Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
No último fim de semana conheci uma moça que carregava o neto nos braços, por entre mesas em que os participantes do IV Encontro Cearense de Escritores, em São Gonçalo do Amarante, espalhavam suas obras autorais. Falei dos meus livros. Ela olhava, curiosa, perguntando sobre o que cada um tratava. Depois olhou outras mesas.
Antes de ir embora, disse que adorava ler, mas que não “tinha grana” para adquirir livros. Estava há dois meses em tratamento numa clínica, paga pelo filho, para ficar “limpa” de drogas. Falou que em um ano estaria boa. Nunca vou esquecer o olhar dela, pousando de título em título, agarrada ao neto e à possibilidade de uma nova vida.
Na sexta-feira havia conhecido Víctor, em sala de aula de uma escola profissionalizante. Ele me disse, baixinho, que havia escrito um livro também. Eu passava justo com uma gaiola cheia de marcadores de livros com frases sobre a importância da leitura. Quando incentivei que concluísse o livro, reforçou, para a sala toda, que já estava pronto. Eu havia entendido errado. Estava diante de um escritor adolescente, só esperando sua obra partir para o mundo.
Em uma escola de ensino médio conheci Maria Flor. Ela foi unanimidade na sala de aula quando o assunto foi o gosto pela leitura. Todos olharam em sua direção. A adolescente explicou que desde pequena é assim. Apegada à leitura no cotidiano, tanto em momentos alegres, como nos difíceis. Era companhia, conhecimento e estímulo.
Numa das duas feiras de escritores, conheci uma avó muito animada com o interesse da neta Liz, pela leitura. Ao passar pela mesa onde estavam meus livros e identificar que um deles era infantojuvenil, disse que ia voltar com a pequena. Voltou mesmo. A criança veio, olhou, folheou. O olhar mostrava sua afeição com a literatura. Conversamos e fizemos fotos, alegres por termos o mesmo sobrenome.
Um ônibus cheio de autores, além dos que foram em seus carros, cruzou o caminho entre Fortaleza e São Gonçalo do Amarante, tornando possível a realização do projeto - que não acontecia há mais de dez anos. A promoção foi da Associação Cearense de Escritores, em parceria com a Secretaria de Educação de São Gonçalo. Ano que vem deve acontecer em Guaramiranga. Tomara que não pare mais.
Os resultados foram comemorados por todos. Somente na sexta-feira, entre sede do município e sertão, escritores interagiram como mediadores de temas de literatura com cerca de 1.500 estudantes. Sábado teve contação de histórias e conversa com professores e professoras do Sesc Ler. Foram realizadas feiras culturais, com sarau, teatro e música, na sede e no distrito da praia da Taíba.
Fiquei com vários olhares na minha memória: o de quem gosta de ler desde criança, de quem já escreve na adolescência, de quem perguntou como vencer a preguiça de ler e de escrever, e de quem está reorganizando a vida e reacendendo o desejo pela leitura.
Ocasiões assim reforçam a necessidade de relembrar que ler é um direito humano. Infelizmente ainda não reconhecido como deveria, diante dos milhões de analfabetos no País, dos que têm baixo letramento e dos sem acesso a livros. Em 1º de maio é comemorado o dia da literatura brasileira. Que seja antes de tudo uma data para reivindicar esse direito.
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