A mudança na rotina por conta do isolamento social, implantado no Estado desde março, também tem trazido uma série de alterações nos hábitos de consumo dos cearenses, o que acabou impulsionando a venda de produtos voltados para o uso ou consumo em casa.
Mesmo com a possibilidade de esse pico se estabilizar nos próximos meses, empresários do setor acreditam que muitos desses itens ganharão efetivamente mais espaço no pós-crise, já que devem ser priorizados pelos consumidores no chamado "novo normal".
Um dos setores que mais têm apresentado crescimento neste período, evidentemente, é o de higiene pessoal, dada a preocupação com a limpeza gerada pela Covid-19. Além dele, entretanto, o mercado de cosméticos e produtos de beleza em geral também disparou, conforme destaca Paulo Gurgel, presidente da Cigel, que atua nestes dois segmentos.
"Com a tendência do 'faça você mesmo', itens de beleza têm sido essenciais no carrinho de compra dos consumidores", destaca. A empresa cearense, inclusive, registrou uma alta de 80% em suas vendas no último mês de abril, elevando bastante as metas de crescimento para este ano. "Para 2020, planejávamos crescer 25%, agora a perspectiva é de que este avanço chegue a 40%", avalia Paulo.
Ainda de acordo com o presidente da Cigel Cosméticos, que também teve uma alta de 20% em suas vendas de produtos capilares, a curva ascendente do setor deve continuar por mais "dois ou três meses", com uma estabilidade logo em seguida.
Ele aposta, porém, que os produtos beleza e higiene pessoal estarão em um "novo patamar" de comercialização, que será diferente do que havia antes da crise. "A pandemia trouxe inúmeras mudanças, uma delas é a revolução nos hábitos de higiene da população mundial. Acredito que haverá uma cultura diferente no futuro. Essa tendência deve continuar mesmo no pós-crise", complementa.
Com as pessoas mais tempo dentro de casa, alguns hábitos que já vinham em crescimento acabam sendo ainda mais impulsionados, como é o caso do consumo de vinhos. Segundo pesquisa da Forbes, os norte-americanos, por exemplo, consumiram 66% a mais da bebida em março, o que não é diferente no Brasil, já que a categoria de alimentos e bebidas - dentre elas, o vinho - liderou a alta do e-commerce em abril, com avanço de 294%, segundo levantamento da empresa Compre & Confie.
"Outros hábitos, como o da leitura, impulsionam a busca pelo produto. Além disso, as pessoas estão entediadas e tristes dentro de casa, e o vinho tem esta característica de trazer mais alegria, astral e euforia", diz Crica Bezerra, proprietário do Grupo Geppos, que detém a Grand Cru Fortaleza, franquia especializada em vinhos de alto padrão.
Conforme Crica, o setor já vinha avançando no Brasil ao longo dos últimos anos, especialmente no Nordeste, onde a busca por vinhos brancos cresceu consideravelmente. Segundo ele, a empresa havia feito uma grande estoque antes da pandemia e, com a crise, resolveu apostar em promoções e no serviço de delivery com frete grátis para "desafogar" os produtos.
"Estamos com um desconto fixo de 30%, válido para compras a partir de quatro garrafas, até essa situação acabar. A resposta dos consumidores tem sido muito positiva, já que conseguimos manter o mesmo ritmo de vendas de quando a loja estava aberta", detalha.
O proprietário da Grand Cru Fortaleza revela, ainda, que, por incrível que pareça, os vinhos com custos mais elevados, de até R$ 600 a garrafa, foram os primeiros a esgotar no estoque. Para ele, isso mostra que os consumidores estão dispostos a investir em "momentos de alegria" para fugir um pouco do atual cenário de pandemia. “As pessoas têm se permitido comprar um bom vinho para datas especiais como a Páscoa e o Dia das Mães, mas também na rotina em casa", complementa.
Reportagens aborda o desempenho de empresas que aproveitam as novas demandas de consumo criadas durante a pandemia de coronavírus e conseguem alavancar seus negócios mesmo diante de um cenário adverso.