O mesatenista homem brasileiro da seleção feminina do esporte
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
O Brasil conquistou um feito inédito no tênis de mesa. E, desta vez, não foi Hugo Calderano, o melhor sul-americano da história do esporte dominado por chineses. Quem fez história foi Luca Kumahara.
O ranking é relativamente modesto. O mesatenista é o 144º do mundo no simples e faz parte da 95ª melhor dupla. O que faz o caso de Luca ser único é que ele é o primeiro homem a figurar nos rankings femininos do tênis de mesa.
Agora, a explicação. Luca é um homem trans. Sempre foi, mas o fato só passou a ser conhecido neste mês. No fim de semana passado, ele competiu pela primeira vez usando o nome social. Antes, usava o nome de batismo, feminino, que opto por não revelar (apesar de ser público e ainda constar no site da Federação Internacional de Tênis de Mesa).
Pode parecer hipocrisia defender a participação de Luca em competições femininas, enquanto defendo testes de inclusão de mulheres trans também no feminino. Aqui, portanto, é importante fazer as distinções necessárias. Peguemos Tiffany, do vôlei, como outro lado.
Apesar de viver uma transição de gênero, Luca decidiu adiar o início de qualquer tratamento hormonal. Pediu apenas a retificação do nome, que estreou no esporte nesse fim de semana, pela Liga Espanhola. Assim, "endocrinologicamente" falando, não existe nenhuma vantagem de Luca frente as mulheres.
Tiffany é diferente. Ela usa bloqueadores e reposição hormonais. Assim, hormonalmente ela se adequa ao feminino — o que não elimina a controvérsia sobre "vantagem" de alguém que cresceu com níveis mais altos de testosterona. Assim, a jogadora de vôlei teria uma tremenda desvantagem se jogasse entre homens, além dos possíveis constrangimentos.
Luca está em busca de vaga para participar de mais uma Olimpíada. A adaptação hormonal e o nível de competitividade masculinos seriam uma demanda brusca, enquanto ele está acostumado a disputas com mulheres. Assim, o plano dele é iniciar tratamentos hormonais e fazer a transição para competições masculinas depois de Paris-2024.
É o primeiro caso de pessoa trans no tênis de mesa. E é um raro registro de homem trans, que torna o esporte mais diversificado e o debate ganha maior substância.
Caso a vaga para a Olimpíada seja confirmada, Luca será o primeiro homem do tênis de mesa feminino. E se juntará a nomes como Alana Smith (skate) e Quinn (futebol) como pessoas em transição, mas sem alteração hormonal que decidiram permanecer no esporte feminino. Ambas se identificam como pessoas trans não binárias.
O esporte — o mundo — fica mais diverso com a inclusão. Que Luca seja muito feliz desbravando esses novos mares.
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