Cientista política, professora e pesquisadora. Doutoranda em Ciência Política na Universidade de Brasília, mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí, pesquisa políticas públicas. Faz parte da Red de Politólogas e da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas. Escreve sobre política, literatura e psicanálise
Há no Brasil uma sanha de parte da imprensa e até mesmo de cientistas políticos em olhar para as eleições municipais como um reflexo da polarização nacional entre petistas e antipetistas ou bolsonaristas e antibolsonaristas
A segunda-feira depois do primeiro turno das eleições chegou e com ela, a ressaca de vitórias e derrotas. Dos resultados que acompanhei, fica o aprendizado de que a política local tem uma lógica própria, que se relaciona com as disputas nacionais, mas não necessariamente é determinada por elas. Seja numa grande capital, seja numa cidade pequena, a vida política tem história e sentido singulares, de forma que analisar o desempenho eleitoral dos partidos e figuras políticas não escapa de uma customização.
Os fenômenos políticos são, a despeito da opinião que todo cidadão pode ter, passíveis de análise científica e explicação refutável. Cabe à ciência política, como área do conhecimento, se debruçar sobre os métodos e técnicas de pesquisa mais adequados para investigar a realidade e sobre a elaboração de teorias com maior capacidade explicativa para o que acontece, por exemplo, nas eleições.
Há no Brasil uma sanha de parte da imprensa e até mesmo de cientistas políticos em olhar para as eleições municipais como um reflexo da polarização nacional entre petistas e antipetistas ou bolsonaristas e antibolsonaristas. Esta chave explicativa é bastante útil para compreender o mapa eleitoral dos estados brasileiros desde a redemocratização, especialmente em 2018, com a ascensão do bolsonarismo como uma força política que aglutinava o antipetismo e o expandia rumo à extrema-direita fascista. Entretanto, a ideia de polarização não é aplicável aos detalhes da disputa local nas mais de cinco mil cidades brasileiras, pois são casos demais para uma variável apenas.
É importante que cientistas políticos Brasil adentro se dediquem a estudar as eleições municipais, testando teorias com casos locais ao invés de deduzir que o voto para presidência é equivalente ao voto para prefeitura. Da mesma forma, é bastante perigoso ler o resultado de 2024 como uma avaliação do governo federal ao analisar o desempenho de candidaturas do partido do presidente. Há correlação, é verdade, mas não necessariamente causalidade. Por isso, aponto aqui a necessidade de pensar os fenômenos políticos locais a partir de uma lógica mais complexa; sem dúvidas, a democracia brasileira é beneficiada quando se produz ciência política de maior qualidade e diversidade.
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