Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Foto: Reprodução Redes Sociais
REPRODUÇÃO de vídeo da ação do empresário contra a nutricionista
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Quando eu tinha 14 anos fui junto com três amigas ver a Exposição Agropecuária e Industrial do Ceará – Expoece. Era a primeira vez que minha mãe deixava. Literalmente ao cruzar os portões abertos, num entra e sai de centenas de pessoas, uma mão desconhecida tocou nas minhas partes íntimas.
Escrever é viver aquele momento doloroso de ser tocada, sem que eu quisesse, covardemente, por quem sequer vi o rosto. Olhar para trás apenas significou ver várias pessoas de costas e outras vindo. Não pude identificar o covarde.
Andei poucos passos, pedi para minhas amigas pararem. Sentei na coxia e chorei. Não entendia como aquilo podia ter acontecido, como alguém invade o outro. Perdi totalmente a vontade de estar ali. Só queria ir para casa, chorar. Quando voltei, não tive coragem de dizer para minha mãe. Ela ia se sentir culpada por ter me deixado ir.
Esta história voltou à minha memória quando vi o vídeo da nutricionista Larissa Duarte, de 25 anos. Ela foi tocada covardemente, nas nádegas, pelo empresário Israel Leal Bandeira Neto, dentro de um elevador, em Fortaleza.
O homem fugiu correndo do estacionamento do edifício. Quando foi à polícia, tentou se defender dizendo que pensava ser uma mulher com quem tinha intimidade.
Defesa que não se sustenta: nem conversou no elevador com quem pensava conhecer, e nem o fato de conhecer daria o direito de tocar em alguém, de costas, sem que ela permitisse. Os advogados vão ter que buscar outra tentativa de explicação, embora seja difícil crer que haja como explicar algo tão moralmente repugnante.
A coragem dela de denunciar, tornar o caso público e levar à Justiça abre espaço para a reflexão sobre os medos que nós, mulheres, enfrentamos. Receio de estar só com um homem no elevador, de passar por trás de caminhão, de entrar em transporte coletivo, em carro de aplicativo e até ir a médicos sozinha, diante de episódios que vieram a público.
Na mesma semana, os estupros cometidos pelos jogadores brasileiros Daniel Alves e Robinho também ganharam destaque. Foram condenados em outros países. Será que aconteceria o mesmo se tivessem cometido esses crimes no Brasil? Na audiência de custódia de Robinho, que vai cumprir pena no Brasil, só faltou ser pedido desculpa a ele por estar sendo preso.
É absurda a forma como o corpo da mulher continua sendo terceirizado ao prazer inescrupuloso de alguns homens. É absurdo o número de mulheres mortas por feminicídio no país: foram 1.463 registros em 2023, o maior da série iniciada em 2015, ano em que houve a tipificação do crime no Código Penal.
O fato é que nós, mulheres, temos que denunciar cada mão desgovernada, cada palavra de baixo calão, cada escorada de corpo que não foi previamente concedida. Nosso corpo é nossa casa. Nossa.
Que o grito de uma seja a defesa de todas.
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