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Ser ou não ser marionete no jogo eleitoral
Foto de Ana Márcia Diógenes
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Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza

Ser ou não ser marionete no jogo eleitoral

A eleição de domingo pareceu desanimada, mas o segundo turno é uma nova caminhada que espera a todos por uma política mais saudável
Tipo Crônica
2º turno das Eleições 2024: André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) disputam a Prefeitura de Fortaleza (Foto: Samuel Setubal/O POVO)
Foto: Samuel Setubal/O POVO 2º turno das Eleições 2024: André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) disputam a Prefeitura de Fortaleza

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Achei o domingo de eleição muito desanimado. Poucos carros na rua, raras pessoas com blusas ou adesivos para defender seus candidatos. Uma certa apatia pairava no ar e as filas mais ralas pareciam indicar relutância de alguns em sair de casa para votar.

Conversei com amigos sobre impressões que tiveram sobre o domingo. Vou compartilhar sem citar nomes de candidatos ou partidos. De saída, ouvi que o interesse é maior quando envolve escolhas em níveis federal e estadual. Outros, que os eleitores consideram política algo tão distante deles, que não se envolvem, não vibram.

Ouvi também pessoas apontando para a descrença no processo de disputa entre candidatos, alegando que não há debate em torno de ideias. E que as estratégias marqueteiras sobrepujam a definição de temas que os postulantes deveriam argumentar e a defesa de propostas para a cidade. Ou seja, muita ação imagética e pouca essência.

Aspectos de certas campanhas realmente parecem criados para desanimar: cachorro que elegeu alguém antes e agora torce pela queda; óculos, com cor chamativa e brilho, passando de rosto em rosto de candidatos e apoiadores para dar ideia de juventude e leveza; divulgação de atestado falso relacionando candidato a drogas, assinado por médico que já morreu; candidato defendendo que mulher não ganhe igual a homem, que mulher não vote em mulher.

Nas redes sociais, quem ousa comentar fatos, mesmo absurdos como estes, recebe comentários que repetem o número do candidato que está sendo criticado, como se fosse uma lavagem cerebral. Ou são incriminados como discípulos de um partido que marqueteiros querem passar como escória do País.
Opiniões vazias, sem argumento, sem preparo... Na mesma linha de um candidato que monta sua campanha só em torno de imagens, frases de efeito, sem propostas que mereçam destaque. Sem essência.

Este esvaziamento pode induzir o cidadão - aquele que deveria usar seu voto de forma consciente, a partir de propostas que o candidato fez - a se distanciar do exercício democrático do voto. Vai por ir, vota para não ficar à parte das obrigações legais, depois retoma o estado que alguns políticos querem que ele assuma: ser caramujo diante das reais discussões.

Faz nojo ver como alguns candidatos passam o rodo com suas atrocidades e levam junto até mulheres que acabam votando em quem não defende seus direitos. Só que, quanto mais a situação chega a este ponto, mais se torna necessário que o eleitor crave seu voto embasado na democracia.

Os que querem apenas se locupletar, ganham com a desistência dos bons. Apostam no cansaço, no afastamento, em encher cabeças de vento com mentiras sobre moral e bons costumes. E aí o perigo se instala. Quanto mais o cenário fica esvaziado, mais pegam força.

Uma frase atribuída ao filósofo e matemático grego Platão, representa, para mim, o perigo que todos corremos quando alguns desistem de brigar pelos bons candidatos, por uma política mais saudável: “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”.

Você vai aceitar ser marionete no jogo eleitoral? 

Foto do Ana Márcia Diógenes

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