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Pesquisa, previsão e estratégia
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Cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de vários livros que abordam o comportamento do eleitor. Membro do Grupo de Pesquisa Comunicación Política e Comportamento Electoral en América Latina. Atualmente desenvolve pesquisas qualitativas e quantitativas de Opinião Pública

Pesquisa, previsão e estratégia

Proponho que quando falarmos de pesquisas devemos considerar as estratégias dos candidatos. Elas, por sua vez, nascem, fundamentalmente, da pesquisa qualitativa. São elas, quando bem idealizadas e executadas, influenciam a escolha do eleitor

Existe ansiedade na véspera do pleito eleitoral quanto ao êxito dos institutos de pesquisas em acertarem o resultado da eleição. As pesquisas erram ou acertam? Vejam que o Datafolha e a Quaest se aproximaram fortemente dos resultados da eleição de São Paulo no primeiro turno. E a disputa era bem acirrada! Portanto, a tão propalada intenção de voto pode sim sugerir o resultado do pleito.

Por várias vezes, empresas de pesquisas foram criticadas por errarem o resultado da eleição. Por consequência, elas se defendem afirmando que a pesquisa de intenção de voto é retrato do momento. Elas têm razão. Contudo, sobra achismo e faltam argumentos quando falamos sobre acertos e erros dos institutos de pesquisas.

Proponho que todas as vezes que fomos falar de pesquisas devemos considerar as estratégias dos candidatos. Elas, por sua vez, nascem, fundamentalmente, da pesquisa qualitativa. São elas, quando bem idealizadas e executadas, influenciam a escolha do eleitor. Não é argumento científico, embora plausível, asseverar que os eleitores estão fazendo escolhas eleitorais tardias. Isto pode até ser real. Mas nem sempre isto acontece. Vejam os exemplos das vitórias de Eduardo Paes no Rio de Janeiro e João Campos no Recife. E mais: a ida de Nunes e Boulos para o segundo turno já tinha sido prevista por mim em diversos artigos.

A conjuntura eleitoral também deve ser considerada para a previsão eleitoral. Desde o ano passado, um argumento simplista estava posto: a nacionalização influenciaria as escolhas dos votantes. Candidatos aliados do presidente Bolsonaro construíram um raciocínio simples: "Se Bolsonaro teve 40% de votos na última eleição presidencial em minha cidade, a tendência (causalidade) é que eu tenha". Pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência sempre mostraram que isto não aconteceria. Contudo, foram diversas pesquisas quantitativas que sugeriam que o atrelamento a Bolsonaro ou a Lula poderia trazer rejeição ou votos.

A pergunta dos apoios realizadas pelos institutos de pesquisas em pesquisas quantitativas são enganosas. A indagação é: O candidato X tem o apoio de Bolsonaro. Sendo assim, você pretende votar nele? Ou: O candidato Y tem o apoio de Lula e do governador. Sendo assim, você pretende votar nele? Me deparei com essas indagações nesta eleição, e as urnas contrariaram o resultado. Portanto, sigo a defender a possibilidade da previsão eleitoral. Porém, são as perguntas contidas no questionário da pesquisa quantitativa e o próprio método quantitativo que sugerem, equivocadamente, que pesquisa não faz prognóstico. Conclusão: O problema é o método quantitativo e as perguntas equivocadas.

 

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