Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Tempos atrás, logo nos primeiros dias após ser mãe pela primeira vez, uma amiga disse ter certeza de que sentiria uma saudade enorme do período inicial de convivência com o bebê. Falou também que estava convencida de estar vivendo um momento tão especial, que talvez nunca tivesse aquela mesma sensação de novo. Enquanto vivenciava, já estava saudosa.
Ela brincava que sofria de “saudade antecipada” diante da percepção da delicadeza que é a relação com um recém-nascido. Desde a dependência de cuidados à compreensão de que cada atitude pode ser fundamental para a formação daquele ser.
Esta semana a palavra saudade me veio ao pensamento por diferentes sentimentos gerados pelo noticiário.
Veio trazida por temas como a tragédia da queda do avião que vitimou todos os 62 passageiros no interior de São Paulo, o impacto na vida dos familiares. Veio com os atletas das olímpiadas que ficaram semanas convivendo em Paris e que sentiam a falta de parentes. E ainda pelo registro em perfis do Instagram sobre a saudade de pais que já faleceram, por ocasião do dia festivo do último domingo.
Uma das postagens remetia à saudade do que poderia ter sido, ao se referir a um pai que nunca conheceu. Mesmo a mãe exercendo os dois papéis, é comum se deparar com pessoas lembrando de eventos na infância em que o melhor amigo dava a mão ao pai e elas à pãe, como é conhecida a mãe que se desdobra para atuar também como pai.
Fui procurar mais pelo sentido da palavra saudade nas redes sociais. Uma definição que mais repete é de ser o sentimento gerado pela distância, ou ausência, de alguém ou algo. Teria origem no latim e estaria relacionada ao que representa a solidão causada por esta ausência.
Fiz uma busca também por imagens. As mais frequentes são fotos ou desenhos de alguém, de costas, virado para o horizonte, para o pôr do sol, com o olhar perdido, tentando atravessar janelas. Ou trilhos de trem sem qualquer presença humana por perto, como se tivessem levado para longe o que valesse a pena ser visto.
E, ao clicar em vídeo, o que mais se vê são clipes de música abordando, principalmente o estilo sofrência. A que aparece no topo da busca tinha mais de 7,4 milhões de seguidores. Fiquei imaginando se a maioria dos que seguem músicas assim tem realmente saudade de algo ou alguém, do que ainda está vivendo, viveu ou do que não viveu, ou simplesmente é porque o estilo está (ainda está?) na moda.
O que ficou em mim depois de tanto ler, ver, ouvir sobre saudade é que este sentimento é tão pessoal quanto a nossa própria digital. É o resultado de como cada um percebe o mundo, as pessoas, as palavras, as vivências atuais - como a mãe diante do bebê está crescendo – ou passadas, pelos que se foram.
Não se julga, não se pesa, não se compara saudade. É ela que fica olhando para o horizonte, parada no sinal que abre e a gente nem vê, no olhar que penetra e se perde na copa das árvores. Se a impressão digital é o resultado das papilas, que são elevações da pele, a saudade é o caminho do sentir que se eleva no nosso afeto.
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