O relacionamento abusivo dos torcedores com o futebol
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
O relacionamento abusivo dos torcedores com o futebol
A relação tóxica de alguns torcedores com o próprio time ficou evidente após um sujeito estúpido invadir o campo com uma criança de colo para agredir jogadores da equipe rival
Foto: WILLIAM ANACLETO/AE
Confusão marcou o fim do jogo entre Inter e Caxias
Futebol, dizem, é entretenimento. Agora, faz tempo que não ouço falar em pancadaria generalizada entre "torcedores" da Marvel e da DC Comics, apesar das décadas de rivalidade entre as duas maiores editoras de quadrinhos de super-heróis. Mas sou velho o suficiente para não menosprezar a estupidez humana e lembro de alguns quebra-paus de gente que gosta mais dos bonecos de uma ou outra empresa.
O que eu nunca tinha visto era alguém levar a própria filha de colo para a confusão. E fico me perguntando sobre esse limite, cada vez mais borrado, entre a paixão e a obsessão. Em suma, sobre o quanto parte da torcida desenvolveu um relacionamento tóxico, abusivo com o esporte.
É sintoma de uma sociedade que vive uma epidemia de feminicídios. O Brasil tem uma sociedade violenta e o contexto de facções, que rendem dezenas de milhares de homicídios por ano, naturaliza ainda mais essa relação com a barbárie. Acaba que a gente esquece do quanto os nossos antigos estádios já eram palcos de "cenas lamentáveis" décadas antes de virarem "arenas padrão Fifa".
Não que isso seja exclusividade brasileira. A tradição de hooligans, ultras e outros grupos de torcedores violentos já vem importada como enlatado europeu. Lá eles só costumam restringir a briga a paus e pedras, limitando o dano a múltiplos traumatismos cranianos. Aqui, a lógica é de gangue, bala, sangue, morte. Tudo em nome do amor à camisa.
O torcedor do Internacional alegou, em depoimento, que queria defender a filha. Isso vindo de um sujeito que foi filmado agredindo um jogador do Caxias que estava de costas para ele. Esse argumento dele faz a defesa do uso de armas de fogo para proteção pessoal soar até pueril — a função da pistola é matar.
Sócio-torcedor, o sujeito foi suspenso pelo clube. Espero que a criança tenha mãe e que essa mãe tenha guarda total da menina. E que o homem cresça e aprenda a viver em sociedade, nem que seja para voltar a ter direito a ver a filha. O Inter segue eliminado.
Quando vejo um homem adulto, com filha de colo, invadir um campo para agredir jogador do time rival, me sinto num vórtice de insanidade. Dá até vontade de dar na cara de quem defende o Zack Snyderverso da DC no cinema.
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