com a variante Ômicron em evidência.

Tanta descreve que a segunda onda teria duas fases distintas: uma inicial, de outubro a dezembro, “com propagação mais lenta”; a outra a partir de janeiro de 2021, com pico de casos e mortes em março, e se estendendo até junho do ano passado.

"Não saberia dizer agora se a campanha eleitoral foi determinante para aquele cenário de 2020, porque precisaria avaliar outros aspectos. Mas ela foi mais determinante em cidades do Interior, o que se expressou principalmente em dezembro. Mas em Fortaleza houve essa coincidência de mais casos com a chegada da segunda onda e as eleições", chancela o epidemiologista.

 

Conforme os registros, os casos de Covid em Fortaleza vinham em queda até setembro/2020, mas explodiram a partir do mês seguinte. A alta em outubro foi acima de 200%, principalmente na faixa etária de jovens até 24 anos.

O mês que antecedeu a votação começara com cerca de 50 casos de média móvel, finalizou com 189, e novembro já terminaria com mais de 355 casos de média móvel. Números que subiram mais até o final daquele ano e assustariam em maior grau no início de 2021. A cidade passou das mãos do prefeito-médico Roberto Cláudio para o eleito, também médico, José Sarto.

Comparando o período eleitoral de 2020 com a penúltima semana de janeiro de 2022, a média móvel de casos no dia 24 de janeiro deste ano estava em 8.880 novos registros por dia. É quase nove vezes a média móvel contabilizada (1.020) na data do 1º turno das últimas eleições (15/11/2020). A variante Ômicron, atual predominante, teve os primeiros três casos confirmados em Fortaleza no dia 23 de dezembro de 2021.

Os atendimentos por síndrome gripal não tiveram alteração significativa, em média móvel e número de casos diários, nas UPAs da Capital. Na ocupação de leitos por perfil específico (adulto, infantil, gestante e neonatal) e por tipo de leito (enfermaria e UTI), a maior variação foi para leitos de gestantes, com 50% de diferença entre os dias 16 de outubro e 4 de dezembro.




Vale lembrar: este ano serão eleitos ou reeleitos deputados estaduais, federais, senadores, governadores e o presidente da República

 

 

Medidas restritivas devem ser seguidas

Segundo o coordenador do Centro de Apoio Operacional Eleitoral do Ministério Público do Ceará (Caopel-MPCE), promotor de justiça Emmanuel Girão, uma possível alteração do calendário das eleições 2022 só irá acontecer na data-limite, 2 de julho, quando faltarão exatos 90 dias para o 1º turno da votação deste ano.

A decisão precisaria estar resguardada obrigatoriamente pela aprovação de uma emenda constitucional no Congresso, como aconteceu em 2020. Mas ele compara os dois cenários como bem distintos e vê que o momento atual caminha para eleições no período agendado.

"Em 2020 a gente estava no auge da pandemia, sem vacinas, e sabia que realmente havia o risco de aumentar o número de casos e óbitos se houvesse aglomeração. Como aconteceu. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passou a seguir o protocolo sanitário. Hoje a situação é diferente. Em outubro também deverá ser diferente", justifica o promotor.

Durante as últimas eleições, 89 processos, relacionados à aglomeração no contexto da Covid-19, foram julgados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE). Mas apenas 22 (25%) resultaram em condenações com multa. Os partidos mais citados nesses processos foram PDT (11), o PL (10), PSB(6), PSD (6) e o PSL (5).

 

 

Calendário eleitoral 2022

"Não acho que vai haver necessidade de medidas tão drásticas quanto as de 2020", pontua. Girão acredita que "se houve uma melhora em número de casos, internações e total de mortes, as eleições devem acontecer num cenário de praticamente normalidade. Se tudo melhorar até outubro".

O parâmetro local são as medidas restritivas definidas pelos decretos estaduais de enfrentamento à pandemia. "É trabalhar para que as medidas adotadas no decreto sejam observadas. Então deveremos aguardar essa evolução da doença", diz o coordenador do Caopel.

Ao O POVO, o TSE respondeu, por meio de nota, que alteração de data das eleições “depende obrigatoriamente de aprovação de uma Emenda Constitucional a ser aprovada pelas duas casas do Congresso Nacional”. E esclareceu que “qualquer decisão para as eleições deste ano seguirá o mesmo roteiro (de 2020) com o devido embasamento científico e seguindo recomendações feitas por especialistas”.

 

Expediente

  • Edição DATADOC Thays Lavor
  • Edição O POVO+ Fátima Sudário e Regina Ribeiro
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  • Texto Cláudio Ribeiro
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