Logo O POVO+
A geoeconomia e o Brasil
Foto de Alexandre Cialdini
clique para exibir bio do colunista

Alexandre Sobreira Cialdini é secretário do Planejamento e Gestão do Estado (Seplag-CE). É economista formado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), com mestrado em economia pelo Caen, da Universidade Federal do Ceará(UFC). Também possui mestrado em Planificação Territoral e Desenvolvimento Regional, pela Universidade de Barcelona, especialização em políticas fiscais pela Cepal, pós-graduação em finanças públicas avançadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro, e doutorado na Universidade de Lisboa. Já teve passagem na pasta de Finanças das prefeituras de Caucaia, Fortaleza, Eusébio e São Bernardo do Campo (SP). Cialdini é auditor fiscal concursado da Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE)

A geoeconomia e o Brasil

Em meio a idas e vindas, incluindo a suspensão temporária de taxas, a discussão pouco fundamentada diante de um capitalismo global e contemporâneo - somado à volatilidade das regras econômicas - tem deixado agentes perplexos
Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, e Xi Jinping, presidente da China, respectivamente (Foto: Reprodução / AFP / Brendan Smialowski)
Foto: Reprodução / AFP / Brendan Smialowski Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, e Xi Jinping, presidente da China, respectivamente

A geoeconomia compreende medidas que buscam fortalecer os interesses econômicos de um país enquanto disciplinam seus competidores estratégicos. Isso, necessariamente, afeta as relações entre governos e o setor privado, com o poder público intervindo frequentemente para beneficiar seus produtores. Nesse “capitalismo de Estado”, os governos detêm dois quartos das reservas globais conhecidas de energia, e as empresas estatais respondem por uma parcela expressiva do total investido no planeta, figurando entre as maiores corporações do mundo.

Para Mikael Mattlin, pesquisador do Instituto Finlandês de Economia Internacional, há três tipos de enfoque para essa questão: o primeiro trata a geoeconomia como uma arte de governar; o segundo enfatiza o espaço geográfico; e o terceiro considera sua dimensão social e política.

Em meio a idas e vindas, incluindo a suspensão temporária de taxas, a discussão pouco fundamentada diante de um capitalismo global e contemporâneo - somado à volatilidade das regras econômicas - tem deixado agentes perplexos. Muitos se perguntam quem seriam os beneficiados pela política de Donald Trump, dado que uma nova guerra comercial tem várias dimensões. As tarifas de 25% impostas ao Canadá e ao México exemplificam uma tendência geoeconômica atual: um “neo-mercantilismo” com características fortes de populismo, nacionalismo e protecionismo.

A estratégia busca sinalizar para eleitores de Trump que a aplicação de tarifas e impostos sobre outros países levará ao enriquecimento da população americana. Essa abordagem funcionou nos Estados Unidos do século XIX, mas, nos tempos atuais, o capitalismo exige fluxos intensos e multidimensionais. Uma consequência é certa: elevação dos preços – inflação nos Estados Unidos e impacto inflacionário também nos demais países.

Um dos riscos de exercer poder geoeconômico excessivo é a fragmentação da economia global. Enquanto isso, os Brics – grupo que inclui Brasil, China, Rússia e Índia – seguem em expansão. Mesmo uma alternativa econômica menos robusta poderia enfraquecer os Estados Unidos. O poder geoeconômico se fortalece quando um país controla uma atividade quase inteiramente, deixando os demais sem opções viáveis. Contudo, qualquer alternativa, por menor que seja, já reduz esse domínio.

Uma análise que realizamos a partir do portal UN Comtrade – repositório de estatísticas oficiais de comércio internacional, dipsonível em: <https://comtradeplus.un.org/> – mostra que o superávit comercial brasileiro está concentrado em três blocos: Estados Unidos, União Europeia e Brics. No entanto, os parceiros tradicionais (Estados Unidos e União Europeia) perderam participação, enquanto os Brics já absorvem 35% das exportações brasileiras, com um crescimento de 10% na venda de bens de produção (insumos para fabricação de novos produtos). Esse movimento indica uma maior inserção do Brasil em novos mercados, o que se torna ainda mais relevante diante das possíveis taxações impostas pelo governo Trump sobre produtos como alumínio e aço.

O Brasil terá um enorme desafio na nova geoeconomia, marcada pelo “neo-mercantilismo trumpiano”. Diante desse cenário, vale lembrar Monteiro Lobato, que, em 1918, escrevia na Revista do Brasil: “O protecionismo é isso: destruição da concorrência, proteção ao incapaz...o protecionismo protege, não o povo, não o país, mas o incapaz”.

Foto do Alexandre Cialdini

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?