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Balé da vida LGBTQIA+ no Brasil: um passo à frente, dois atrás
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

Balé da vida LGBTQIA+ no Brasil: um passo à frente, dois atrás

A ideia da coluna era celebrar a tentativa de uma torcida organizada em limpar a homofobia de uma das canções entoadas no estádio. Mas, bem, a vida acontece
Tipo Opinião
Torcida do Ceará. Denúncias e conversas com tentativas de conscientização (Foto: Felipe Santos/Ceará SC)
Foto: Felipe Santos/Ceará SC Torcida do Ceará. Denúncias e conversas com tentativas de conscientização

Ainda que as redes sociais cumpram um papel recorrente de esgoto do mundo, tem dia que elas nos surpreendem positivamente. No início do mês, o X (Twitter) jogou na minha frente um vídeo da Cearamor, maior torcida organizada do Ceará, ensaiando uma nova versão para a música "Liga pro zoológico".

Originalmente, a canção faz aquelas batidas referências pejorativas a sexo anal direcionadas às torcidas rivais. No caso, a TUF, que hoje parece mais dedicada a brigas domésticas com a JGT, outro grupo de adeptos do Fortaleza. Enfim, o ápice, entoado há anos no Castelão ou no PV, era a repetição de que "a TUF é gay, é gay, é gay".

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Pois bem, eis que os versos, digamos, capitulares da homofobia enrustida na torcida ganharam novas rimas. "Matador de leão / no Nordeste é o poder / A TOC aê / Aê / Aê". Por "TOC", leia-se "Torcida Organizada Cearamor". As ameaças, que infelizmente perduram no vernáculo de estádios, ficam mais restritas à metáfora. E a provocação viram autoelogio. É torcer pro próprio time, em vez de se perder no ódio ao rival.

Não é uma revolução. Provavelmente é só uma forma de driblar uma punição. No estádio, a maioria vai ignorar. Mas evita a banalização da homofobia. A Cearamor, ao que parece, tem se esforçado para ir na direção correta.

O relato que recebi é que a estreia do novo grito não veio no jogo contra o Atlético-GO, no próprio dia 1º. Pois que venha no sábado, sob aplausos. Que a epifania de maturidade da torcida empurre a equipe a jogar como um time adulto.

É pena que no Brasil a gente não pode nem mesmo dedicar uma coluna inteira a ver o copo meio cheio. Vem novo golpe a cada esquina. 

Ainda que seja uma decisão inócua e inconstitucional, dói ver o projeto de proibição do casamento igualitário avançar na Câmara. O voto fundamentalista venceu na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados. Com salário pago pelos meus impostos, o relator do proposta, Pastor Eurico (PL-PE), descarregou discurso criminoso em plenário. Homofobia, ressalte-se, é crime.

É triste ter de reiteradamente afirmar a própria existência. Porque a cada virada de página pode surgir alguém querendo negá-la.

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