O roteiro do “inauguration day” (dia de inauguração), como é chamado o dia da posse presidencial nos Estados Unidos, será reduzido se comparado aos eventos de anos anteriores.
A pandemia de coronavírus e a polarização no país, que culminou na invasão do Congresso há duas semanas, vão alterar drasticamente o cenário desse dia, normalmente celebrado por centenas de milhares de pessoas em Washington D.C.
Teoricamente a única etapa obrigatória durante a posse presidencial é que o novo gestor recite o juramento presidencial. Entretanto, diversos costumes e tradições foram acumulando-se com a passagem do tempo e do poder.
O POVO explica nuances do dia e o que já se sabe sobre como será a cerimônia de posse do presidente eleito, Joe Biden, e de sua vice, Kamala Harris.
A posse de Biden e Harris ocorre nesta quarta-feira, 20 de janeiro, ao meio-dia no horário de Washington (14 horas em Brasília). É a cerimônia oficial de início do novo governo. "Juro solenemente que vou executar fielmente o ofício de Presidente dos Estados Unidos e vou dar o meu melhor para preservar, defender e proteger a Constituição dos Estados Unidos".
Quando Biden proferir o juramento estará oficialmente empossado. Tradicionalmente o vice-presidente presta um juramento diferente, que ocorre antes da fala do presidente. Os juramentos serão feito no Capitólio, com vista para o National Mall.
A data é fruto da 20ª emenda constitucional dos EUA. Por 140 anos a posse ocorreu, salvo raras exceções, no dia 4 de março. Devido a limitações logísticas impostas na época, votos levavam muito tempo para chegar à Capital. Com os avanços tecnológicos o prazo foi alterado, até mesmo para evitar que o período de transição fosse tão grande. Com isso, a 20ª emenda, ratificada em 1933, decretou que o novo presidente seria empossado na data especificada atualmente.
Não. Entretanto é costume, e um sinal de respeito à democracia, que o presidente que está de saída do cargo compareça ao evento para prestigiar o sucessor. Neste ano, Donald Trump usou as redes sociais para anunciar que não iria à posse de Biden e Harris.
O atual presidente tem pregado, sem provas, que a eleição foi roubada e sequer reconheceu publicamente a vitória dos adversários. O mais próximo que chegou de reconhecer a derrota foi quando falou que uma “transição ordenada” ocorreria em 20 de janeiro. A fala ocorreu momentos após o Congresso ser invadido por grupos extremistas que o apoiam.
Em 20 de janeiro de 2017, na posse de Trump, Barack Obama, então presidente, e até mesmo a candidata que disputou a eleição com Trump e perdeu, Hillary Clinton, estiveram no evento que empossou o republicano.
Na história, os registros dão conta de pelo menos três presidentes que não participaram de nenhum dos eventos da cerimônia de posse de seus respectivos sucessores, mas isso não ocorre há mais de 150 anos.
Os três são: John Adams (que não foi à posse de Thomas Jefferson em 1801), John Quincy Adams (Andrew Jackson, em 1829) e Andrew Johnson (Ulysses S. Grant, em 1869).
A maior diferença da posse deste ano para os demais serão as ausências. A multidão de centenas de milhares de pessoas, normalmente vista durante os eventos de posse, será reduzida a um pequeno grupo de convidados.
Para evitar aglomerações devido à pandemia de Covid-19, que já matou quase 400 mil pessoas só nos EUA, a equipe de transição de Biden pediu publicamente que as pessoas não viajem à Capital
Estima-se que cerca de mil ingressos serão disponibilizados para a posse. E o tradicional desfile de militares pela avenida que dá acesso à Casa Branca, deve ocorrer de modo limitado. Biden vai se dirigir até a residência presidencial, onde viverá pelos próximos quatro anos, com membros do Exército americano.
Normalmente a solenidade é envolta por um sistema de segurança preparado e precavido para todos os tipos de eventualidades e cenários possíveis. Em 2021 os procedimentos serão ainda mais rigorosos.
Para começar, a cidade estará em estado de emergência devido ao decreto da prefeita Muriel Bowser após o caos no Capitólio no começo do mês. Cerca de 25 mil soldados da Guarda Nacional farão a segurança do evento e seguirão na cidade pelo menos até o início de fevereiro.
No ataque ao Congresso, foram identificadas a participação de militares da ativa e da reserva. Por isso, as Forças Armadas não descartam nem a possibilidade de ataques partindo de dentro da própria equipe de segurança. O FBI anunciou que está analisando individualmente todos os soldados da Guarda Nacional designados para a segurança do evento.
Grandes nomes da música e do cinema americano devem estar presentes na posse de Biden, mais um dos costumes que tem se repetido nos últimos anos. Este ano, a cantora e atriz Lady Gaga, uma das maiores apoiadores de Biden desde a campanha, deverá cantar o hino dos Estados Unidos e cantores e bandas como John Legend, Foo Fighters e Jennifer Lopez também farão apresentações.
O evento, que terá uma hora e meia de duração, será transmitido mundialmente. O ator Tom Hanks é o cotado para apresentar a cerimônia. Esta semana a equipe de Biden apresentou uma playlist de 46 músicas variadas que também devem tocar durante o evento. "Representa a diversidade de nossa nação e nossa força e resiliência enquanto esperamos uma nova liderança e uma nova era na América”, disse a coordenação da chapa democrata em comunicado.
1789: George Washington, 1° presidente dos EUA, fez o discurso de posse mais breve da história. Foram 135 palavras proferidas pelo presidente à época.
1861: O 16º presidente dos EUA, o republicano Abraham Lincoln, foi o primeiro presidente a incluir afro-americanos em seu desfile de posse. No ano de 1863, durante seu governo, entrou em vigor o Ato de Emancipação que deu início à abolição da escravidão no país.
1913: O 28° presidente dos EUA, o democrata Woodrow Wilson, foi o primeiro a incluir a presença de mulheres em seu discurso de posse.
1945: Harry Truman, 33° presidente dos EUA, foi o primeiro gestor a ter sua cerimônia de posse transmitida ao país pela televisão.
1961: A cerimônia de posse de John F. Kennedy, 35° presidente dos EUA, foi a primeira a contar com um poeta recitando um poema. Tradição que deve ser repetida na posse de Biden este ano quando a poeta Amanda Gorman, uma jovem negra, recitar obra de sua autoria.
1977: O democrata Jimmy Carter foi o primeiro presidente a realizar o hoje tradicional caminho do desfile da cerimônia de posse a pé.
1981/1985: O frio é uma das marcas da posse presidencial em janeiro. As posses do republicano Ronald Reagan, presidente por dois mandatos, registraram as temperaturas mais quentes e as mais frias nos dias dessa cerimônia desde que ela ocorre nesse mês. Em 1981, os termômetros marcavam 12,7ºC durante a posse, temperatura mais elevada. Quatro anos depois, em 1985 o juramento não ocorreu ao ar livre e seu desfile pela Avenida Pensilvânia acabou cancelado. Reagan fez o juramento no interior do Congresso já que a temperatura à época era de -13,8ºC, com uma sensação térmica de cerca de menos 30ºC por conta do vento.
1993: O 42° presidente dos EUA, Bill Clinton, foi o primeiro a ter uma cerimônia de posse transmitida ao vivo pela internet.
Fonte: Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil
Uma discussão sobre os rumos da democracia nos EUA e no mundo pós-governo Trump
