O início da Copa do Mundo do Catar-2022 já está dobrando a esquina e, com ela, vem férias da coluna — o que infelizmente não inclui o colunista. Com a chegada do Mundial, começam a pipocar comentários sensatos e absurdos, opiniões embasadas e chutes absurdos. Pitacos sobre um assunto que interessa bilhões de pessoas.

O ultraliberal Maurício Macri, cuja família ficou ainda mais milionária por ser colaboracionista da ditadura no país vizinho ao Brasil, tem uma relação antiga com o futebol. Pode-se dizer que foi o presidente do Boca Juniors na era mais vitoriosa dos xeneizes. Era o Boca de Carlos Bianchi, com Riquelme, Palermo e Schelotto.

Pois bem, anos depois Maurício Macri conseguiu o impossível: venceu os peronistas numa eleição presidencial. Em 2015, ele derrotou o governista Daniel Scioli e se tornou o sucessor de Christina Kirchner. Quatro anos depois, viria a perder a reeleição, ainda no primeiro turno, para Alberto Fernández — peronista que tem Kirchner como vice.

Macri representa muito do que se lê como liberalismo no Brasil e na América Latina. É apenas um conservador com verniz de moderno. Tem uma plataforma de governo contra impostos para ricos, enquanto torce o nariz para políticas socialmente liberais. Isso nem soa paradoxal para o liberalismo à 2022. Mas é.

Digo isso para contextualizar a análise sobre favoritos à Copa do Mundo. Citou o Brasil, claro. E Portugal. França, obviamente. E "Alemanha que nunca pode ser descartada porque é uma raça superior, sempre jogam até o final".

Que me desculpem os defensores, mas não existe outro contexto para a frase se não o discurso nazista de superioridade da raça. Os argentinos, um ótimo povo em média, têm como calcanhar de Aquiles essa mania de se dizer europeu. De se ver como branco, superior. O que, claro, rende uma série de episódios de racismo nos estádios contra brasileiros.

Macri é um líder. Um ícone. E não teve vergonha de proferir um discurso supremacista em rede nacional. Eu me pergunto a que ponto a sociedade argentina chegou para permitir isso. A Argentina, que tem grande população judia. Buenos Aires, uma capital cultural da América Latina e onde ocorreu, em 1994, um dos maiores atentados antissemitas da história.

Argentina para onde centenas de nazistas fugiram após a queda do regime de Adolf Hitler. De onde o oficial nazista Adolf Eichmann foi raptado para ser julgado pelos crimes em Israel.

O discurso é absurdo e pede repúdio. Mas soa banal aqui no Brasil, onde os discursos absurdos por presidentes viraram um passeio no parque. Onde lemas fascistas e integralistas viram slogan de governos.

Eichmann fugiu para a Argentina e acabou punido pelos crimes. Josep Mengele, responsável pelos experimentos em prisioneiros judeus em campos de concentração, fugiu para o Brasil e morreu aos 67, livre, sem responder pelos pecados monstruosos.

livre, sem responder pelos pecados monstruosos.