Antes de mais nada, eu queria fazer um pacto. Se eu usasse esse espaço para defender o assassinato do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, eu seria demitido. Não só como colunista, mas especialmente como editor-chefe de Cotidiano do O POVO. O que escrevo é público e, por mais que represente apenas a minha opinião, é algo impulsionado pela plataforma que imprime meus pensamentos.

E nunca, sob qualquer hipótese, eu usaria essa plataforma para incitar um crime.

É importante estabelecer isso porque, dentro de um alcance limitado, sou um pouco figura pública. Portanto, preciso me responsabilizar por aquilo que manifesto. Aqui, na minha vida, nas minhas redes sociais.

Contextualizo isso para falar da punição imposta ao oposto Wallace, do Cruzeiro e da ex-seleção brasileira de vôlei, por fazer uma enquete sobre "atirar no rosto do presidente Lula". O jogador, herói do ouro olímpico na Rio-2016 e bolsonarista de primeira hora, achou por bom tom "conferir" a opinião dos seguidores sobre homicídio.

Por conta da postagem, Wallace foi suspenso pelo Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB) por 90 dias por "ato antiético de promover e incitar a violência por meio da internet e das redes sociais". E me pergunto se a punição seria a mesma se o ataque a Lula viesse num governo Bolsonaro, ou fosse um ataque a Bolsonaro agora no governo Lula — Carol Solberg, do vôlei de praia, recebeu advertência do STJD pela simples menção a "Fora, Bolsonaro" em 2020.

Pode parecer paradoxal, mas lamento ter de discutir Wallace em termos de conduta. Ele foi um jogador brilhante. Maurício Souza, ex-colega de Wallace na seleção e também ultrabolsonarista, é mais um que optou por ser personagem por ideologia. E é ruim ter de torcer ou comemorar punitivismo infrutífero quando a gente acredita em reabilitação. Porque, sejamos sinceros, alguém acha que Wallace vai repensar a forma como se posiciona publicamente depois disso? Ainda mais agora, que está às vias de se aposentar.

Claro que a gente pode entrar nos meandros da "interpretação". Podíamos ser cínicos e fingir que o objetivo não era atacar o petista. Também não serei leviano ao acusá-lo de incitação. Mas a gente não pode tratar um marmanjo de 36 anos — ligeiramente mais velho que eu — como criança, incapaz de medir o peso das próprias palavras. No fim, apostaria que ele só queria aquecer os ânimos ideológicos dos fãs, afagar o ego dos colegas bolsonaristas. Mas incitação ao crime não é esporte.

Dia desses chamei da Bíblia de "tal livro". Um leitor ficou enfurecido porque isso denotaria desprezo meu à obra. Para ele, isso seria até intolerância religiosa. Para mim, "tal" é uma forma de se referir a um termo usado anteriormente sem repetir a palavra. Interpretação independe de intenção. Se dei margem para ele entender assim, erro meu de não ter sido mais claro. Minha verborragia sempre levanta suspeita de deboche. Falha minha. É direito dele se sentir ofendido.