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Mudanças climáticas agravam infância invisibilizada
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Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza

Mudanças climáticas agravam infância invisibilizada

Quanto mais vulneráveis, mais expostas estão as que já carecem de solidariedade da sociedade e de políticas públicas
Tipo Crônica
FORTALEZA, CE, BRASIL, 11.10.2021: Crianças pedindo esmola no sinal da avenida Antônio Sales com a rua Osvaldo Cruz
 (Foto: (Thais Mesquita/OPOVO))
Foto: (Thais Mesquita/OPOVO) FORTALEZA, CE, BRASIL, 11.10.2021: Crianças pedindo esmola no sinal da avenida Antônio Sales com a rua Osvaldo Cruz

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Crianças. Pela condição de sujeitos em formação, as delicadezas inerentes ao processo de crescer as deixam mais fragilizadas diante de diferentes situações. Seja em relação às doenças, à violência de pais, cuidadores, vizinhos e estranhos, ou às mudanças climáticas provocadas pelos adultos. Em praticamente todos os temas as crianças são as mais penalizadas.

A divulgação, na última segunda-feira, 23, de um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) comprova isso: no Brasil, 33 milhões de crianças estão diante de, pelo menos, o dobro de dias extremamente quentes se comparado ao que seus avós viveram. Neste estudo, foi confrontada a média da temperatura na década de 1970 com a dos anos 2020/2024.

São elas, as crianças, as primeiras a serem arrastadas nas enchentes, as que menos conseguem se proteger em incêndios. As que têm a capacidade respiratória mais afetada por fumaças provocadas em incêndios ambientais, as que têm diarreia crônica, as que ficam desnutridas durante as secas.

O impacto no aumento da temperatura que afeta as crianças não é o mesmo que incide nos adultos, principalmente quando, à idade, se soma a situação socioeconômica em que estão inseridas. As que já se encontram em vulnerabilidade são afetadas de forma mais direta. Em outras palavras, estarão ainda mais à margem de políticas públicas.

Ao ler o levantamento feito pelo Unicef não pude deixar de pensar nas que vivem em situação de rua, nas que estão na segunda ou terceira geração de habitantes de calçadas das nossas cidades. Nas que enfrentam calor ou frio, invisibilizadas com uma esmola quando é conveniente, ou registradas em números para embasar projetos que não alcançam suas necessidades sociais e financeiras.

Antes da pandemia da covid-19, em 2019, estudo desenvolvido pela ONG Visão Mundial para conhecer o número de crianças em situação de rua no País, chegou à conclusão de que 70 mil delas enfrentavam esta realidade. Como a pandemia fez com que inúmeras famílias perdessem seus empregos, fossem despejadas e passassem a tentar sobreviver nas ruas, a conta deve estar bem maior.

Poucas crianças que estão com suas famílias em situação de rua vão à escola, são vacinadas, têm acesso à água de qualidade, comem o que é minimamente recomendado para seu crescimento físico. Estão crescendo em condições que afetam o seu equilíbrio emocional.

Elas não são invisíveis. Elas existem. Estão nas calçadas e, às vezes, até abaixo delas. São invisibilizadas por grande parcela da sociedade, que as associam a furtos, e pelos governos, uma vez que as ações desenvolvidas não têm repercutido para uma mudança significativa neste cenário.

O pior é que, quanto mais vulneráveis, mais são afetadas pelas mazelas socioambientais.

A vida das crianças, principalmente das invisibilizadas, pede que as enxerguemos antes que as variações do clima as deixem realmente invisíveis para sempre.

 

Foto do Ana Márcia Diógenes

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