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A utopia possível de uma arquibancada democrática
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

A utopia possível de uma arquibancada democrática

O acaso jurídico transformou o Couto Pereira no "estádio mais bonito do mundo", segundo definiu o técnico António Oliveira — naquilo que evito ler como galanteio machista
Mulheres e crianças formaram torcida única em jogo do Coritiba (Foto: Divulgação/Rafael Ianoski/Coritiba)
Foto: Divulgação/Rafael Ianoski/Coritiba Mulheres e crianças formaram torcida única em jogo do Coritiba

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Domingo de sol, a família mais tipicamente brasileira se prepara antes de ir ao estádio. Vestidos de verde-e-branco de chuteira a camisola estão as mães e seus filhos e filhas, finalmente livres e seguros para torcer pelo Coritiba.

O acaso jurídico transformou o Couto Pereira no "estádio mais bonito do mundo", segundo definiu o técnico António Oliveira — naquilo que evito ler como galanteio machista. O Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJPR) punira o Coritiba pela briga de torcedores em clássico contra o Athletico-PR, em fevereiro do ano passado. A corte, porém, fez história ao acatar atenuação pedida pelo Coxa Branca. 

Homens adultos seguiram proibidos de ocupar as arquibancadas. Assim, quase 9 mil mulheres e crianças viram e festejaram a vitória por 1 a 0 sobre o Aruko, na estreia do Campeonato Paranaense 2023. Sem os marmanjos, não havia organizadas. Nada de confusão. É como disse um colega: se você exclui homens brancos heterossexuais de 20 a 50 anos da equação, você zera o risco de brigas.

Lembrei do Léo, filho da colega/amiga Sara Oliveira. Ele tem 7 anos e, em outubro último, visitou a redação e escreveu um texto jornalístico sobre algo que o tocava. O relato era sobre as idas ao Castelão e sobre a vontade — e medo — de assistir a um Clássico-Rei. A violência paira mesmo sobre os pequenos.

E fico pensando nesse mundo vil onde crianças não sentem a segurança de gritar gol. A liberdade de ir e vir, entrecortada pela sanha violenta de marmanjo uniformizado.

A sociedade precisa se reavaliar quando nega a crianças o prazer de um jogo de bola. E é triste que uma proibição autorize um espetáculo.

A torcida feminina, infantil, fez história da ideia inovadora da diretoria do Coritiba. E, com o aval jurídico, permitiu um sonho, uma utopia de futebol democrático.

Sugiro neste espaço, para quem se dispor a ler, a nova ordem futebol nacional. Que uma vez por mês, todo time brasileiro seja obrigado a fechar um jogo para mulheres e crianças. Chamemos de Lei Marta, em homenagem à maior das nossas. Ou chamemos de Lei Léo. De Lei Sara.

Quando os marmanjos aprenderem a viver em sociedade, tal qual a meninada e a mulherada, eles podem sair do castigo. Até lá, fiquemos com quem realmente importa.

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