Vacinação de pessoas em situação de rua chega a 77% do público-alvo em Fortaleza
A proporção de pessoas em situação de rua vacinadas na Capital pode ser ainda menor, pois os dados utilizados para contabilizar o grupo são de 2015
A Capital cearense segue avançando no processo de vacinação. Até essa quarta-feira, 4, mais de 593 mil pessoas estão com a imunização completa contra a Covid-19. Entretanto, apesar da busca por celeridade, a meta ainda não foi concluída em um dos grupos prioritários: as pessoas em situação de rua. A Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria da Saúde (SMS), informou que até essa terça-feira, 3, 1.336 pessoas em situação de rua foram contempladas com pelo menos uma das duas doses dos imunizantes disponíveis, ou seja, 77,7% da meta estabelecida. O objetivo da campanha é alcançar 1.718 pessoas pertencentes a este grupo.
No dia 31 de maio de 2021, o prefeito José Sarto (PDT) chegou a anunciar que a Prefeitura pretendia concluir a vacinação, de D1, de alguns grupos até o fim daquela semana, ou seja, dia 5 de junho. Dentre os contemplados, estariam as pessoas em situação de rua. A meta do grupo, de acordo com a SMS, é baseada no número de vacinados contra a gripe em 2019. Porém, o último levantamento do número de pessoas em situação de rua na Cidade é de 2015.
Em estudos concluídos durante o ano de 2020, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alertou que a propagação da pandemia aumentou a vulnerabilidade de quem vive na rua. De acordo com as pesquisas do Ipea, a população em situação de rua apresentou um crescimento de 140% no Brasil, entre 2012 e março de 2020, chegando a superar a marca de 221 mil brasileiros.
São nas ruas do Centro da Capital onde encontramos boa parte dessas pessoas em situação de rua. Esquecidas pela sociedade, elas lutam diariamente para conseguir o mínimo para sobreviver. É o caso de Janildo de Aquino, 32, que se aproximou da equipe do O POVO para pedir algumas moedas. Durante a conversa, ele relatou ter conhecimento do andamento do processo de vacinação. "A Prefeitura veio aqui, falaram que a vacinação acontecia no Centro Pop. Tive apoio da assistente social e, graças a Deus, já tomei a primeira dose", contou.
O conhecimento demonstrado por Janildo não é uma constante entre seus companheiros. Assis Lima, 35, diz que optou por não ser imunizado. "Já teve gente que se vacinou, mas eu não fui atendido. Eu não quero ir. Quem quer, 'tá' conseguindo", disse.
Há ainda quem desconheça o procedimento para receber os imunizantes. "Estou procurando saber como funciona. Não me falaram nada, 'tô' doido pra tomar essa vacina logo. Sei que o pessoal aqui da praça já tomou, mas eu não estava aqui", contou Wilton Pereira, 36, que acredita que a imunização poderá ajudá-lo a encontrar um emprego.
Já Francisco Damião, 37, explicou que chegou a realizar o cadastro para receber o imunizante, mas não sabia o que deve fazer em seguida. "Ninguém sabe me dizer onde eu devo ir. Cheguei a fazer meu cadastro no albergue social, mas até agora não deu em nada", lamentou.
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Durante o último dia do mês de maio e os primeiros do mês de junho, um mutirão de emissão de documentos da população em situação de rua foi realizado, com o objetivo de colaborar com o processo de vacinação do grupo. O mutirão contou com atendimentos da Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPCE), além da aplicação de vacinas.
De acordo com a Defensoria, 29 pessoas em situação de rua foram atendidas nos três dias de mutirão para emissão de registro civil. A ação contemplou cinco pontos da Capital: Centro, Poço da Draga, Parque Bisão, Jacarecanga e Papicu. Conforme o Plano Nacional de Imunização (PNI), a apresentação de RG é obrigatória para o recebimento de imunizantes contra a Covid-19.
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Subnotificação de pessoas nas ruas
Como o último levantamento foi divulgado em 2015, o número de pessoas em situação de rua pode ser ainda maior do que o estimado pela Secretaria da Saúde como meta de vacinação. A pesquisa censitária executada pelo Centro de Treinamento e Desenvolvimento da Universidade Federal de Fortaleza (Cetrede) identificou 1.718 pessoas em situação de rua durante o ano de 2014. Entretanto, outros números podem servir de indícios para o agravamento da situação.
De acordo com a Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), em 2019, o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) realizou 180.399 atendimentos. Em 2020, foram 263.485. Apenas no primeiro semestre deste ano, 195.657 atendimentos foram realizados, e o número já supera todo o ano de 2019, além de representar 74% de todos os atendimentos de 2020.
Márcia Nogueira, da Coordenadoria Integrada da Assistência Social da SDHDS, explica que a confirmação do aumento de pessoas em situação de rua só poderá ser constatada após a divulgação de um novo censo. "Não podemos dar números exatos. Isso só é possível com o censo, que está sendo realizado. O fato é que mais pessoas estão procurando os equipamentos da Prefeitura de Fortaleza, por meio da SDHDS, que atendem a população em situação de rua", explica.
A SDHDS informou que a primeira etapa de contagem da população de rua já foi realizada em 2021. Uma segunda etapa será realizada durante o segundo semestre. A SMS respondeu ainda, em nota ao O POVO, que continua realizando busca ativa do público para vacinação contra a Covid-19, através de parceria com a SDHDS, além de outras instituições que acolhem essas pessoas.
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Colaborou Leonardo Maia
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