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Arruma a mala aê: o desafio logístico de Ceará e Fortaleza
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Coordenador do Esportes O POVO. Jornalista curioso sobre os bastidores do mundo da bola e apaixonado pelo jogo nas quatro linhas

Arruma a mala aê: o desafio logístico de Ceará e Fortaleza

Vovô e Tricolor devem percorrer em torno de 80 mil quilômetros ao longo do Brasileirão e recorrem a voos fretados para minimizar desgaste e período fora de casa
Tipo Opinião
Avião no céu (Foto: Matheus Amorim/Fortaleza EC)
Foto: Matheus Amorim/Fortaleza EC Avião no céu

A partir do início do Campeonato Brasileiro, Ceará e Fortaleza começam uma maratona de jogos e de viagens pelo País. Com os dois juntos na elite, são 18 compromissos fora do Estado para cada pela Série A, além de outras competições (Copa do Nordeste, Copa do Brasil e Libertadores). A presença em aeroportos e hotéis, portanto, é rotineira.

Pela localização geográfica da Capital — e pela cidade-sede dos rivais —, alvinegros e tricolores se deslocam muito mais do que os adversários. O Leão estima que, em 2024, rodou mais de 120 mil quilômetros, entre Brasil e América do Sul, em mais de 40 viagens. O Vovô calcula que o tempo médio de um trajeto é de cinco a seis horas. No recorte apenas da Série A, são 80 mil quilômetros percorridos por cada. São períodos que poderiam ser aproveitados para treinos ou recuperação dos atletas, por exemplo, mas são gastos em aviões.

Os supervisores Júlio Manso, do Fortaleza, e Rainier Alves, do Ceará, são os responsáveis por organizar a logística dos clubes. E as viagens não envolvem "apenas" garantir passagens de ida e volta para cerca de 40 profissionais, mas também deslocamento na cidade do jogo, reserva de hotel, local para treino, apoio da segurança local, chegada e saída do estádio...

"Hoje, os supervisores, responsáveis pela logística, se ajudam muito com informações, até na América do Sul", explica Manso. "Além disso, contamos também com o serviço de receptivo do local para nos ajudar em qualquer demanda", completa Alves.

Para evitar períodos de espera em aeroportos e ter a comodidade de viajar no horário desejado, de acordo com o cronograma de treinos estabelecido pela comissão técnica, os clubes encontraram os voos fretados como alternativa. De volta à Série A, o Ceará deve adotar a prática mais vezes — já fará hoje, por exemplo, rumo a Caxias do Sul (RS). O Fortaleza freta aviões para os jogos internacionais e também em alguns duelos nacionais, prevendo investimento de R$ 10 milhões para este fim na temporada.

"Quando a gente viaja numa aeronave fretada grande, os jogadores vão bem confortáveis, com espaço, muitas vezes, para deitarem e fazerem recuperação dentro do próprio avião", pontua Júlio. "Conseguimos ter o controle maior de horários, descanso e alimentação. Assim com os tempos mais curtos de deslocamentos também contribuem para a recuperação mental dos atletas", reforça Rainier.

Entrevista com Júlio Manso, supervisor do Fortaleza

O POVO - O clube tem muitos jogos no ano, viagens longas, às vezes em intervalos curtos, e tabelas que algumas vezes são divulgadas sem tanta antecedência. Qual o maior desafio para organizar as viagens?

Júlio Manso - O maior desafio em qualquer viagem é, primeiro, uma questão aérea, porque o clube não tem avião, então a gente precisa se valer de voos comerciais. Hoje, o Fortaleza trabalha com voos comerciais quando tem voo direto. De Fortaleza, tem voo direto para Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, cidades que normalmente nós viajamos de voo comercial.

É claro que a gente fica sujeito a número de disponibilidade de assentos, passagens, para organizar a viagem. Nós só conseguimos efetivar isso quando tem a tabela pronta e quando acontece a demora da divulgação da tabela, acaba prejudicando muito. Nesse caso, a gente teve a divulgação até a 12ª rodada (da Série A), facilitou bastante, porque todos os trechos já foram planejados.

OP - Além de voos e hospedagem, os supervisores também precisam organizar translado na cidade, locais de treino, chegada e saída do estádio… Há troca de informações com profissionais de outros clubes para facilitar os contatos e esses processos?

Júlio - Nós já temos, durante o ano, uma lista de hotéis que desejamos ficar, então há uma reserva com muita antecipação. É claro que, em muitos momentos, a gente não fica no hotel porque o hotel tem um evento naquela data, às vezes vamos para uma cidade que tem um superevento, como aconteceu em Caxias do Sul (RS). Em alguns anos que a gente foi, teve que ficar em outro hotel, porque a cidade estava toda parada com um festival.

