Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Foto: OSCAR DEL POZO / AFP
Técnico Carlo Ancelotti no jogo Real Madrid x Chelsea pela Champions League
A torcida de futebol é onde nascem as mais tortuosas certezas. Enraizado na imprevisibilidade, o esporte mais popular do mundo dá vazão para as teses mais heterodoxas. E, para o mais extremado adepto, a única proposição correta é a dele próprio e que a razão vá às favas.
Tenho um ódio particular sobre a tal "Lei do Ex" — a lei que quase sempre falha, mas só é lembrada quando acerta. Em suma, ignoremos todos os erros, abracemos os raros acertos e nos casemos com a loucura do viés de confirmação, no qual só vale o que sublinha o que penso.
Pode parecer que se trata de uma minúcia. Mas viés de confirmação é regra. É a análise dos loucos — e os loucos somos todos nós, torcedores. É o que justifica as insanas superstições, tanto para quem as performa nas arquibancadas, quanto para quem as performa em campo. "Meu time nunca perde quando uso essa cueca". "Se eu adentrar o gramado com o pé direito, vou jogar bem". "Se eu fechar os olhos na hora da batida de pênalti, a bola vai pra fora".
E aí a gente chega na (futura) contratação do italiano Carlo Ancelotti pela seleção brasileira. É a oportunidade perfeita para analisar profundamente sob dados enviesados. A verdade fica em algum lugar entre as certezas dos apaixonados pela tese que é um desrespeito esperar dois anos por um técnico estrangeiro e a dos que têm certeza que escolha do europeu é a chave do hexa.
Coitado do analista sério, que não pode se inebriar no viés de confirmação para sublinhar os próprios preconceitos. Seria mais fácil ignorar qualquer argumento lógico e se entregar à xenofobia — ou ao ufanismo xucro — para desqualificar o maior campeão da história da Liga dos Campeões. "O Brasil nunca ganhou uma Copa do Mundo com um 'gringo' no comando", grita, com a certeza de que tem uma enviesada razão.
"Bom, o Brasil nunca perdeu um Mundial enquanto dirigido por o treinador não brasileiro", refuta o otimista tão enviesado quanto.
O brilhantismo pragmático de Tite não fez a seleção passar das quartas de final em duas Copa do Mundo, mesmo com toda a estabilidade ofertada. "Não dá pra ganhar depois de quatro anos em uma seleção", diria o crítico, ignorando os casos do alemão Joachim Löw (2014) e do francês Didier Deschamps (2018).
"Nunca que um técnico que assuma no meio de um ciclo ganharia uma Copa", retruca o outro, fechando os olhos para os três meses de Zagallo em 1970 ou o maluco ciclo de quatro técnicos em 2002. "O Brasil nunca foi campeão com um técnico no ciclo completo!"
A verdade é que torcer é um exercício misto de viés com futurologia. De certezas temperadas por superstições.
De minha parte, tenho certeza do título em 2026, não importa a circunstância. Sempre aposto na seleção, "e que a razão vá às favas". A última vez que duvidei da Amarelinha foi em 2002.
Vai ver o problema sou eu.
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