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Joan Robinson: uma voz para os nossos tempos
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Alexandre Sobreira Cialdini é economista, formado pela Universidade de Fortaleza, com mestrado em economia pelo Caen, da Universidade Federal do Ceará, mestrado em Planificação Territorial e Desenvolvimento Regional, pela Universidade de Barcelona, além de especialização em políticas fiscais pela Cepal, pós-graduaçãoo em Finanças Públicas Avançadas pela Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, e doutorado na Universidade de Lisboa. É, atualmente, secretário de Finanças da Prefeitura de Caucaia, já tendo ocupado cargo semelhante nas prefeituras de Fortaleza, São Bernardo do Campo (SP) e Eusébio. É auditor fiscal concursado da Secretaria da Fazenda do Ceará

Joan Robinson: uma voz para os nossos tempos

Uma grande mulher, economista, que a Academia Sueca perdeu a oportunidade de condecorá-la com o Prêmio Nobel de economia
Tipo Opinião

No mês mais dedicado às mulheres, trago aqui uma homenagem a uma grande mulher economista, que faleceu há trinta anos e que a Academia Sueca perdeu a oportunidade de condecorá-la com o Prêmio Nobel de economia - Joan Robinson, uma das principais economistas do século XX. Ela estudou economia na Universidade de Cambridge, onde mais tarde atuou como professora de 1931 a 1971.

Em 1933, publicou "A economia da concorrência imperfeita", livro que revolucionou a microeconomia. O criador da macroeconomia, Jonh Maynard Keynes dizia: "Fora de Cambridge ela é, inquestionavelmente, um de nossos membros mais ilustres!" Em 1974, ela se tornou a primeira mulher a presidir a Associação Econômica Americana, e uma das poucas não americanas a fazê-lo. A sua biografia permite-nos fazer um passeio pela evolução da Ciência Econômica no século XX, pelas questões que hoje permanecem abertas e pelos principais acontecimentos históricos, que enfrentou com base nas suas fortes convicções com seu caráter provocador.

No seu estilo provocador perguntava aos alunos em suas aulas maestrais: "Os valores são um assunto adequado para um economista?" Essa frase é atemporal e sempre deve nos provocar, até porque não estamos falando apenas de valores monetários.

Em 1962, quando Joan Robinson publicou seu livro "Filosofia econômica", ela explorou o desenvolvimento do pensamento econômico sobre o conceito de valor. A economia geralmente se concentra nas questões da vida e, portanto, no valor, que pode ser medido em termos monetários, também. Quando algo não tem preço, como os cuidados no seio da família, tende a sair de cena, mas a pandemia sublinhou o seu valor.

A economia tem alargado o seu alcance em vários domínios, com o objetivo de atribuir valor monetário a bens e serviços não comercializáveis. Mas contemplar as alterações climáticas é apenas um exemplo que demonstra quão limitado pode ser o âmbito para isso. Os cientistas do clima, por exemplo, sabem muito sobre as forças em ação. Mas o ecossistema é tão complexo e evolui de formas tão imprevisíveis, como percebemos na interação com o sistema socioeconômico, que qualquer tentativa de atribuir valor monetário a estados futuros estará sujeita a uma enorme incerteza.

Embora grande parte da economia se preocupe, de alguma forma com o valor, ao mesmo tempo a economia dominante apresenta-se como despreocupada com valores ou princípios morais; ou seja, uma disciplina técnica. Os valores são, então, simplesmente algo para outros, como os governos, aplicarem às conclusões da teoria econômica após o fato. No entanto, tornou-se cada vez mais claro que os economistas aplicam valores.

Na "Filosofia econômica" de Joan Robinson os valores estão incorporados em toda a economia, quer sejam reconhecidos ou não: "A economia sempre foi em parte um veículo para a ideologia dominante de cada período, bem como em parte um método de investigação científica". Qualquer que seja a ideologia que a economia aplique deve, portanto, ser trazida à tona e debatida.

Mas porque ela fez exatamente isso em relação ao seu próprio trabalho, Robinson foi marginalizada, precisamente por ser ideológica, entendida como uma rejeição da ciência. A apresentação da economia dominante como a abordagem mais científica reforçou assim o seu domínio sobre a disciplina.

 

Foto do Alexandre Cialdini

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