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Por uma literatura que alcance as demandas
Foto de Ana Márcia Diógenes
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Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza

Por uma literatura que alcance as demandas

Mães em busca por livros para filhos autistas, crianças pautando os temas que querem ler: a convergência das delicadezas em fortalezas
Tipo Crônica
Município de Aracati recebeu em junho  a Feira Literária do Ceará com programação gratuita para todas as idades (Foto: Maria Haydêe/Flasi/Divulgação)
Foto: Maria Haydêe/Flasi/Divulgação Município de Aracati recebeu em junho a Feira Literária do Ceará com programação gratuita para todas as idades

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Durante os três dias da Feira Literária do Ceará, de 20 a 22 de junho, em Aracati, vi pelo menos seis mães com a mesma demanda: a procura por livros infantis que atendam às necessidades de seus filhos com autismo. Elas folheavam cada livro para ver os que conseguiriam despertar mais a atenção de suas crianças.

Como eu e mais três escritoras do Coletivo Lamparinas – Liduína Vidal, Luciana Braga e Cláudia Melo - estávamos justamente em um estande de literatura infantil e infanto-juvenil, as mães procuravam aquele espaço para falar de sua necessidade. Vinham esperançadas de não se sentirem sós nesta busca. Estavam no local certo. O coletivo está completando um ano em agosto e é formado por autores que produzem para contribuir com a formação do universo literário de crianças e adolescentes.

Em um dos momentos em que eu estava autografando, a criança-leitora, que devia ter por volta de oito anos, me perguntou se eu já sabia o tema do meu próximo livro infantil. Devolvi a pergunta, pedindo que sugerisse um assunto sobre o qual gostaria de ler. A resposta dela estava na ponta da língua: bullying.

A rapidez e segurança com que colocou a sugestão me mostrou a importância de que se continue a falar sobre a questão que tanto marca todas as gerações. As brincadeiras e palavras mudam, o constrangimento de ser atacado e diminuído por elas, não.

Nos três dias de feira, convivendo com crianças, adolescentes e adultos leitores aprendi muito sobre a vida, sobre caminhos da literatura, sobre as palavras que precisamos amadurecer para contar mais e mais as histórias que precisam circular.

Famílias de crianças com autismo precisam de livros para apoiar seus filhos no desenvolvimento de habilidades na linguagem, e assim ter mais elementos para que interajam melhor com pessoas e situações.

Crianças precisam ser escutadas para que nos digam sobre o que querem ler. Quando elas falam sobre o que gostariam de ver oferecido como leitura, junto nos trazem suas próprias preocupações com os cenários que as cercam, seus temores e projeções.

O melhor catálogo de livros para crianças e adolescentes é aquele que contempla as suas necessidades. Escrever para eles se torna mais profundo quando escrevemos a partir deles.

Em um dos dias da feira, realizada pela Secretaria da Cultura do Estado, quando uma adolescente de uns treze anos folheou meu livro de poesia e eu explicava que eram oitenta poemas sobre os elementos da natureza, ela disse “sou poeta”. Em outras palavras: sou sua colega.

Falou com tanta segurança e empoderamento na entonação, que trouxe a convicção de que quanto mais colegas de todas as idades tivermos na literatura, mais mentes e ideias estarão juntas para tentar dar conta de todas as delicadezas com as quais precisamos contribuir para que se tornem fortalezas.

Foto do Ana Márcia Diógenes

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