Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Dizem que moral é o que você faz quando os outros estão olhando e caráter é a essência de quando talvez ninguém veja. Homens com poder aproveitam brechas para silenciar, mas merecem um julgamento justo
Foto: AFP / DANIEL RAMALHO
O brasileiro Thiago Seyboth Wild foi indiciado por supostas violência psicológica, injúria, ameaça e agressão a ex-namorada
"Eu não sou punitivista, mas..."
Já cansei de ler tal frase, repetida ao infinito após a soltura de homicidas como goleiro Bruno ou Guilherme de Pádua. E até respeito o sentido em que ela é empregada. É usada por quem, por mais que defenda os direitos humanos, ainda sente alguma dor ao ver alguém que julga culpado sair livre. Mas, vamos traçar um paralelo famoso. Se alguém diz "Eu não sou racista, mas...", isso significa que esse alguém é racista.
Nesta semana, o tenista cearense Thiago Monteiro venceu o georgiano Nikoloz Basilashvili, acusado de ameaçar uma ex-namorada com uma faca. No "milionário e esclarecido" tênis, lembro ainda do caso do alemão Alexander Zverev, suspeito de agredir a ex, do jovem brasileiro Thiago Wild, indiciado por supostas violência psicológica, injúria, ameaça e agressão à ex-esposa e ainda a condenação do ex-craque indiano Leander Paes por acusações parecidas. Parece que passam longe de ser exceções, né?
Dizem que moral é o que você faz quando os outros estão olhando e caráter é a essência de quando talvez ninguém veja. Homens com poder aproveitam brechas para silenciar, principalmente quando criam uma estrutura de co-dependência financeira para as vítimas. Mas, entrando na presunção da inocência, eles merecem um julgamento justo.
A pegadinha é que a lei parece só tratar de forma justa quem tem poder. E a tal da presunção da inocência parece amparar sempre a mesma "maioria".
O jornalismo segue alguns critérios — ainda que esqueça deles às vezes. Um deles é a gradação que dei aos casos de Basilashvili, Zverev, Wild e Paes. Cabe à Justiça decidir se são culpados, como julgou Bruno e Guilherme de Pádua.
A presunção de inocência, entretanto, não tira o direito de o indivíduo se revoltar e tomar julgamentos precipitados — e não necessariamente são errados.
Novo treinador do Ceará, Lucho González foi acusado de ameaçar matar a ex-esposa. E venceu na Justiça um processo por calúnia.
Como pessoa, eu quero sempre ampliar a voz de uma minoria e assumo como verdade tal acusação. Mas ele é inocente perante a Justiça. A Justiça acatou evidências de crime de honra contra ele.
Claro, pode sempre ser uma narrativa bem sucedida de advogado da parte poderosa. A corrupção pode ainda corromper o processo. O difícil é onde traçar a linha. Eu tenho duas. A de ser humano, que não consegue resistir à sanha punitivista quando impelida por empatia às minorias, e a de jornalista, que insiste em basear tudo em fatos e usar termos que desviem de pré-julgamentos.
É insuficiente, como a Justiça humana sempre será.
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