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Um ano depois, assassinatos durante motim da PM seguem sem esclarecimento
Reportagem Seriada

Um ano depois, assassinatos durante motim da PM seguem sem esclarecimento

De 80 dos 112 homicídios ocorridos em Fortaleza entre 19 de fevereiro e 1º de março de 2020, apenas 11 tinham denúncia apresentada, conforme levantamento de O POVO
Episódio 1

Um ano depois, assassinatos durante motim da PM seguem sem esclarecimento

De 80 dos 112 homicídios ocorridos em Fortaleza entre 19 de fevereiro e 1º de março de 2020, apenas 11 tinham denúncia apresentada, conforme levantamento de O POVO
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A paralisação da Polícia Militar em fevereiro do ano passado completa um ano em 2021 e suas marcas na segurança pública do Estado ainda estão por ser computadas. O motim ajuda a explicar parte de um aumento sem precedentes no número de homicídios, na avaliação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

Desde o início do século, um ano não tinha aumento tão grande no número de assassinatos quanto 2020. O aumento de 78% na comparação com 2019 supera o observado em 2017, quando houve um aumento de 50,66% em relação a 2016. A explicação dos bastidores do boom de assassinatos durante o motim ainda não está clara, já que a maioria dos crimes segue sem resolução.

De 112 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) ocorridos em Fortaleza entre 19 de fevereiro e 1º de março de 2020, O POVO localizou 80 inquéritos em buscas no sistema de consulta processual do Tribunal de Justiça (TJCE). Desses, apenas 11 casos constavam como denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPCE). Seis haviam sido arquivados e 63 continuavam em andamento.

O POVO havia solicitado à SSPDS, em abril do ano passado, o índice de elucidação dos homicídios ocorridos em Fortaleza durante a paralisação. Não houve resposta. Foi solicitado mais uma vez na semana passada e também não foi respondido. A informação também não foi repassada em pedido feito em março de 2020 por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Ao longo do ano passado, a SSPDS emitiu diversas notas afirmando que a “estratégia de combate à criminalidade no Estado do Ceará foi impactada” pelo motim, o que provocou um “acirramento da rixa entre grupos criminosos”. Apesar disso, a Secretaria já tratava no segundo semestre os efeitos do motim como tendo "ficado para trás", assim como os efeitos da pandemia, conforme afirmou ao O POVO em outubro o secretário Sandro Caron.

Os números mostram que, de fato, o impacto foi maior no primeiro semestre, período que, sozinho, igualou o número de assassinatos em 2019. Foram 2.245 em 2020 contra 1.106 do primeiro semestre retrasado. Os números, porém, jamais voltaram ao patamar de 2020 e janeiro de 2021 foi o 13º mês seguido de aumento no número de homicídios.

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Entre os casos que ainda esperam uma conclusão estão cinco assassinatos cujas provas preliminares apontavam estarem ligados entre si. Os assassinatos ocorreram em bairros próximos (José Walter, Mondubim e Maraponga) em um entre 19 e 22 de fevereiro e possuíam "modus operandi" semelhante conforme a Polícia Civil. Testemunhas relataram que os autores dos assassinatos foram grupos de motociclistas nas mortes de Mateus Ferreira da Conceição, Marcelo Vinicius Silva de Oliveira, Adriano Jesus de Sá, Francisco Bruno Cosmo Sena e Antônio Rubens Castro de Souza.

No caso de Francisco Bruno, morto no José Walter, a Polícia apurou que os assassinos eram seis homens, em três motos, apoiados por um carro. Os criminosos seriam “altos" e "fortes" e teriam chegado já disparando, sem manter diálogos. Francisco Bruno havia testemunhado o assassinato de Adriano.

Entre os casos elucidados, por outro lado, está o linchamento de Marcia Vitória de Sousa de Lima. Conforme a Polícia Civil, ela foi morta após tentar assaltar, ao lado de um homem não identificado, uma pizzaria do bairro Pajuçara, em Maracanaú.

Uma das vítimas do assalto percebeu que a arma usada no crime era falsa e reagiu à ação. Eles conseguiram imobilizar Márcia Vitória e o seu comparsa fugiu. “Ato contínuo, o estabelecimento começou a encher de gente, e a situação ficou totalmente fora do controle, e as pessoas começaram a xingar e a chutar a assaltante”, consta na denúncia do MPCE.

Carros parados durante motim da Polícia Militar em fevereiro de 2020(Foto: Aurelio Alves/ O POVO)
Foto: Aurelio Alves/ O POVO Carros parados durante motim da Polícia Militar em fevereiro de 2020

O dono da pizzaria afirmou à Polícia que tentou chamar a PM, mas, em virtude da greve, nenhuma viatura apareceu no local. Os linchadores chegaram a atear fogo no corpo de Marcia Vitória. As agressões foram filmadas e permitiram a identificação de alguns dos agressores. Dois homens e uma adolescente que participaram das agressões foram identificados.

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