Logo O POVO+
Com novo olhar e gestão profissional, Ceará e Fortaleza alcançam recordes financeiros
Reportagem Seriada

Com novo olhar e gestão profissional, Ceará e Fortaleza alcançam recordes financeiros

Alvinegros e tricolores adotam administração técnica, com dirigentes remunerados e metas fixas, diversificam receitas e chegam à casa de seis dígitos de receita
Episódio 3

Com novo olhar e gestão profissional, Ceará e Fortaleza alcançam recordes financeiros

Alvinegros e tricolores adotam administração técnica, com dirigentes remunerados e metas fixas, diversificam receitas e chegam à casa de seis dígitos de receita
Episódio 3
Tipo Notícia Por

As aquisições de direitos econômicos em sequência realizadas pelo Ceará e a compra mais cara da história do futebol cearense efetuada pelo Fortaleza não foram fruto de irresponsabilidade ou empolgação dos dirigentes. Ao contrário: os investimentos foram respaldados pela pujança financeira dos clubes em um patamar de Série A nacional e pela organização das respectivas administrações.

Cada um ao seu estilo, Marcelo Paz e Robinson de Castro ocupam os principais cargos das duas maiores potências do Estado. Ambos com mandato até o final deste ano — o Alvinegro obrigatoriamente de saída, e o Tricolor com possibilidade de reeleição —, os presidentes replicaram nos clubes o modelo de gestão das próprias empresas, com profissionalismo, perfil técnico e olhar atento para gerar novas receitas e rechear os cofres.

Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, e Robinson de Castro, mandatário do Ceará
Foto: Deísa Garcêz/Especial para O Povo
Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, e Robinson de Castro, mandatário do Ceará

 

Na elite nacional desde 2018, o Vovô conseguiu faturar R$ 64 milhões na primeira temporada e saltou para R$ 98 milhões no ano seguinte. O resultado de 2020 só será divulgado em abril, mas o orçamento previsto para 2021 projeta as maiores cifras da história do clube de Porangabuçu: R$ 151 milhões.

O Alvinegro contratou a consultoria da empresa Dom Cabral para definir o planejamento estratégico, estabelecer organograma e ampliar o radar para novas áreas de atuação — e faturamento. A agremiação conta com executivos remunerados em quase todos os setores, assumiu a gestão do programa de sócio-torcedor e criou a marca própria.

 

A Cidade Vozão — centro de treinamento localizado em Itaitinga, Região Metropolitana de Fortaleza — e a sede receberam melhorias e investimentos em diversas áreas, com reformas estruturais e equipamentos. As obras, a capacitação dos profissionais e os aparelhos mais modernos possibilitam a formação de novos talentos, que trazem retorno financeiro, e dão o suporte necessário para os atletas desempenharem em alto nível.

Estádio Carlos de Alencar Pinto, sede do Ceará Sporting Club, em Porangabuçu
Foto: Felipe Santos / Ceará SC
Estádio Carlos de Alencar Pinto, sede do Ceará Sporting Club, em Porangabuçu

 

O Tricolor, por sua vez, conseguiu retomar o fôlego financeiro após quase uma década de Terceira Divisão. Em 2018, na Série B, os cofres receberam R$ 51 milhões. Na temporada seguinte, de volta à elite, foram R$ 120 milhões de receita total. A projeção orçamentária para este ano também está na casa dos seis dígitos: R$ 113 milhões.

Dono da marca Leão 1918 e do programa de sócios-torcedores, o clube do Pici firmou acordo com a Gomes de Matos para consultoria da gestão. Os dirigentes estatutários — inclusive presidente e vices — deixaram de ser abnegados e passaram a ser remunerados a partir de 2019, trabalhando em conjunto aos executivos de cada área.

A pedido de Rogério Ceni, o estádio Alcides Santos se transformou em Centro de Excelência, com novos campos, reformas de academia, vestiário, sala da comissão técnica, auditório, refeitório, hotel etc. O CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú, também ganhou atenção sob gestão do antigo técnico, que comandava boa parte dos treinos na cidade vizinha.

Departamento de fisioterapia do Fortaleza no Centro de Excelência Alcides Santos, no Pici
Foto: Divulgação/Fortaleza EC
Departamento de fisioterapia do Fortaleza no Centro de Excelência Alcides Santos, no Pici

 

"Acompanhando há alguns anos os balanços dos clubes da Região, sempre me chamou atenção a dívida reduzida que Ceará e Fortaleza tinham, sobretudo comparado a Sport, Náutico, Santa (Cruz), Bahia e Vitória, que têm passivos de R$ 50, R$ 70, R$ 100, R$ 150 milhões, enquanto Ceará e Fortaleza estavam com R$ 10, R$ 15 (milhões), algo completamente controlável. Mesmo com o Fortaleza na Terceira Divisão e o Ceará na Segunda Divisão por alguns anos, isso já passava a imagem de que eles não tinham folha paralela, ou seja, enquanto outros clubes tinham receitas consideráveis e tinham que reservar R$ 500 mil, R$ 1 milhão para pagar débitos na Justiça do Trabalho, os cearenses começavam a zerar esse processo e investir tudo no futebol, qualificar seus times, a estrutura", analisa o jornalista Cassio Zirpoli, do Podcast 45 e autor do Blog do Cassio Zirpoli.

Vendas amenizam prejuízos em 2020

Alvinegros e tricolores completarão em breve exatamente um ano dos últimos jogos com presença de público. A pandemia de Covid-19, que paralisou o futebol nacional em março de 2020, forçou os clubes a jogarem com portões fechados durante quase uma temporada inteira — e, por consequência, sofrerem abalos financeiros.

Sem receitas de bilheteria, bares e estacionamento, Ceará e Fortaleza sentiram o baque do vazio da Arena Castelão. As movimentações no mercado da bola — principalmente realizadas por terceiros — possibilitaram um respiro aos cofres.

O Vovô faturou quase R$ 25 milhões com as negociações de Valdo, Artur Victor, Arthur Cabral e Mateus Gonçalves. Os atacantes xarás, crias da base de Porangabuçu, foram vendidos pelo Palmeiras-SP para RB Bragantino-SP (R$ 6 milhões) e Basel, da Suíça (13,4 milhões), respectivamente. Já o zagueiro (R$ 3,2 milhões) e o outro atacante (R$ 2,3 milhões) foram transações feitas diretamente pelo clube cearense.

Já o Leão do Pici viu o atacante Éverton Cebolinha render R$ 9 milhões pela venda do Grêmio-RS ao Benfica, de Portugal. Além disso, a ida de Yuri César, que pertencia ao Flamengo-RJ, para o Shabab Al Ahli, dos Emirados Árabes, gerou mais R$ 1,1 milhão de receita para o clube em razão da taxa de vitrine.

 

 

O que você achou desse conteúdo?