Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Assim como tem capacidade de ser uma ferramenta de redenção, o futebol faz parte de um cenário tóxico de violência. Eximir a figura do torcedor é fazer vista grossa à recorrência de agressões neste meio
A cada ato de violência perpetrado em estádios de futebol, ou pelo menos dentro do contexto de obsessão esportiva, surge uma voz sensata que decreta: "Quem faz isso não é um torcedor, é um vândalo/bandido/criminoso".
Quantas agressões teremos de ver até admitir que a violência é parte ativa daquilo que entendemos por disputa esportiva? O quanto teremos de assistir até lidarmos com o fato que nutrimos ódio e paixão futebolística com a mesma força? Será que teremos de esperar um jogador de futebol ser assassinado por um torcedor — do time da vítima ou do rival, não faz diferença — para acordar?
A relação do brasileiro com o futebol não é saudável. Talvez a obsessão pelo próprio time — que desbunda no desejo de fracasso do rival — tenha a ver com a própria carência enquanto povo. O esporte é a chance de extravasar frustrações. Quando elas se acumulam, a violência aflora. E esse ódio vai servindo de nutriente mesmo para os mais jovens torcedores, acostumados ao ambiente tóxico de estádio povoado por xingamentos (quase sempre machistas ou homofóbicos) e uma atmosfera que tanto rima com amor, quanto exala ira.
Não precisamos retroceder nem uma semana para uma coletânea horrível de episódios patéticos. Quinta-feira, 24 de fevereiro, Salvador (BA). Antes de Bahia e Sampaio Corrêa-MA iniciarem jogo da Copa do Nordeste na Arena Fonte Nova, torcedores jogaram uma bomba dentro do ônibus da delegação baiana. O goleiro Matheus Fernandes, principal atingido pelos fragmentos, podia ter ficado cego.
Dois dias depois, sábado, 26, foi a vez do ônibus do Grêmio-RS ser atacado. Uma pedra destruiu o vidro do coletivo, atingindo o meia Villasanti no rosto. O atleta paraguaio teve um traumatismo craniano e uma concussão. Podia ter morrido. Desta vez, ao que parece, foi violência temperada por rivalidade, em vez de "fogo-amigo". O Tricolor ia enfrentar o Internacional-RS na casa do rival, o Beira-Rio, em Porto Alegre (RS).
Nessa segunda-feira, parte da torcida do Ceará chegou a patinar na própria indignação após a eliminação no Campeonato Cearense diante do modesto Iguatu. Por bem, o ápice foi um empurrão no zagueiro Messias. Lamentável, mas em menor escala. Teve ainda caso de violência em Curitiba (PR) e em Recife (PE), envolvendo torcedores de Paraná e Náutico, respectivamente.
Agora eu pergunto. Quantas vezes vimos torcidas organizadas invadirem sedes de clube para "cobrarem" atletas? Ou objetos atingirem jogadores em campo? Ou alguém ser ameaçado por jogar mal? É difícil dizer que esses casos são exceção. Claro, é uma minoria. Mas uma minoria barulhenta e, por vezes, protegida sob as asas de dirigentes.
A violência não é exceção na sociedade brasileira. Ela é regra. O futebol é que pode ser um caminho de divergência. A gente precisa se educar a não odiar para construir um caminho saudável enquanto sociedade.
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