Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Acho que o desafio é não se deixar amortecer. A gente acaba endurecendo para não esmorecer. Acontece com humanos, é estratégia de defesa. Coisa de pinball
Foto: Reprodução/ X
Estudantes de medicina simulam masturbação durante jogo feminino de vôlei, em São Paulo
As redes sociais nos fazem de máquina de pinball. A gente é lançado com força para um ambiente fechado para esbarrar, de cara, no próximo absurdo. Preso na hiperconexão, o Jornalismo tateia uma forma de interpretar o mundo. Filma e repete o choque mais forte da bolinha metálica numa esquina de absurdidade.
Ontem, um amigo me mostrou a página 3 do O POVO, ressaltando o título: "Camilo repudia simulação de masturbação coletiva de universitários". Demorei pra entender. Soou banal a ideia de um ministro da Educação precisar se posicionar publicamente contra os obscenos estudante de Medicina.
O fato é que a gente, bola de pinball, esbarra em tanto absurdo que já se acostumou com o impacto. O que há de se esperar de um país que já assistiu um presidente fazer ode ao próprio pênis durante a comemoração dos 200 anos da independência da nação? Talvez desde então as paredes se aveludaram enquanto se dirigiam ao meu rosto. Perdi a capacidade de ser impactado.
Mas, bem, houve isso. Durante jogos universitários, estudantes de medicina simulavam — ou talvez minha mente esteja amortecendo a verdade dos fatos — masturbação enquanto meninas disputavam uma partida de vôlei. E, pelo que se disse, a cena de jovens balançando os órgãos sexuais em plena quadra são comuns. A absurdidade, inclusive, teria ocorrido em abril na Universidade Santo Amaro (Unisa), em São Carlos (SP).
Na época não houve comoção. Não houve expulsão, ou mesmo inquérito policial. Na semana passada, a absurdidade quicou de volta nas redes sociais e desencadeou reação tardia. Enfim, veio.
Fiquei me lembrando do assassinato da Dandara, aqui em Fortaleza, em 2017. Ela foi espancada e morta no dia 15 de fevereiro. Uma travesti assassinada, como tantas, anônima. Dezesseis dias depois, o vídeo do homicídio viralizou. Gerou revolta. Virou manchete de jornal. É um dos raros transfeminicídios que rendeu condenações no Ceará.
Redes sociais são o fim do mundo. Mas, às vezes, surgem soluções justamente no fim.
Acho que o desafio é não se deixar amortecer. A gente acaba endurecendo para não esmorecer. Acontece com humanos, é estratégia de defesa. Coisa de pinball.
Tem dia que cansa ser um homem gay assumido. Sem querer traçar uma linha de comparação de opressões contra minorias, a ideia de ser mulher nesse mundo me soa extenuante.
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