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A multidão em fúria, as redes sociais e a liberdade de expressão
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

A multidão em fúria, as redes sociais e a liberdade de expressão

É preciso levar em conta que a turba colérica se encontra hoje nas redes sociais, assim é lícito o debate sobre estabelecer limites a esses instrumentos

O jornalista Glenn Greenwald foi, durante algum tempo, uma espécie de “ídolo” para um setor da esquerda. Foi ele, com colegas do Intercept Brasil, que divulgaram conversas de grupos de Whatsapp, no qual integrantes da operação Lava Jato expunham o seu ardiloso método de trabalho. Sem a Vaza Jato, como ficaram conhecidas as reportagens do Intercept, provavelmente Lula teria permanecido preso.

O divórcio entre Greenwald e a esquerda deu-se pela sua intransigente defesa da ilimitada liberdade de expressão, contrariando teses que estabelecem limites, muitas vezes estreitos demais, para o exercício desse direito.

Greenwald leva tão a sério esse compromisso que, na década de 1990, quando advogava, defendeu gratuitamente o supremacista banco Mattew Halle, também advogado, que perdera sua licença por discursos de incitamento ao ódio racial. Ideias que o jornalista abomina.

Em artigo na Folha de S.Paulo (13/4/2024), Greenwald defende as declarações de Elon Musk contra o Supremo Tribunal Federal e diz ainda que ele foi comedido nas críticas ao regime de censura “comandada por Alexandre de Moraes”, ministro do STF. Não vou entrar nesse debate agora. Já disse várias vezes no programa Debates do Povo (rádio O POVO/CBN) que o STF precisa voltar aos seus limites, ou se “reinstitucionalizar”.

Mas isso não me fará cair no canto da sereia de Elon Musk, que pode ter uma infinidade de preocupações, mas entre elas não figuram nem a democracia e nem a liberdade de expressão. Por isso escrevi o artigo Quem defende Elon Musk está contra o Brasil, hipérbole para atingir patrioteiros em geral. (O que, por óbvio, não inclui Greenwald, que defende suas ideias por convicção.)

No livro “Nada é sagrado, tudo pode ser dito”, Raoul Vaneigem cita o filósofo Ronald Dworkin para estabelecer o único limite para a liberdade de expressão. Se alguém chegar nomeio de uma multidão em cólera com uma corda na mão e gritar “enforquem esse negro”, então merece ser processado. Vaneigem cita ainda a rádio Mil Colinas, de Ruanda, que incentivava o massacre dos tutsis, assim merecia ser calada.

É preciso levar em conta que a turba em fúria se encontra hoje nas redes sociais — e, ainda, com mais alcance do que uma rádio. Portanto, é lícito o debate sobre estabelecer limites a esses instrumentos.

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