Tem esses desafios que os clubes enfrentam, mas, num todo, as viagens são planejadas com muita antecedência. Hoje, a gente faz poucas viagens com treinos, a não ser quando é uma viagem mais longa, com dois jogos casados, mas a maioria absoluta das viagens não tem necessidade de treinar. Quando isso acontece, a gente tem contato com profissionais de outros clubes, uma filosofia muito grande no futebol brasileiro de ajuda, nós mesmos recebemos clubes no Pici, por exemplo.

Hoje, os supervisores, responsáveis pela logística, se ajudam muito com informações, até na América do Sul. A gente foi jogar em Potosí, por exemplo, e recebeu um relatório do Boca Juniors, completo. Agora, nós vamos jogar em Bucaramanga, o Colo-Colo já esteve lá e nós já tivemos contato sobre essas informações.

OP - Há alguns anos, o clube passou a fazer algumas viagens em voos fretados. O quanto isso facilita, não apenas para a logística, mas também para reduzir desgaste dos jogadores?

Júlio - Os clubes com mais investimento fazem praticamente todos os voos fretados. Isso é prioridade, porque impacta de forma extrema, primeiro na recuperação pós-jogo, no retorno à cidade, você escolher o horário que vai viajar, isso faz uma diferença muito grande. E no pré-jogo também, você conseguir, principalmente, ter aquele horário, uma aeronave que possa dar conforto.

Quando a gente viaja numa aeronave fretada grande, os jogadores vão bem confortáveis, com espaço, muitas vezes, para deitarem e fazerem recuperação dentro do próprio avião. Isso proporciona um impacto muito grande, reduz o desgaste e a quantidade de viagens que o Fortaleza faz, por exemplo, a cada voo fretado a gente entende que tem um impacto muito grande na questão física.

OP - Vocês fazem o cálculo ou têm estimativa de quantos quilômetros o clube viaja num ano? Ou do número de viagens, incluindo conexões e trajetos de ônibus?

Júlio - Ano passado, por exemplo, a gente fez mais de 120 mil quilômetros de viagem. Só no Campeonato Brasileiro foram mais de 80 mil (quilômetros). Talvez esse número sozinho não represente muito, as pessoas não entendam, mas no Campeonato Brasileiro, enquanto o Fortaleza faz mais de 80 mil quilômetros, os times do Sudeste fazem cerca de 25 a 28 mil quilômetros. Uma diferença muito grande.

Não é só o número de viagens, mas, principalmente, a quantidade de horas que você passa dentro do avião. É claro que aí é uma questão geográfica, que a gente não vai mudar, tem que tentar trabalhar para minimizar esses efeitos, esse impacto, que sejam o mínimo possível na vida do Fortaleza e dos jogadores.

Um número muito grande de viagens, ano passado a gente fez quase 40. A gente tem trabalhado para evitar ao máximo as conexões, ano passado foram uma ou duas viagens com conexão. Esse ano a gente tem um desafio muito grande, interno, de não ter nenhuma viagem com conexão, porque isso facilita bastante para que o atleta tenha o desgaste reduzido.

Entrevista com Rainier Alves, supervisor do Ceará

O POVO - O clube tem muitos jogos no ano, viagens longas, às vezes em intervalos curtos, e tabelas que algumas vezes são divulgadas sem tanta antecedência. Qual o maior desafio para organizar as viagens?

Rainier Alves - O nosso maior desafio é a disponibilidade de voo para toda a delegação. Viajamos em média com o número de 44 pessoas e nem sempre é possível pegar o melhor voo que tenha essa disponibilidade. Um outro fator que dificulta é a nossa malha aérea. Dependendo da cidade, não há oferta de bons voos dentro dos horários ideais. E isso tudo se agrava com a divulgação da tabela detalhada de forma tardia.

OP - Além de voos e hospedagem, os supervisores também precisam organizar translado na cidade, locais de treino, chegada e saída do estádio… Há troca de informações com profissionais de outros clubes para facilitar os contatos e esses processos?

Rainier - Há uma comunicação muito boa entre nós, supervisores. Sempre disponíveis para ajudar. Além disso, contamos também com o serviço de receptivo do local para nos ajudar em qualquer demanda.

OP - Há alguns anos, o clube passou a fazer algumas viagens em voos fretados. O quanto isso facilita, não apenas para a logística, mas também para reduzir desgaste dos jogadores?

Rainier - O fretamento de voos é um grande aliado no ganho de performance dos atletas. Tendo em vista que conseguimos ter o controle maior de horários, descanso e alimentação. Assim com os tempos mais curtos de deslocamentos também contribuem para a recuperação mental dos atletas.

OP - Vocês fazem o cálculo ou têm estimativa de quantos quilômetros o clube viaja num ano? Ou do número de viagens, incluindo conexões e trajetos de ônibus?

Rainier - Nós temos uma média de tempo de duração de deslocamento entre 5 e 6 horas, levando em conta o momento da saída do clube até a chegada ao hotel.

Foto do Afonso Ribeiro

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