Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Na semana passada, Fred Bandeira, diretor jurídico do Ceará, criticou os gritos homofóbicos das torcida. Afinal, por que há quem defenda que o que é absurdo fora de estádios deveria ser tratado como aceitável dentro?
A homofobia brasileira é uma prima próxima do racismo europeu.
O fato — ou a tese interpretada por mim como fato — não visa ignorar o quanto a sociedade brasileira é ainda racista. Mas, ao que parece, esse debate tem sido vencido. Um sujeito imitando um macaco para atingir um jogador negro seria um escândalo no Brasil. Na Europa, é uma quarta-feira.
O europeu que frequenta estádios parece incapaz de dimensionar, de entender o que é racismo e por que ele é errado. É um misto de uma alienação alimentada pelos anos (séculos!) de privilégio, com a incapacidade de desenvolver empatia com aquilo que não parece com um espelho e ainda somado à arrogância/insegurança de se achar melhor que o outro.
Hoje, porém, o Brasil tem aprendido a se solidarizar com os atletas negros — notadamente com o mais talentoso do futebol nacional na atualidade, o Vinícius Jr. —, de forma a repudiar os ataques de europeus. E de argentinos, chilenos, uruguaios etc. Nem parece que, menos de 10 anos atrás, o goleiro Aranha praticamente teve de abdicar da carreira por ter se revoltado contra o racismo. A duras penas, o país tem aprendido que, pasmem, o preconceito racial é errado.
A homofobia segue como, no máximo, um incômodo que pode afetar meu clube. "Poxa, que chato. Sou contra xingarem o adversário de gay. Mas aí a tirar ponto do meu time, é demais, né?"
Na semana passada, o diretor jurídico do Ceará, Fred Bandeira, se posicionou contra manifestações homofóbicas da própria torcida do time do coração dele. "Nós temos um grito histórico, que todo jogo, principalmente nos clássicos, a torcida do Ceará, que tem um certo tom de homofobia. Isso tem que acabar. Temos que ir para o estádio para torcer e ver nosso time sair vitorioso do gramado."
Achei corajoso e importante o posicionamento. Porque a homofobia não é errada só quando o rival faz. O racismo não é condenável só quando europeu repete. O estádio não é espaço de exceção jurídica, um excludente de ilicitude da paixão desacerbada.
Já passou da hora de a conivência dar espaço ao compromisso. Esporte não dá margem para opressão. É possível provocar o rival sem xingar a mãe, sem repetir ameaças veladas ao orifício anal, sem sugerir uma ascendência símia. Que o Ceará fale mais dos oito anos de Série C do Fortaleza. Que o Fortaleza repita que o Ceará há de padecer na Série B.
Deixa os negros, as mulheres, os gays em paz.
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