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Racistas merecem o silêncio; vítimas merecem solidariedade
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

Racistas merecem o silêncio; vítimas merecem solidariedade

Racismo não tem graça alguma e ainda assim quem circundava o racista argentino em River Plate x Fortaleza ria daquilo. Por outro lado, torcida do Liverpool homenageou rival Cristiano Ronaldo após morte do filho
Torcida do Fortaleza foi alvo de gesto racista no Monumental de Núñez (Foto: Staff images /CONMEBOL)
Foto: Staff images /CONMEBOL Torcida do Fortaleza foi alvo de gesto racista no Monumental de Núñez

Como autêntico defensor do "mimimi de minorias", eu podia criticar o torcedor racista de River Plate x Fortaleza para tentar puxar aquela discussão empoeirada sobre "limites do humor" — repetida à exaustão depois do episódio da bofetada de Will Smith em Chris Rock. 

Existe um ponto que me incomoda mais. Racismo não tem graça alguma e ainda assim quem circundava o racista argentino ria daquilo.

As discussões sobre humor tendem sempre ao político-ideológico, onde o calçado aperta mais. Vou pro mais básico: o principal, se não o único, pressuposto da comédia é a graça. Enquanto tiver gente rindo de piadas preconceituosas, ainda existirão comediantes racistas.

Para quem não viu, um torcedor River Plate exibia uma banana — a fruta — para a torcida do Fortaleza durante a partida entre os dois times pela Copa Libertadores. O fato não é novo. Pelé, ainda na década de 1960, relatava gritos de "macaquitos de Brasil". Em espanhol, diga-se, "macaco" é "mono", então havia um esforço deliberado para que os ofendidos entendessem que estavam sendo atacados.

Mas era 1960, e a sociedade avançou, né?

O melhor é que, de fato, há avanços. Há revolta, há resposta bem humorada, há, sobretudo, solidariedade. Os torcedores do Fortaleza retrucaram com provocação — de jeito mais civilizado, mencionando a diferença de câmbio entre real e peso. Os argentinos até ensaiaram uma queixa. Vi comentário no Twitter que tentava igualar as provocações. Basicamente, o tuiteiro argumentava que os cearenses estavam "ignorando as pessoas que morriam de fome por causa da inflação". Isso ele dizia para defender alguém que desperdiçada uma banana ao jogar em brasileiros.

O sujeito em questão foi identificado pelo River Plate e deveria ser banido dos estádios. Aliás, devia experimentar o convívio em sociedade de forma mais moderada, já que aparentemente não é civilizado o bastante para entender que racismo é algo abjeto. Por outro lado, ao se provar um completo imbecil, o torcedor desperta boas réplicas.

O Ceará publicou nota pública em solidariedade ao Fortaleza, mostrando que racismo é ir longe demais. Existem coisas maiores do que rivalidade. Talvez essa conclusão seja o que devia ser guardado do episódio.

O futebol é campo fértil para tanto banalidades, quanto grandezas. Ninguém pode fechar os olhos para o que há de incrível. Cristiano Ronaldo perdeu um filho, algo que nenhum ser humano deveria enfrentar. Ontem, o time dele jogou contra o Liverpool, fora de casa. A torcida mandante homenageou o rival, cantando que ele "nunca andará só". Uma cena linda. 

Rivalidade faz parte. Piadas e provocações também. Fico com o futebol da solidariedade e das boas histórias. Aquele em que rivais não hesitam em estender a mão em solidariedade.

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