Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Uma pessoa assim, que ao invés de lamentar pelo que perdeu (e não foi pouco), vai em busca de ressignificar o que tem pela frente, possui uma força interior imensurável. Infelizmente, para alguns, talvez seja percebida só como "jeito Pollyana de ser"
Aprender a escrever com a mão esquerda, driblar a memória de destra nos mais de cem livros infantojuvenis escritos. Conviver com flashbacks de mordidas insanas de três pitbulls mal cuidados por seus vizinhos, que arrancaram o braço direito e uma das orelhas no ataque sofrido dia cinco de abril, quando caminhava em Saquarema (RJ).
São alguns dos novos desafios da escritora Roseana Murray, após 13 dias de internação. Nos primeiros dias, a extensão das mordidas gerou comentários de que ficaria tão desfigurada que não valeria a pena escapar com vida.
Ainda bem que não foram esses derrotistas que decidiram o refazimento da escritora. Para além do bom atendimento médico que recebeu, ela contou com sua própria resiliência diante da vida. Vontade de viver apoia muito a recuperação do paciente.
Antes da alta, Roseana escreveu um poema, com a ajuda da irmã, porque ainda precisa aprender a usar a mão esquerda. Não fiquei surpresa quando li as estrofes, por conhecer a delicadeza de suas palavras nos livros. Imediatamente percebi a releitura que fez dos próprios poemas.
Alguns deles inseri na coluna quinzenal de comportamento, na plataforma O POVO+ , cinco dias após o ataque que sofreu. Lá, escrevo quinzenalmente às quartas-feiras.
A escritora alimentou-se de palavras e simbologias que havia usado em "Receita de espantar tristeza" (Receitas de olhar, 1997) e "Os anjos" (Caminhos da magia, 2001) para compor agradecimento a todos do hospital que cuidaram dela. Palavras-sentimentos que mostram o empoderamento de Roseana diante do cotidiano.
Um anjo varreu a tristeza da casa./ Com suas asas feitas/ de alguma coisa que não conhecemos./ Varreu como varrem ruas e praças./ Juntou tudo em suas mãos,/ soprou, soprou, soprou.
Uma pessoa assim, que ao invés de lamentar pelo que perdeu (e não foi pouco), vai em busca de ressignificar o que tem pela frente, possui uma força interior imensurável. Infelizmente, para alguns, talvez seja percebida só como "jeito Pollyana de ser".
Imagino que, tal qual os derrotistas, os que criticam quem tem reação positiva diante de um problema desse porte, precisam repensar seu jeito de ver a vida. Sugiro que mergulhem no encantamento que embala a forma de ver o mundo de um ser humano leve como Roseana Murray.
Encantamento que fez com que ela, hospitalizada, falasse que os médicos faziam um trabalho de aranhas douradas sobre sua pele. Um pouco de pó de pirlimpimpim que a medicina tem para quem acredita que fantasia ajuda na cura.
"Quero escrever um livro infantil sobre uma pessoa que tem um braço mágico, no lugar do amputado". Este é somente um dos planos dela para as próximas trilhas na literatura.
Roseana faz do processo de viver uma forma de chegar ao outro. Dá-se em palavras e sentimentos. É uma encantada.
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