As romarias e a figura de Pe. Cícero fazem do Cariri uma das principais regiões de devoção católica da América Latina.
Mas não muito distante do principal centro, Juazeiro do Norte, outra importante figura também é venerada como santa.
Uma menina morta aos 13 anos se tornou ícone de fé e está prestes a se tornar a primeira beata cearense.
A história da Menina Benigna se passa há 80 anos, no pequeno distrito de Inhumas, em Santana do Cariri (CE).
Benigna Cardoso era uma criança alegre, estudiosa e religiosa. Muito devota, não dormia sem recitar o Santo Rosário.
Ficou órfã cedo e foi adotada pela família dona do sítio Oiti. Brincava de cantigas de roda com as irmãs de criação.
Mas foi um episódio trágico que pôs fim à sua vida e a tornou uma figura santificada para a fé popular.
Benigna foi morta a facadas, em 24 de outubro de 1941, à beira de uma cacimba onde ela buscava água.
Seu algoz, Raul Alves, era um vizinho que a assediava. Numa tarde, ele a seguiu e tentou abusá-la.
Benigna teria resistido e lutado para se defender. Após a recusa, Raul lhe desferiu golpes de facão e a matou.
Seu corpo foi sepultado na manhã seguinte, sob comoção geral. O crime contra Benigna abalou a região.
Para a população, ela deu a vida para não cometer pecado. Por isso, ficou conhecida como Heroína da Castidade.
As visitas ao seu túmulo e ao local do martírio começaram naquele ano e seguem até o presente.
Sua história atraiu fiéis e hoje movimenta mais de 30 mil visitantes por ano nas romarias em Santana do Cariri.
Muitos são os pedidos de intercessão e as graças atribuídas a ela. Vítimas de violência recorrem à "santa de Inhumas".
Menina Benigna deve se tornar a primeira beata do Ceará. Iniciado em 2011, o processo avança no Vaticano.
Após ser reconhecida beata, Benigna deve ser canonizada. Devido à pandemia de Covid, isso deve ocorrer em 2022.
Consagrada como mártir, uma estátua e um santuário em homenagem a ela estão sendo construídos em Santana.
Além da religiosidade, Benigna também virou símbolo na luta contra a violência sofrida por meninas e mulheres.
A menina de alma benigna e vestido vermelho deixa sua santidade e uma legião que roga seu nome contra o maligno.
Karyne Lane (Especial para O POVO)
Catalina Leite e Fátima Sudário
Fotos: Fábio Lima | Joedson Kelvin | Guilherme CarvalhoIlustrações: Carlos Weier