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A machadinha das novas tecnologias
Foto de Ana Márcia Diógenes
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Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza

A machadinha das novas tecnologias

Tempo e espaço podem variar quando o que está em jogo é o domínio que o ser humano tem sobre a linguagem da sua era
Tipo Opinião
Como qualquer nova tecnologia que surge, novos comportamentos são exigidos (Foto: Adobe Stock)
Foto: Adobe Stock Como qualquer nova tecnologia que surge, novos comportamentos são exigidos

Dia desses estava pensando sobre a relação de tempo, espaço e tecnologia. Precisamente como cada vez mais a tecnologia mexe com a noção de tempo e de espaço. O que despertou inicialmente a reflexão foi assistir projeções imersivas sobre a ocupação de parte da Península Ibérica, que incluíam maquetes holográficas, com elementos tridimensionais.

O material mostrava outro tempo da humanidade. Só que o uso da tecnologia nos fazia parecer tão dentro da história que, por segundos, foi possível esquecer a longa passagem das eras entre a arte rupestre e a inteligência artificial. Na imaginação estimulada pela tecnologia, o passeio entre as diferentes evoluções mostrava, com naturalidade, a caminhada humana.

Veio à mente que aqueles homens e mulheres, com trajes de roupas de animais, representados na produção de alta tecnologia, eram serem humanos no seu espaço, às voltas com seu tempo, como devemos ser em todas as épocas. Não são apartados de nós. Apenas continuamos a caminhada que eles iniciaram.

Mas nem todos conseguem entrar na linguagem do seu tempo e espaço. O homem que não soube usar a machadinha, por exemplo, morreu atacado por um animal selvagem. Ele não percebeu a importância de falar a linguagem da sua era e também não foi protegido por um parceiro que aprendeu primeiro. As evoluções que o homem imprime à tecnologia nos fazem medir o ser pelo uso da linguagem tecnológica no paralelo em que o espaço é moldado pelo seu tempo.

Nos dias atuais, temos dois tipos de excluídos da tecnologia. Os que se auto excluem e os duplamente excluídos. No primeiro caso, são adultos, alfabetizados, que se negam a entender até mesmo os seus celulares e delegam o seu caminhar tecnológico aos mais jovens. Decretam, assim, não estarem aptos aos desafios surgidos no seu próprio tempo. Se negam a caminhar na construção de suas próprias “machadinhas”.

Os duplamente excluídos são os que não sabem escrever nem o próprio nome e, assim, não conseguem trafegar em todas as nuances da tecnologia. O analfabetismo ainda é uma realidade para mais de 750 milhões de jovens e adultos, no mundo todo, segundo dados da Agência Brasil (2019).

Se a tecnologia induz a humanidade a fazer descobertas e inovações cada vez mais rápidas, se faz necessário também preparar a sociedade para que possa utilizar o que a tecnologia traz de benefício ao nosso tempo, no espaço que ocupamos.

E é justo aí que a humanidade do nosso tempo anda se perdendo ainda mais. Se a tecnologia nos faz perder a noção de tempo e espaço quando nos encanta com seus avanços, traz também uma perversa realidade de que parte da humanidade está sendo deixada para trás.

Seria fundamental que a “machadinha” da inteligência artificial fosse programada para diminuir a distância entre os que sabem ler e escrever aqui na Terra, e os que projetam seu presente e futuro nas nuvens tecnológicas.

Progresso para quem mesmo?

Foto do Ana Márcia Diógenes

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